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ATENÇÃO!! O CAPÍTULO A SEGUIR PODE CONTER GATILHOS!!

O inverno havia chegado em Asgard. A neve cobria todo o reino, fazendo os Asgardianos se agasalharem dos pés à cabeça. Por causa da falta de sol, Evie e Nerfi foram obrigados a brincar do lado de dentro do palácio. Mas, o lugar era grande o suficiente para que os dois se divertissem e aprontassem com as damas e guardas.

Ambos Evie e Nerfi tinham oito anos de idade. E, apesar de Nerfi ser oito meses mais novo que a irmã, ele era mais alto e um pouco mais forte - ele não tinha nenhuma parte humana. Isso deixava Evie irritada, principalmente quando os dois brincavam de luta - Nerfi sempre ganhava e tirava sarro da irmã; e ela chutava suas canelas como revanche; e ele a beliscava; e os dois acabavam reclamando com o pai, que preferia não se envolver nas brigas dos dois. O deus preferia preservar o pouco de sanidade que lhe restava.

Os dois irmãos estavam escondidos, atrás de uma pilastra, no corredor mais silencioso do palácio - o corredor do quarto de Odin. Eles tinham um plano: sequestrar um dos corvos do avô. Evie e Nerfi observaram os guardas que estavam na porta do quarto.

- Eu distraio eles. - Nerfi sussurrou para a irmã. Evie apenas assentiu com a cabeça, enquanto segurava uma gaiola de ouro em uma das mãos.

Nerfi respirou fundo, concentrando-se. Ele rapidamente se transformou em um troll e correu para frente dos guardas, fingindo ser um fugitivo da prisão. O menino atraiu os guardas para longe do quarto, deixando a passagem livre para Evie.

Evie olhou para todos os lados e adentrou no quarto do avô. O espaço gigantesco e luxuoso a fazia sentir calafrios. Odin a dava medo. Por sorte, o lugar estava vazio. Ela engoliu seco, tomando coragem.

-Hugin. - Evie chamou pelo nome de um dos pássaros. Não demorou muito e um corvo sobrevoou a sua cabeça e pousou em seu ombro. Evie sorriu. - Bom garoto. - Ela acariciou suas penas com carinho. - Vamos dar um passeio? - Hugin fez um barulho e voou de cima de seu ombro, pousando no chão.

Evie apoiou a gaiola no chão e abriu a portinhola.

- Eu não vou machucar você, prometo. - Disse baixinho. Hugin entortou a cabeça, receoso.

Um barulho na porta fez o pássaro voar para a janela. Era Nerfi. O menino entrou no quarto e fechou a porta.

- Você assustou ele! - Acusou. Nerfi mostrou a língua para a irmã e se aproximou da gaiola.

- Eu pego ele! - Decidiu, pegando a gaiola. Evie o impediu.

- Não! Eu disse que ia pegar! - Ela tentou puxar o objeto das mãos do irmão. Nerfi não recuou.

-Mas eu quero! - Ele puxou para o seu lado.

-Problema seu! É a minha vez! - Evie puxou de volta.

- Não!

-Sim! - Grunhiu. - Eu sou mais velha!

-Mas eu sou maior!

Os dois puxaram a gaiola com força demais e acabaram deixando e acertar um dos vasos de decoração que estava no chão. A cerâmica se partiu em mil pedaços, fazendo um barulho terrível. Evie e Nerfi arregalaram os olhos. Estavam ferrados. Os dois se encararam, apavorados.

- Vamos sair daqui! - Evie não esperou resposta para agarrar o braço do irmão e o puxar para a saída. Entretanto, a porta foi aberta antes que eles pudessem sair.

Odin deu de cara com as duas crianças e sua expressão tornou-se sombria. Evie e Nerfi recuaram um passo, amedrontados. Ela se colocou na frente do irmão involuntariamente.

-O que fazem aqui? - Odin rosnou. Evie estremeceu, sem saber o que responder. Estava morrendo de medo. Os olhos de Odin pararam diretamente no vaso quebrado e na gaiola de ouro. Ele trincou os dentes, encarando Evie. Estava furioso. - Você fez isso! - Ele a acusou. A boca de Evie se abriu diversas vezes, sem saber o que falar. - E por que eu não me surpreendo? - Evie encolheu os ombros. - Você vai ter uma lição! - O pai de todos agarrou seu braço firmemente e a arrastou para fora do quarto com brutalidade.  

Nerfi correu atrás dos dois, incapaz de reagir. Ele estava em choque.

Odin arrastou a pequena Evie pelos corredores do palácio, sendo seguido por Nerfi.

- Evie! - Ele gritou, correndo atrás deles. Evie tentou livrar seu braço da mão firme do avô, mas não adiantou.

-Não, por favor! - Ela implorou com os olhos cheios de lágrimas. - Por favor! Por favor! - Seus pedidos agoniado não foram ouvidos.

-Pare de chorar! - Ordenou, finalmente parando de arrastá-la. Ele segurou seus dois braços bruscamente, forçando Evie a encará-lo nos olhos. - Eu não quero ouvir seu choro! Cale-se! Você não deve chorar, midgardiana! - Bradou.

Evie soluçou baixinho, tentando parar de chorar. Seu corpo todo tremia de pânico. O deus finalmente a soltou. Evie cambaleou para trás, abraçando seus braços doloridos. Nerfi a alcançou, esbaforido.

-Guardas! - Gritou. Imediatamente meia dúzia de guerreiros apareceram, prontos para servi-lo. - Encontrem a dama responsável por tomar conta dos dois! - Ordenou. - Quero que a executem! - Os guardas fizeram uma reverência rápida e partiram. Evie e Nerfi arregalaram os olhos ao pensarem na dama de bom coração que cuidava dos dois.

- Não, por favor! - Evie implorou, desesperada.

-Cale-se! - Gritou. Evie recuou um passo, contendo o choro. Não podia chorar. Tinha medo do que poderia acontecer se seu avô se irritasse ainda mais. - Sabe a dama? - Disse mais baixo. - Ela deve está sendo punida agora. E saiba que a culpa é sua. Esse será o seu castigo. Carregar a culpa da morte de uma inocente. - Foram suas últimas palavras antes de deixá-los sozinhos.

Evie soluçou, com a respiração entrecortada. Seu peito doía e sua garganta ardia. Queria chorar mas não conseguia mais. Nerfi segurou os ombros da irmã, em lágrimas. Esse era um castigo que jamais esqueceriam.

Princess-SitterOnde histórias criam vida. Descubra agora