21.Prom

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09 de Janeiro de 2015. - Primeiro ano da faculdade.


Eu me encontrava sentada no sofá da sala assistindo Julia brincar com a bicicleta rosa que ganhara no natal do Papai Noel. Já não nevava mais, então as roupas de frio foram finalmente substituídas por shorts e camisetas; eu me sentia livre longe de todo aquele peso extra, mas ainda sim triste pela despedida dos flocos de neve. Meus pais estavam agindo estranho durante todo o dia desde que cheguei da faculdade e eu não entendia bem o porquê. Assim que cheguei, notei que a casa não estava arrumada para receber visitas e minha mãe não tinha feito nada para a janta. Estranho. Será que pediriam a comida? Ou sairíamos todos para jantar como um presente? Bom, a pergunta rondou minha cabeça durante todo o tempo em que os assisti conversarem aos murmúrios pelos cantos da casa. No final do dia, minha mãe sentou toda sorridente ao meu lado no sofá e me estendeu um embrulho amarelo. Era um Ipad. É claro que a abracei e disse que não precisava, eu sabia que não tínhamos condições de gastar com marcas como Apple, mas é claro que me mostrei totalmente feliz com o presente, e eu realmente estava.

Algumas horas depois, a campainha tocou e minha mãe foi atender. Não precisei levantar para saber que eram Thay, Gabi e Nath com todo o alvoroço de fizeram com apitos e chapéus de aniversário nas festas infantis. O que eu tinha feito para merecer as três melhores amigas do mundo? Com certeza eu tiraria uma foto e mandaria para Day, ela gostaria de dar boas risadas com as amigas que tínhamos.

Aproveitando que as meninas foram para a cozinha com minha mãe, papai se aproximou de mim com aquele mesmo olhar de orgulho que me fazia sentir especial.

- Como se sente com dezenove anos? – ele perguntou enquanto passava o braço sobre meu ombro, me aconchegando mais a ele no sofá.

- Eu deveria me sentir especial quando fizesse dezoito, agora apenas sinto que estou caminhando direto à terceira idade. – brinquei e ele riu divertido

- A maioria das garotas da sua idade estaria em uma balada, você sabe.

- Que bom que não sou igual a elas, então.

E ele me abraçou mais forte como se dissesse que se orgulhava de mim por ser diferente.

- Aqui, eu queria lhe entregar isso. – tirou algo do bolso, estava enrolada em um pano fino de seda na cor roxa. Quando ele tentou me entregar, de alguma forma, o objeto caiu em seu colo e eu notei que ele tinha perdido a coordenação naquele momento. Fiquei tensa sentindo meu coração bater forte no peito, isso não poderia estar acontecendo. Mas como se nada tivesse acontecido, ele pegou o objeto outra vez e me entregou forçando um sorriso. – Era de sua tataravó.

Ignorei o sentimento ruim de ver o que, aos poucos, estava acontecendo com meu pai, e desenrolei o pano até encontrar um colar de madeira envernizada com o formato de plaquinha; nele havia uma inscrição que eu já tinha lido em algum livro que não me recordava no momento.

- Eu tenho muito orgulho de você, Carol. Quando eu abandonei a música, sabia que seria por um motivo muito maior que eu. Você sempre vai valer a pena. – ele explicou passando o dedo pelo colar. – É uma tradição passar esse colar ao filho mais velho, e eu acho que você já está madura o suficiente para recebê-lo.

- Pai! Isso é incrível, obrigada... – meus olhos realmente encheram de lágrimas com aquele presente. Essa era a prova de que não precisamos de presentes caros ou exagerados para estar feliz. – Está escrito Maktube. O que isso significa?

- Essa é a magia do colar, meu amor. – ele disse de uma maneira tranquila, e de certa forma, aquelas palavras me acalmaram. – Você descobre na hora certa.

Papai e eu caminhos abraçados até a cozinha onde Thay, Gabi e Nath estavam reunidas em volta da mesa discutindo algo que parecia importante com minha mãe enquanto Júlia comia macarrão no colo de Thay. Quando chegamos, papai pigarreou para que elas se calassem e eu fiquei brava por não poder ouvir a conversa, todo aquele mistério estava me dando nos nervos. Talvez elas estivessem organizando uma festa surpresa, em breve vários colegas de Juilliard entrariam em casa comemorando meu aniversário

The Red Hair (dayrol)Onde histórias criam vida. Descubra agora