6. A Morte Na Porta Ao Lado P.1

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26. Ela nunca voltou

JACKIE
Olho para o relógio e eram onze da manhã, horário que Melanie viria até a minha casa para me fazer uma visita para conversarmos em manhãs de sábado, mas ela está a quase um mês fora, a tal viagem com os pais já deveria ter acabado, pois eles voltaram, mas Melanie não. Os pais dela disseram que ela foi direto para o trabalho e ficaria algum tempo sem celular.
Olho o meu celular e procuro a última mensagem dela que diz exatamente isso.

MELANIE: Oi Jackie, eu vou ir para uma viagem de trabalho fora do país depois da viagem com meus pais e vou ter que ficar sem o celular por um bom tempo, mas não se preocupe, volto quando puder.

Depois disso não teve mais nada, mas eu não sou burra, o que devem pensar que sou. Que tipo de viagem de trabalho fora do país é essa que ela nem me falou sobre? E por que teria que ficar sem celular? Não podem me enganar tão fácil assim, caralho, eu sou a porra da Jackie, acham que sou boba?
  - Eu acho muito estranho isso - diz Lucy, deitada de barriga para baixo na minha cama, enquanto Rio arruma o cabelo dela - A gente tem que avisar a polícia.
  - Acho que isso é muito grande pra situação - diz Rio, girando a escova no ar - e podem não acreditar na gente, também porque os pais falariam alguma coisa pra encobrir tudo isso caso tenham feito algo de ruim realmente.
  - Rio tem razão - digo, sentando na cadeira da escrivaninha - Temos que investigar, ver se encontramos alguma pista, talvez.
  - Que tipo de pista? - Lucy pergunta, pegando o espelho e começando a terminar de desenhar a sua sobrancelha - Você tá falando tipo... Uma carta da Mel ou tirar algo dos pais dela?
  - Uma carta não - digo, pegando um papel e caneta - Acho que se fizeram algo, foi de surpresa, mas poderíamos tirar algo dos pais dela sim, vocês duas seriam ótimas pra fazer isso.
  - Podemos embebedar eles - diz Lucy, com um sorriso malicioso no rosto, mandando um beijinho para o espelho, se orgulhando de seu plano.
  - Seria trágico - diz Rio séria, mas logo sorri - mas seria muito legal, e se realmente tiverem feito algo, eles merecem.
  - Eu nunca pensei que os pais da Mel poderiam fazer algo do tipo - falo, levantando e indo até a cama - Eles sempre foram legais e apoiaram ela, e agora estão mentindo na cara de pau, fala sério.
  - Vamos arrumar um jeito de ajudar a Mel se ela precisar - Rio coloca a mão no meu braço - Confie em mim.
Eu não queria ter raiva, conheço os pais da Mel deste sempre, mas eu vi aquela garota crescer, sempre apoiei ela e vê-la conquistando o mundo me deixa tão feliz, mas agora sinto que ela precisa de mim mais do que nunca, eu sinto que ela pode estar precisando de mim e eu estou aqui parada.
Levanto rápido da cama, o que faz Lucy borrar a sobrancelha.
  - Caralho, Jackie - ela diz com raiva, pegando uma haste flexível.
  - Foi mal - digo, e balança a mão em sinal de paz - Eu tô pensando em ir na casa dos pais dela agora.
  - Agora? - Lucy pergunta, ela está com só uma sobrancelha pintada - Posso pelo menos ir pra lá com as duas sobrancelhas na cara?
Rio levanta e pega o celular na escrivaninha.
  - Vou mandar mensagem falando que estamos indo - ela diz - Vou perguntar se podemos almoçar lá.
  - Ótima desculpa - digo, sorrindo.
  - E espero que a gente coma lá mesmo - Lucy diz, fazendo uma cara engraçada enquanto faz o molde da sobrancelha - Porque eu tô sem nenhum puto no bolso pra comprar comida.
Meia hora depois, estávamos na cozinha dos pais da Mel, sua mãe estava cortando cenouras enquanto o pai temperava a carne.
  - Fico feliz que vocês vieram almoçar aqui - Mary diz, entregando algumas batatas para a gente cortar, pois nos oferecemos a ajudar.
