Um terrível pesadelo

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Três Meses Depois

Violetta Castillo

Três meses se passaram, e eu continuava aqui, presa. Como eu sabia quanto tempo se passou? Bem, eu estou realmente em cativeiro, então tive que improvisar, já que Clement tirara tudo o que eu pudesse tentar escapar, só deixara roupas e coisas higiênicas para mim.

Nos primeiros dias, vasculhei centímetro por centímetro desse quarto. Arranquei todas as roupas do roupeiro, procurado algo que pudesse me ajudar, de alguma forma, à escapar. Mas nada. Não achei nada no quarto todo, apenas um giz de cera preto. É isso que faz com quê eu não me perca no tempo. A cada dia que se passa, é mais um risquinho na parede, atrás das cortinas pesadas que haviam ali. Clement raramente ficava muito tempo comigo, como ele havia dito que ficaria — o quê eu agradecia todo dia —, e quando vinha, era só pra me deixar comida; ele não prestava atenção nas paredes nem em nada.

Ele vinha uma, no máximo duas vezes por dia, quase sempre era de noite ou de manhã. Durante o dia eu ficava trancada, deitada na cama e chorando. O quê eu podia fazer, afinal? Já tentei de tudo para escapar, mas nada adiantava. Nesses três meses eu até consegui sair desse quarto uma vez: peguei um vaso de flores que estava em cima do criado mudo, e esperei até que Clemente entrasse no quarto. Assim que ele colocou sua cabeça para dentro do quarto, eu atirei o vaso; ele caiu desmaiado, e eu saí correndo. O que eu não esperava era que encontraria mais dois homens do outro lado da porta. Eles me pegaram novamente e me jogaram na cama; depois Clement acordou, e, desde então se tornou mais violento do que eu pensaria que ele podia se transformar.

Tenho certeza de que a ideia de me conquistar acabou naquele dia; ele não queria me conquistar, apenas me fazer sofrer. Porém, às vezes, quando ele vem trazer a comida para mim, ele diz que assim que o bebê nascer tudo vai mudar; que eu vou amá-lo pois ele será o único pai que meu filho terá. Ele está cada vez mais paranoico, e isso me deixa cada dia com mais medo.

Minha barriga já está visível, afinal, já estou com cinco meses. Quando Angie me disse a novidade, também disse que eu estava com dois meses... e como mais três meses se passaram...

Cada dia que passa eu sinto mais raiva de mim mesma. Raiva por não ter forças o suficiente para tentar fugir daqui, porque, de fato, eu estava acabada. Não via a luz do dia há mais de três meses. Estava sempre trancada no quarto, e eu tinha grandes olheiras embaixo dos olhos de não conseguir dormir de tanto chorar. Sentia raiva por não saber como meu bebê estava. Essa gravidez é de risco; Clement sabe disso. Mas mesmo assim não quis nem ao menos chamar um médico. Eu não fazia ideia se meu filho estava bem ou não.

Tinha raiva e medo, ao pensar que minhas filhas ainda estariam no hospital doentes, ou que talvez o pior tenha acontecido...

Eu não sabia de nada, e isso era o pior. Eu aguentaria melhor tudo isso se soubesse, ao menos, que minhas pequenas já estavam bem. Que León estava bem. Que minha família e meus amigos estavam bem. Mas eu estava excluída do mundo trancada nesse quarto. Eu só sabia o que Clement me contava, coisas que não eram sobre minha família, obviamente, pois ele queria me torturar, e ele sabia o quanto não saber nada me afetava.

Agora eu estava deitada, como sempre — não tinha o quê fazer aqui. E eu estava morrendo de fome.

Já era de noite, pois dava para sentir o ar gelado entrar pelas frestas da janela. Eu ficava me perguntando aonde eu estava, no meio do mato? Porque era o quê parecia.

