7. Fantasmas do passado P.1

75 3 2
                                    

35. Fantasmas do Passado

MELANIE
Que porra que está acontecendo aqui? Eu não consigo entender. Minha cabeça gira e eu sinto vontade de vomitar, queria muito, mas não dava para fazer isso aqui. Antes de chegar aqui, onde eu estava? No carro, sim, consigo sentir o vento batendo no meu rosto, e no meu celular, mensagens para ler e serem enviadas. Uma conversa com Jackie. Como ela poderia saber que eu estava aqui, esse hotel não era o meu destino. Sei que ela não é burra nem nada disso, mas saber exatamente onde eu estou? Ela é incrível. Como eu podia ter esquecido do rosto dela? E o de Lucy, que agora está sem as sobrancelhas desenhadas? Pessoas que fazem parte da minha vida, que são totalmente especiais para mim e eu esqueço delas, esqueci seus rostos e suas vozes. Agora me abraçando e eu sinto que é como se fosse a primeira vez que fizesse isso com elas, sentindo cada toque como se fosse o primeiro. Sentia suas lágrimas no meu rosto, o molhando.
Olho para Gavin, que parecia confuso, mais que o normal. Sei que esqueci por algum motivo que envolvia o hotel, mas não queria pensar naquele monstro, em sua língua na minha nuca e nem em Manuela. Droga, agora estou chorando mais ainda, não só por ter as minhas amigas de volta, ou por elas terem vindo para esse inferno, mas sim por Manuela, lembrar dela dói.
Saio do abraço, Lucy limpando o rosto molhado de lágrimas e rindo muito. Já Jackie não ligava para o rosto encharcado, ela só sorria para mim, passando os dedos por meu rosto e cabelo, como se quisesse relembrar a textura de ambos.
- É você mesmo - Jackie finalmente diz, sorrindo e chorando ainda mais, sua voz é falha, mas ela consegue disser tudo.
- Sou eu - eu respondo, limpando as lágrimas assim que Jackie tira as suas mãos.
- É ela! - diz Lucy, falando um pouco mais alto e levantando os braços.
Nossos rostos estavam inchados pelo choro, todos em nossa volta não entendiam nada, Isabela agarrada com Gavin, Elita junto com Nathalia e Cordélia. Cordélia nos olhava com um leve sorriso no rosto, como se estivesse orgulhosa, mas quando olho para ela, a senhora desfaz o sorriso.
- Como vocês vieram parar aqui? - eu pergunto muito rápido.
- Não sabíamos aonde você estava - disse Lucy, chegando mais perto de mim - Seus pais contaram muita merda e a gente não podia acreditar naquilo, então Jackie decidiu investigar e a gente, junto com a Rio, encontramos informações o suficiente para saber que você estava aqui.
- Vocês vieram aqui por conta própria? - essa informação foi como um tiro, elas arruinaram as vidas delas por mim.
- Tínhamos que fazer isso - Jackie diz, encolhendo os ombros - Não podíamos deixar você sozinha aqui.
- Bem, eu não estou tão sozinha - eu olho para os meus novos amigos, que acenam para Jackie - Mas eu fico muito feliz por você ter vindo aqui.
- E agora... - Lucy se aproxima do meu ouvido e fala bem baixinho - Vamos sair daqui.
Olho para elas e não digo nada, fico bem calada. Se elas vieram para cá por conta própria, poderiam sair quando quisessem? Eu teria que contar tudo, sobre o hotel, meus amigos, as passagens secretas, tudo e mais um pouco. Talvez o pessoal pudesse me ajudar nisso.
Eu me sinto tão culpada por tudo isso. Se não fosse eu, Jackie e Lucy não estariam aqui, não estariam nesse lugar horrível e daqui a pouco elas vão perceber que aqui é mais do que aparenta.
- Melanie - Cordélia se aproxima da gente com um sorriso - Já que você conhece muito bem as novas hóspedes, poderia mostrar o hotel para elas?
- Claro - eu digo sorrindo, segurando as mãos das duas - Vamos começar com o campo.
Puxo as duas para o portão, que Nathalia abre para a gente. Antes de sair, olho para o pessoal, que pareciam preocupados, mas acenaram e sorriram quando olhei para eles.
Do lado de fora, Jackie ficou paralisada, enquanto Lucy ficou super animada e correu mais a frente, com os dedos esbarrando nas lavandas.
- Caralho, que lugar lindo! - disse Lucy para o céu.
- Realmente, muito lindo - Jackie disse, hipnotizada pelo campo.
- Lindo até saber o que se esconde por entre essas raízes - eu falo.
- Então - Jackie começa a andar em direção a Lucy, que estava bem mais a frente, quase perto da árvore - aquela mulher nos chamou de "hóspedes"?
- A Cordélia? - eu me pergunto até lembrar de sua fala - Sim, ela é a gerente daqui. Aqui não nos consideram pacientes, e sim hóspedes, que só vão passar um tempo aqui, um período sabatino, e vão embora renovados.
- E esse período sabatino demora muito? - Jackie pergunta, passando a mão nas lavandas.
- Depende, Cordélia está aqui há trinta anos.
- E quanto tempo você passaria aqui?
- Eu realmente não sei, nem sei direito por que estou aqui, como saberia que estou curada?
