Como se sente...?

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Violetta Castillo

Quando recebi a notícia, foi preciso que Angie e papai me guiassem até uma cadeira da sala de espera. Uma enfermeira correu e buscou um copo de água com açucar rapidamente, em seguida retirou-se.

— Eu... pre..preciso vê-las...— Disse chorando, e me pondo de pé novamente.

— Vilu, o melhor que você pode fazer é ir para casa e descansar. Você não pode fazer nada em relação às gêmeas, e precisa cuidar de você também. — Papai disse preocupado.

— Não! — Alterei a voz. — Não vou sair daqui até que minhas filhas estejam bem! Enquanto isso... eu quero ver como León está. — Disse com a voz baixa.

Angie, papai e os outros se entreolharam, procurando ajuda nos rostos vizinhos, o que não aconteceu, pois nenhum deles tinham argumentos suficientes que me impediriam de fazer o que eu queria.

— Tudo bem. — Angie disse, percebendo que não conseguiria me tirar dali.

Fomos novamente até a recepção, com Angie segurando-me pelo braço — pois a mesma estava com medo de que eu desmaiasse novamente —, e então perguntamos em qual quarto León estava. Ao recebermos a resposta, nós duas fomos até o quarto 315 e então Angie me soltou, lançou-me um sorriso reconfortante e caminhou novamente para a sala de espera.

Respirei fundo, e então abri a porta.

León Vargas

Após inesperadamente receber a visita de Germán, fiquei totalmente confuso em meus pensamentos. Como pude duvidar de Violetta? Como fui tão idiota em não ouvir quando ela me chamou? Provavelmente se eu a estivesse escutado, Angel e Mel estariam bem agora. E tudo estaria normal, todos bem, e em casa.

Estava com raiva de mim. Precisava ver minhas filhas antes que eu enlouquecesse. Então, sem mais nem menos, segurei o fio que descia soro para o meu braço, e o arranquei. Sangue jorrou do machucado que eu acabara de fazer, pois havia uma agulha injetada em meu braço. Só pude ouvir um arfar vindo em direção à porta, então olhei para lá.

— Por que fez isso?! — Violetta perguntou e correu até mim. — Está louco, León?! Vou chamar um médico para cuidar disso...— Ela disse preocupada, e então saiu apressada da sala.

Fiquei olhando atônito para a porta. Como ela se preocupava comigo, depois do quê eu fiz? Como ela ainda me amava daquele jeito?

Minutos depois o médico entrou e Violetta entrou logo atrás, as mãos estavam entrelaçadas próximo à sua barriga, e seus olhos castanhos me examinavam preocupados.

— Hmm... o que aconteceu, hein, León?— O médico questionou, soando quase que entretido. Pensei em quantos casos assim ele já tinha visto. Poucos, presumi.

— Nada. — Respondi, sem conseguir encarar Violetta, que me olhava inquisitiva.

— Aham — O médico murmurou, claramente havia entendido o que aconteceu, mas se manteu em silêncio enquanto arrumava a bagunça que eu havia feito. — Bem, acho que você não vai mais precisar de soro. Já está praticamente curado, tirando, é claro, sua perna, que ainda está enfaixada. Em breve você receberá alta. — Em seguida, ele saiu do quarto após despedir-se com um breve aceno de cabeça.

Violetta saiu de perto da porta — aonde ela estava desde que havia chego ali —, e caminhou sorrateiramente até perto da cama. Não entendia o porquê de ela estar tão relutante, será que, em meio a tudo isso, ela realmente achava que eu ainda estaria bravo com ela?

— Como se sente...? — Perguntou com a voz baixa. Imaginei, então, o quanto eu havia feito minha pequena chorar.

Balancei a cabeça, não sabendo ao certo o que dizer. Estava tudo tão confuso desde o acidente. O perdão de Violetta era a coisa que eu mais almejava, mas quê, ao mesmo tempo, era o que eu mais desejava que não tivesse; queria sentir o desprezo dela, pois esse seria meu pior castigo: ela me odiando. E assim eu saberia que estava sendo devidamente julgado pelo que fiz.

— Você ainda está bravo pelo que aconteceu no parque? León, eu...

— Vilu, não — Não pude deixar de sorrir pela preocupação boba dela — Já sei o que realmente houve no parque. Seu pai me contou. — Respondi.

— Contou? — Ela indagou, claramente confusa.

— Sim. Ele estava aqui há alguns minutos atrás. — Respondi.

— Então não está mais bravo comigo? — Indagou com a sobrancelha arqueada.

— Não. Mas agora estou com mais vontade ainda de socar o Clement. Porém, temos coisas mais importantes para nos preocupar agora...— Disse a olhando. Uma lágrima solitária caiu de seus olhos e ela se aproximou, puxei-a para mim e ela deitou ao meu lado da cama.

— Estou preocupada. — Suspirou com a cabeça deitada em meu peito.

— Me desculpe. Foi culpa minha. Deveria tê-la ouvido.

— Ei! Ninguém teve culpa, se for para culpar alguém, culpe o Clement. — Ela levantou o olhar e sorriu, um sorriso triste, mas que me acalmou um pouco. Como ela ainda conseguia me reconfortar sendo que a culpa era minha desse sofrimento?

— Como elas estão?

— Estão na UTI. Nossas pequenas estão na UTI. — Ela lamentou, com a voz embargada.

Continuei a acariciar seus cabelos, e ela ia se acalmando aos poucos, por um momento pensei até que ela tivesse adormecido ali mesmo, mas então ela levantou a cabeça e me olhou nos olhos. Seus olhos marejados me partiam o coração, pensar que ela estava chorando por algo que não deveria era de deixar qualquer um perdido, tentando, em vão, achar a saída para aquele sofrimento.

— Quando você receberá alta?

— Não sei, mas também não faço questão, deveria ter morrido. Isso sim. — Respondi irritado comigo mesmo.

— Pare de se culpar, León! — Ela disse me apertando como se quisesse me prender à ela. — Foi algo... inevitável. Inesperado.

— Eu sei. — Suspirei.

Fomos interrompidos com o rompante da porta sendo aberta por uma pessoa que, normalmente, estaria agitada, mas que no momento estava quieta e pensativa.

— León, eu...— Ela se interrompeu ao olhar para mim e Violetta, e então sorriu. — Oi, Vilu.

— Oi, Fran. — Violetta disse se levantando e indo abraçar a amiga.

— Elas vão ficar bem. — Francesca disse ao se desvencilhar do abraço. — Elas são fortes.

— Eu sei. — Vilu sorriu.

— Só vim avisar que encontrei o médico no caminho, e ele disse que amanhã você já pode ir para casa. — Ela disse sentando-se em uma poltrona próxima à cama.

— Francesca...— Vilu me encarou e então olhou para Fran, como se estivesse pensando em fazer algo que não devia.

— Ai... o que foi? — Ela perguntou e Vilu mostrou a língua.

— Você vai me ajudar em algo — Violetta disse pensativa, ignorando os olhares curiosos vindo de mim e Francesca.

— No quê?

— A entrar na UTI para ver as gêmeas. — Francesca arregalou os olhos e eu não pude deixar de rir.

— Você está louca? Não dá! Os médicos não vão deixar! — Francesca reclamou emburrada, mas tanto eu como Violetta sabíamos que ela faria qualquer coisa que estivesse ao seu alcance para ver a amiga feliz.

— Eles não precisam saber...

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