  - Que nada - digo, sorrindo - Estávamos falando da Melanie e decidimos passar aqui pra ver como vocês estavam.
  - Que bom que se preocupam com a gente - Jose diz, com um sorriso gentil - Sobre o que vocês falavam?
  - Sobre esse trabalho repentino que a Melanie tive que ir - Rio diz, por um momento achei que ela iria entregar nosso plano - Fico triste que ela teve que se afastar, mas fico muitíssimo feliz por ela estar se dedicando ao trabalho, e acho que sem celular ela pode ter um tempo livre só pra ela.
  - Sim - Mary diz sorrindo, com certeza pensando na filha - Também me orgulho muito dela.
  - Mas tem alguma coisa que vocês não gostam nela? - Lucy pergunta, ela é a mais rápida em cortar as batatas, e ainda assim consegue fazer os melhores cortes.
Mary e Jose se olham, ficam um tempo calados e acabam atropelando a fala um do outro.
  - Bem - diz Mary, coçando a garganta e não olhando para a gente - Tem... Muitas coisas que nos deixam desconfortáveis.
  - Tipo? - Rio pergunta.
  - Vocês sabem que a Melanie já passou por muitas coisas, tanto na infância quanto na vida adulta, todas as coisas de ruins que aconteceram, pessoas ruins que só querem derrubar ela, acho que isso não fez bem pra cabeça dela, me preocupo com o que ela coloca em seu trabalho.
  - O quê? - Lucy larga a faca, ela parecia brava - Você tá falando da arte dela, é como ela se expressa, ela fala de coisas importantes e a música é uma das formas que ela tem pra se sentir melhor em relação a tudo, e você nem deve saber o quanto ela ajuda os outros.
Sempre vi Lucy como essa mulher que coloca a cara a tapa, mesmo quando sabe que é melhor não falar nada ela continua com essa pose poderosa. Mary parece que vai chorar.
  - Espero que você entenda o próximo trabalho dela - diz Rio com uma voz doce, cortando o gelo.
  - Se desculpe - digo no ouvido de Lucy, limpo minhas mãos e me levanto - Eh, eu vou subir pro quarto da Mel, tem algumas coisas que deixei aqui e gostaria de pegar de volta, já que ela não tá aqui pra me devolver.
  - Tá bom, meu bem - diz Mary, limpando as lágrimas rápido para não vermos elas - Só tente não bagunçar nada.
  - Não vou - digo, já subindo as escadas.
Ao chegar no antigo quarto de Melanie, que ela passou um tempo antes da viagem, sinto um soco de nostalgia, o cheiro, a pintura, os móveis estão como ela deixou. Chego na escrivaninha e começo a procurar nas gavetas, mas não encontro nada, no guarda roupa quase vazio o mesmo, nada que possa nos ajudar, talvez ela realmente tenha sido pega de surpresa.
  - Jackie? - Mary me chama lá da cozinha.
  - Sim? - pergunto, saindo do quarto, mas antes pego um chaveiro que dei a Mel no seu aniversário de vinte anos, que estava em cima da cabeceira.
  - Você poderia pegar o meu carregador que tá na gaveta da minha cabeceira?
  - Claro.
Abro a porta do quarto dos pais de Melanie, não entrei tanto aqui, somente algumas vezes quando Mel e eu éramos pequenas e fingimos que esse cômodo da casa era o covil de algum espião do mal.
Vou direto na cabeceira e pego o carregador, mas antes de sair decido procurar nas gavetas, procuro em quase todas, mas uma delas estava trancada.
  - Droga! - exclamei e começo a pensar em alguma possibilidade de abrir aquela gaveta.
Lembro de brincarmos aqui e da Melanie ter pego uma chave em algum lugar, fecho os olhos e começo e refazer os passos dela e acabo indo até um vaso com flores falsas em uma mesinha no canto do quarto, que servia para leitura e dou graças que encontro as chaves. Abro a gaveta e vasculho com cuidado, para não bagunçar, até que acho um papel que me chamou atenção, pelo seu roxo extremo.
"Lavanda - Hotel psiquiátrico"
Que merda! Não acredito no que esses filhos da puta podem ter feito. Tirei foto de todo o folheto e já mando para Lucy e Rio.

Lavanda (Fanfic Melita)Onde histórias criam vida. Descubra agora