Princess-Sitter

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Alguns dias antes…

Nerfi estava ansioso, o que não era muito comum de acontecer. Mas, a situação o fazia ficar com os nervos à flor da pele. Sua vida estava em jogo. Seu reino também. Quando Nerfi decidiu voltar a Jotunheim, depois do ataque direto a Hailstrum, ele sabia que estaria correndo o risco de visitar o reino dos mortos mais cedo. Entretanto, o prazo que Hailstrum havia dado para ele se entregar estava no fim. Isso fez o jovem príncipe apelar para a sua última arma - a bela e velha mentira. Nerfi tinha um plano e envolvia uma falsa traição. Ele havia oferecido uma rendição a Hailstrum e torcia para que o jotun tivesse acreditado em suas palavras. Fora por causa de Ragnar, seu comandante, que o gigante decidira considerar a proposta de Nerfi. O comandante dissera que mantê-lo ali como aliado poderia ajudá-los a convencer o povo de que uma aliança havia sido formada. Nerfi torcia para que Hailstrum acreditasse nisso. Ele mal pôde acreditar quando ficou sabendo que o jotun pretendia forçar o matrimônio com Evie. O jovem teve que se controlar. Era importante manter o sangue frio. 

O jovem príncipe estava em uma das sacadas do palácio de Jotunheim. Sozinho. Já era madrugada e o frio o fazia estremecer um pouco. Nerfi estava tenso. Aquela era coisa mais difícil que ele já tivera que fazer. Mas, estava desesperado e ansiava a morte de Hailstrum mais que tudo. Ele nem mesmo sabia como colocaria o seu plano em prática, mas, precisava ser rápido. Ou então, sua irmã teria de se casar com o usurpador do trono. E, ele jamais permitiria isso. 

Uma sombra se aproximou do jovem mas ele não se moveu. Sentia quem era. Ragnar parou ao lado de Nerfi, fitando o horizonte. O jotun tinha uma expressão rígida. 

-Você intercedeu por mim de forma bem discreta e eficaz. - Nerfi não o encarou quando falou, apenas encarava o céu escuro. - Reconheço um traidor quando vejo um. - Comentou baixinho. O gigante de pele azul e fria como o gelo não esboçou nenhuma emoção. 

-Cuidado com as palavras, alteza. - Respondeu no mesmo tom. - Não queremos que alguém o ouça. - Nerfi teve de conter um sorriso, ainda sem encará-lo. 

-É um aliado de meu pai? 

Ragnar soltou um grunhido baixo. 

-Servi a Laufey por muitos anos. - Disse baixo. - Jamais permitiria que um usurpador medíocre como Hailstrum permanecesse no trono. Ele não tem o sangue real. 

-Então, é um traidor infiltrado? - Arqueou uma sobrancelha. 

-Seu pai me deixou instruções antes de morrer. 

Nerfi teve de engolir seco. A morte de Loki ainda doía, por mais que ele sempre tentasse parecer forte. 

-Instruções? 

O jotun assentiu de leve. 

- Loki sabia que ia morrer. Ele me deixou instruções para que você e sua irmã recuperassem o trono.  

Nerfi finalmente o encarou, tentando se manter firme. Seu peito apertou. 

-Posso saber quais foram essas instruções? 

Ragnar permaneceu sério e frio. 

-Tudo o que precisa saber agora é que precisa do Tesseract. 

Nerfi franziu o cenho. 

-O tesseract está em Midgard. 

-Sim. E, você vai recuperá-lo. - Respondeu baixo. - Ele é essencial para derrotar Hailstrum. Por isso, vou ajudá-lo a ir para a Terra. 

-A jóia do espaço, dentro do Tesseract. - Concluiu. O jotun assentiu. - Como exatamente a jóia do espaço vai nos ajudar a derrotar Hailstrum? - Perguntou cético. 

-Isso você vai saber na hora certa. - O jotun foi quase ríspido. - Agora, você precisa convencer Hailstrum de que está realmente disposto a trair sua família. Precisa dar a ele uma prova de sua lealdade. 

-O que quer que eu faça? 

-Primeiro, recupere o tesseract. - Hesitou. - Depois, seja mais radical. Vai precisar trazer sua irmã para Jotunheim. - Nerfi deu um suspiro fraco. - A Evie não pode saber, isso poderia dificultar o plano. 

-Ela não vai acreditar na minha traição. A Evie sabe que eu jamais a trairia. 

-Então, faça ela acreditar!

Nerfi soltou uma risada fraca e sem humor. 

-Se ela acreditar, vai me odiar. - Disse baixinho, perdido em pensamentos. Ele quase encolheu os ombros, pesado. - Por que simplesmente não roubar o tesseract e acabar com o Hailstrum de uma vez? Por que preciso mentir para a minha irmã? Ela poderia me ajudar. 

O jotun balançou a cabeça. 

-Hailstrum não confia em você. Precisa esperar o momento certo de agir. - Explicou. - E esse momento será o casamento. 

- Por que? - Sua pergunta saiu fraca. 

-Hailstrum quer um espetáculo. Quer mostrar ao povo que ele saiu vitorioso. - Respondeu por fim. - Um casamento é sempre um casamento. - Suspirou. - Ele vai baixar a guarda, estará distraído. Então, agiremos. 

Nerfi voltou a fitar o nada, sem expressão. 

-E a Evie? Não me disse porque ela não pode saber. 

-Manipular uma jóia do infinito é algo perigoso, pode ter consequências. - Ragnar o encarou. - Se sua irmã souber, vai temer por você e vai querer ajudar. Isso não seria bom. 

- Por que não? - Insistiu. - Ela domina a magia tão bem quanto eu, tem bastante poder. 

-Sim, alteza. - Concordou, paciente. - Mas, mesmo com todo o poder, sua irmã ainda é meio humana. Não sabemos o que poderia acontecer com um humano ao usar uma jóia do infinito. - Pausou. - A parte humana dela poderia não suportar… 

Nerfi o encarou. 

-E se eu morrer? - Ele tentou esconder o pânico em sua voz, mas falhou. 

- Você não vai. - Respondeu tranquilo. 

-E como pode ter tanta certeza, Ragnar? - Perguntou seco. 

-Porque seu pai estava contando com você. - As palavras de Ragnar o fizeram amolecer por dentro e desmanchar a sua expressão rígida. - Ele sabia que não iria decepcioná-lo. - Foram as últimas palavras do jotun antes dele desaparecer entre as sombras.