Jackie fica em silêncio até chegarmos a Lucy, que rodava em volta da árvore como uma criança.
- Sentimos sua falta, tanto eu quanto Lucy e Rio - Jackie diz, olhando para mim e segurando minhas mãos.
- Eu também senti - não sei se seria o melhor momento para falar que por um certo momento esqueci de suas existências - Onde está a Rio?
- Ela... - Jackie olha para o céu - Está nos esperando.
- Aonde?
- Não muito longe daqui - Lucy diz, ofegante e parando do nosso lado.
- Então, vocês querem sair daqui? - eu pergunto.
- É claro! - Jackie diz - Eu não quase bati nos seus pais por pouco.
- Você brigou com meus pais?
- Quase brigamos - Lucy responde - mas tivemos que manter a linha fina, que não sabíamos ou suspeitávamos de nada.
- Fizeram bem - respondo, tentando lembrar dos rostos dos meus pais - E como vocês pretendem sair daqui?
- Não sabemos - Lucy responde, com um sorriso bobo no rosto.
- Ok - eu digo, me virando.
- Na verdade - Lucy diz - Temos só a parte final, a fuga.
- E como ela seria?
- Seria... Empolgante?
Eu rio, lembrando de momentos bons, junto com esse comentário de Lucy. Eu me viro para elas e as abraço, bem forte, para matar toda a saudade que havia entre nossos braços. Ouvimos barulhos estranhos vindos do céu, que fizeram com que a gente se afastasse para olhar o que estava causando ele. Parte do céu estava escura, uma faixa preta de pássaros cobria o céu azul. Eles não faziam barulhos de pássaros, seus gritos eram humanos, como alguém agonizando de dor. Eles desceram e passaram voando rápido a uns três metros de nós. Algo caiu no rosto de Lucy, que limpou e viu que era sangue. Olhando mais atentamente, via que suas patas estavam cheias de sangue. O que era aquilo?
Jackie chorava e tapava os ouvidos, Lucy também começou a chorar e apoiou a cabeça com força nas minhas costas. Eu estava hipnotizada por aquilo tudo.
- Meninas! - Nathalia gritou, correndo em nossa direção - Venham para cá!
Corremos e parecia com os pássaros começaram a voar em cima da gente, nos perseguindo. Nathalia nos cobriu com seus braços e tentava espantar os bichos.
Ao chegar no hotel, Nathalia foi preocupada até o rosto de Lucy e relaxou ao perceber que o sangue não era dela.
- Vocês estão bem? - Nathalia perguntou, tocando os nossos rostos.
- Sim - Jackie disse, Lucy e eu só concordamos com as cabeças - O que eram aquilo?
- Eu queria saber responder.
Gavin, Isabela e Elita vieram correndo até nós, preocupados.
- Caralho - disse Gavin, tocando nos meus ombros - O que foi aquilo?
- Pássaros - eu respondo - Muitos pássaros.
- Mas gritavam como humanos - Isabela disse.
- Sim, mas não eram de ninguém, eram deles mesmo - Lucy respondeu.
- Como pode algo assim acontecer? - Elita pergunta - De onde vieram?
- Parecia que vieram do fim do campo - Jackie responde.
- Será que a Rio viu? - Lucy pergunta.
- Não faço ideia - Jackie responde, me abraçando, o que incentiva a Lucy fazer o mesmo.
Após apresentar todos um para o outro, Jackie, Lucy e eu subimos para o meu quarto e Jackie já foi deitando na cama.
- Que enjôo - ela disse, o som sendo abafado pelo travesseiro.
- Também estou com enjôo - Lucy diz, olhando para fora da janela.
- É comum isso - eu digo, me sentando na cama - O hotel faz com que vocês sentem isso, é o seu corpo reagindo e lutando contra ele.
- Como você sabe disso? - Lucy se deita ao lado de Jackie.
- Por que eu também senti isso, sei como é - eu respondo e elas não perguntam mais nada.
Depois que as duas caem no sono e eu quase, alguém bate na porta e tive que levantar para atender. Emma estava lá, sorrindo se forma doce, tão frágil como se fosse quebrar, ou como se eu fosse me quebrar caso ela sorrisse demais.
- Oi - ela diz, meio tímida - Como elas estão?
- Estão bem - eu respondo, olhando para as duas dormindo - Enjoadas, mas você já deve saber disso.
- Sei sim - ela sorri, como se aquilo fosse uma piada interna - E como você está?
- Eu... - não sabia o que responder e tive que pensar um pouco - Eu estou confusa. Não sei como elas tiveram coragem de vir para cá, mas agora eu tenho mais um motivo para sair daqui.
- E vamos conseguir - Emma segura a minha mão - Vamos sair daqui antes que possa notar, estaremos do lado de fora, do outro lado desse campo.
- Estaremos sim - eu respondo, sorrindo.
Emma se aproxima a me dá um beijo na bochecha. Acena com os dedos e se vira sorrindo.
Fecho a porta com um sorriso bobo e ao me virar para a cama, Lucy estava me olhando, com a cara inchada de sono e com um sorriso mais bobo que o meu.

36. Corpos

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 30, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Lavanda (Fanfic Melita)Onde histórias criam vida. Descubra agora