Capítulo 3 - Parte 3 - Encontro Armado

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Sete da manhã.

Implacavelmente a mesma hora, nem um minuto a mais, nem a menos.

O despertador do relógio eletrônico nem precisava mais ficar ativado e ele se tornara quase inútil, pois também não lhe era mais necessário mostrar a hora, pois não era diferente do dia anterior e do outro e outro.

Sentou-se na cama sobre as pernas, fechando os olhos e inspirando profundamente.

Mesmo esmaecido, havia algum resquício de almíscar no ar.

Mas Luzmarina não precisava sentir o perfume para saber que recebeu a visita de seu amante imaginário naquela noite.

O seu próprio corpo já indicava isso.

Retirou a camiseta de malha com que dormira e levou ao rosto, sentindo nela o perfume um pouco mais marcante, mas ainda assim quase imperceptível de tão fraco.

Esticou o braço diante o seu nariz e nele também percebeu o perfume, um pouco mais perceptível que o que ficara em sua camiseta, que, com certeza, absorvera de seu próprio seio.

Olhou para a cama, os lençóis brancos revirados demais para alguém que dormira sozinha como uma pedra, alisando-o com a mão na esperança de encontrar algum vestígio, o menor que fosse: um fio de cabelo, uma mancha qualquer, uma gota de sêmen.

Mas, nada. Nunca havia absolutamente nada além das sensações em seu corpo.

Sorriu com sarcasmo, contra si mesma.

"Talvez eu deva começar a encarar isso como o que é de fato... um distúrbio psiquiátrico ligado à sexualidade. Definitivamente, isso não é normal!"

Despiu a calcinha que fazia conjunto com a camiseta, também em malha, sentindo a característica umidade pegajosa.

Censurou a si mesma com cruel sarcasmo e foi para o banheiro, enfiar-se na água quase fria para acalmar o calor que ainda persistia em seu corpo.

Uma hora depois, Luzmarina já estava completamente pronta para passar o dia fora.

Jogou nas costas a mochila de camping contendo os seus materiais e equipamentos para pesquisa, ração, água e apetrechos de sobrevivência na mata, para caso de necessidade imprevista.

Pretendia buscar amostras de solos e raízes numa região mais acima da montanha, já entrando no Bosque de Faias, subindo mais 400 metros e chegando à altitude de 1000 metros, aonde se encontrava solos misturados de calcário e silício.

Saiu pegando uma trilha natural entre os carvalhos, apoiando-se em seu bastão de andarilho, um hábito que adquiriu depois de percorrer o Caminho de Santiago de Compostela há uns quinze anos atrás em companhia dos pais.

Na época, contava com apenas treze anos e aquilo, realmente, definiu os rumos que ela tomaria em sua vida.

Caminhava e a subida ainda era leve.

O silêncio do lugar só era quebrado pelos sons naturais da mata: o vento roçando nas folhas e troncos; os chilreios das aves em sinfonias variadas; um ou outro correr arrastado entre as folhas secas no chão; o cricrilar de insetos; a sua própria respiração e passadas.

Havia, também, a mesma sensação de estar sendo observada.

E não saberia dizer se era uma mera cisma sua ou não.

Às vezes, quando era atraída pelo magnetismo de outra pessoa, sempre acontecia de pegar em flagrante alguém olhando para ela, e isso costumava acontecer muito nas conduções públicas, nos bares ou em lugares que frequentava em seus encontros – cada vez mais raros – com suas amigas.

Raptores - Episódio 1Onde histórias criam vida. Descubra agora