Capítulo 3 - Parte 6 - Surpresa & Decepção

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Uchoa fechou a mão dolorosamente em punho numa ação involuntária.

Como era possível que um dos seus estivesse mancomunado com humanos pérfidos que trabalhavam como sabotadores e assassinos?!

Sabia de alguns que, cansados da vida e das batalhas perdidas, se isolaram e desapareceram em locais ermos, distantes de tudo; outros assumiram definitivamente a forma-falsa animal vivendo entre os de sua raça; e, em menor número, os que se assumiram humanos para passar a viver entre humanos.

Muitos desses eram até ativistas políticos e ecólogos ou trabalhavam junto às comunidades humanas para o esclarecimento da importância na preservação da natureza e na manutenção da vida.

Ele mesmo fizera isso décadas atrás, auxiliando e esclarecendo o horror que havia na indústria de peles, do comércio de produtos animais, da caça predatória que visava exatamente o extermínio das espécies.

E fora graças à sua atuação no mundo humano que se conseguiu despertar a importância para as florestas do Velho Mundo, principalmente as da Península Ibérica.

Se hoje ainda é possível encontrar o Lobo-ibero, o Cervo da Barbária, a Águia-imperial-ibérica e o Lince-ibérico pelas matas da Península, é porque trabalhou muito para isso, conseguindo, com a ajuda de humanos conscientes, despertar o interesse da comunidade européia para essas espécies.

E, por isso mesmo, é um choque para ele saber que um Encantado da sua raça estava ali junto a homens que caçavam ativistas que trabalhavam arduamente para a conservação do que ainda existia!

Sentia-se traído e envergonhado.
Luzmarina, apesar das dúvidas, da confusão e do medo, virou-se para Uchoa.

Uma súbita simpatia e indulgência pelo homem-lobo inundaram o seu coração.

"Você está bem?"

Os olhos de Uchoa se abriram de par em par pela surpresa na mudança de humor da bióloga, perdendo-se em seu olhar quando a encarou.

Uma corrente de energia magnética atravessou entre eles, fundindo-os num só ser com o mesmo passado, presente e futuro.

Havia neles a mesma essência divina e seriam capazes de compreender intimamente um ao outro, sendo cúmplices no roteiro da vida, bastando que ambos entrassem na mesma faixa de sintonia vibracional.

Eles eram a metade de um ser uno.

Uchoa espalmou sua mão no rosto de Luzmarina e a mesma descarga elétrica faiscou na pele de ambos.

"Há muito que você precisa saber, Luz... Saber sobre uma realidade que agora você também faz parte... como lhe falei, não existe acaso, mas existe destino... e foi ele que providenciou para que viesse até aqui..."

Aaron, impaciente, apoiava uma mão no quadril e a outra no punho do sabre, batendo um pé nervosamente no chão.       

"Não quero ser um estraga-prazeres, mas a situação me obriga a isso, pombinhos! Se esqueceram que a doutora está sendo caçada para ser eliminada?! E que um homem-lobo corrompido está aqui para fazer isso?!"

Uchoa jamais sentiu tanta vontade de socar o moleque-gato!

Agora entendia o porquê de cães e gatos serem comumente associados a inimigos mortais uns dos outros!

Seus olhos focalizaram para além de Aaron, sentindo-se congelar por dentro.

Havia um vulto negro e grande às costas do garoto.

Um predador tão eficaz que nem ele e nem o garoto-cerval pressentiram com antecedência!

"AARON! ÀS SUAS COSTAS!" – Gritou.

Raptores - Episódio 1Onde histórias criam vida. Descubra agora