Minha barriga roncou novamente. Clement não apareceu o dia inteiro, e eu me surpreendi com a vontade que eu estava de querer vê-lo, não por ele, mas pela comida que ele traria. O bebê chutou, dando o único sinal que eu teria de quê estava bem, e eu sorri emocionada, me endireitando na cama.

— Oi, bebê — Sussurrei passando a mão por minha barriga. — Espero que você esteja bem, amorzinho. — Disse com a voz falha, e em resposta teve outro chute. Eu sorri.

Ouvi barulho de chaves na porta, e fiquei de pé esperando que Clement entrasse trazendo aquela comida horrível, mas que mantinha eu e meu bebê vivos. Mas quem entrou não foi Clement, fora o outro homem que eu encontrei outro dia na sala. Ele me olhou dos pés à cabeça, e lançou-me um sorriso malicioso. Senti repulsa daquele homem à partir daquele momento.

— Trouxe sua janta, gracinha. — Ele disse, então começou a caminhar em minha direção.

— Não chega perto de mim! — Disse com medo. — Deixe a comida aí no chão mesmo. - Falei engolindo em seco.

— Sua mal agradecida! — Ele grunhiu irritado. Em seguida deixou o pote de comida cair no chão. A comida se espalhou pelo chão, ele me olhou novamente e sorriu: — Está no chão. Boa apetite! — Depois deu as costas e saiu do quarto.

Eu olhei para a comida, mas não, eu não me sujeitaria àquilo. Me encolhi na cama novamente, esperando conseguir dormir e quando acordasse perceber que só estava tendo um pesadelo. Um terrível pesadelo.

León Vargas

— León, acorde! — Levantei num pulo da cadeira em que tinha cochilado na noite anterior. — Desculpe...— Francesca murmurou envergonhada. Diego estava ao seu lado com Isabella em seu colo dormindo.

— Tudo bem. — Respondi me espreguiçando. — O que houve? — Indaguei confuso.

— Eu e Diego viemos fazer a ecografia do bebê. — Ela passou a mão em sua barriga já grandinha e em seguida sorriu triste.

Aposto que ela se lembrara do mesmo que eu. Violetta. Vilu já devia estar assim, e novamente eu estava perdendo mais uma gravidez. Três meses haviam se passado. Três meses sem Ela. Nunca me senti tão sozinho e impotente. Minhas filhas continuam na UTI, ambas em coma. Não houve nenhum sinal de melhora, é como se elas já estivessem... mortas. E Violetta. Violetta já deve estar com cinco meses; pelo que Angie somou. Já deve estar com uma barriga linda, esperando por nosso terceiro filho, e eu estou aqui. Sem saber nada dela, sem saber se ela está bem.

Clement desapareceu do mapa. A polícia está à sua procura. Mas não teve nenhum resquício dele desde o sequestro. Era como se ele tivesse evaporado. E junto ele levou minha Violetta.

Olhei para Francesca novamente, ela era a melhor amiga de Violetta, não deveria ser fácil para ela também. Imaginei se Francesca também estava se lembrando de Violetta no momento. Não tinha dúvidas de que estava.

— E o quê vai ser o bebê? — Perguntei me levantando.

— Será um menino. — Diego respondeu alegre.

— Parabéns! — Disse realmente feliz por eles.

— Obrigada! — Fran deu pulinhos e Diego a repreendeu com o olhar. Eu ri da situação.

Ficamos conversando por mais um tempinho, e quando os dois estavam se levantando para ir embora, ouvi alguém me chamar:

— Senhor Vargas? — Olhei para o rosto da pessoa, e percebi ser o médico das gêmeas.

Me aproximei dele e Francesca e Diego me acompanharam.

— O que foi? Minhas filhas estão bem? Elas pioraram? — Questionei engolindo em seco. A última notícia que eu recebi do médico foi que minhas filhas estavam em coma, então não fora algo muito agradável. Mas dessa vez o médico não parecia estar triste, pelo contrário, ele sorriu.

— Eu diria que elas estão ótimas. — Ele disse alegre.

— Então quer dizer...

— Quero dizer que elas acordaram.

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