Parte 3 - Capítulo 8 - Derrotado & Refém.

9 10 0
                                    

Luzmarina andava de um lado a outro na cabana rústica construída de pedras e toras de madeira, que ficava localizada num ponto de difícil aceso no interior da floresta, quase no topo da montanha.

Pela janela se podia ver a chuva forte que caia sem piedade em gotas grossas e pesadas que faziam tilintar a vidraça.

Uma senhora idosa, de pele muito clara e cabelos alvíssimos, de corpo grande e pernas muito finas, e um nariz fino e proeminente, entrava na sala com uma travessa de cerâmica em suas mãos, depositando-a sobre a mesa de madeira coberta com uma toalha de linho branco toda bordada com motivos animais.

Observou a moça por instantes com os seus olhos redondos e vermelhos.

"Por favor, doutora! Pare de andar pra lá e pra cá! Vai acabar fazendo um buraco no chão! Venha, sente-se e coma um pouco. A sua ansiedade não resolverá nada."

"Me desculpe, Mãe-Cegonha! Mas como a senhora espera que eu sossegue e ainda coma sabendo que alguém pode morrer por minha causa?! Aquele... cara! Ele veio aqui atrás de mim e Uchoa... droga! Eu.. eu sou a responsável pelo mal que acontecer a ele!"

"Não é sua culpa!" – Aaron protestou, a primeira coisa que falou à moça desde que saíra de perto de Uchoa.

Estava parado à porta da sala, imóvel como uma pedra, desde a hora que chegaram à cabana.

Mantinha todos os seus sentidos em alerta, à espera de algum sinal de seu mestre.

Mantinha a katana embainhada em suas mãos, apoiando-se nela.

O garoto mal piscava e sua respiração era tão controlada que era imperceptível.

"É o dever de honra de um Raptor proteger o território que lhe foi confiado e a todos que nele vivem pacificamente. Aquele... homem-lobo invadiu o território de Uchoa, causou prejuízos materiais e ainda ameaçou você, doutora... o meu mestre está apenas cumprindo com sua obrigação."

"Desculpe, menino, mas isso é... fantástico demais para eu conseguir assimilar com facilidade! Obviamente que já ouvi muitas lendas sobre... seres encantados... histórias que adultos contam para entreter e ensinar respeito e lições de moral pras crianças. Mas, daí aceitar isso como realidade... como..."

Aaron riu com sarcasmo, virando-se por sobre o ombro para falar com Luzmarina, o seu primeiro movimento desde que se plantou como sentinela na porta de entrada.

"Você me vê e ainda acha que eu não sou real?! Decerto deve achar que as minhas orelhas de gato, as minhas garras e os meus dentes são alguma deformidade congênita! E que a minha transformação foi um truque legal de mágica! Você viu o homem-lobo e a transformação dele e ainda não quer acreditar em seus olhos?! Você tem estado há tanto tempo com Uchoa e acha que ele é irreal?!"

Luzmarina desviou o rosto do sorriso travesso do garoto, enrubescida.

"Isso é... discutível! Pelo que eu sei, conheci Uchoa apenas agora, nesta manhã!"

O garoto-cerval reprimiu uma gargalhada, fazendo um som estrangulado na garganta.

"Obviamente que meu mestre não me conta sobre certos aspectos particulares da vida dele, mas sei que há noites, quando tranquilas e que não exigem a vigília dele, pelo menos não o tempo todo, que ele desaparece e só volta um pouco antes do sol nascer... e eu percebo nele um suave perfume de seiva fresca... como o seu perfume!"

A moça se exasperou:

"Ora, garoto! Isso não é uma insinuação que se faça! Como assim o meu perfume nele?! Eu nem uso perfume! E lhe digo que nunca estive com ele antes de hoje, muito menos da forma que está insinuando! Sou solteira, sou independente, mas isso não significa que seja uma promíscua!"

Raptores - Episódio 1Onde histórias criam vida. Descubra agora