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J i m i n


As paredes desse cômodo são bem monótonas. As janelas estão entreabertas, com a cortina cinza balançando nelas por causa do fraco vento lá fora. O piso é de uma madeira maciça escura, contrastando com o teto branco e sem graça.

— Algo lhe incomoda Sr. Park?

Ouço a voz dele e tiro meu olhar da mesa com um cacto em cima ao lado da poltrona dele, onde Sr. Woo se encontra sentado de pernas cruzadas, me analisando. O fito pela primeira vez desde que entrei aqui.

— Esse cacto é novo. Não era uma orquídea antes?— eu finalmente abro a boca pra falar algo, apontando com o queixo para o cacto pequenino na mesa ao seu lado. Ele olha para ele e sorri.

— Sim, é novo. Descobri que amo cactos recentemente.

Assinto e volto meu olhar para a janela ao meu lado esquerdo. As cortinas não param de bater contra o vidro, a ventania realmente está forte.

— Sr. Park.

— Jimin, só Jimin, por favor.— digo baixinho, ainda encarando a janela.

— Hoje é um dia especial pra você, certo?— ele indaga, me fazendo imediatamente o encarar.

Ah, sim. Hoje é o dia em que meus pais morreram, hà dez anos atrás.

— Se você acha "especial" meus pais terem falecido, então sim.— eu rebato, dando ênfase no especial.

— Desculpe, me interpretei mal. Quis dizer que hoje é um dia bem...marcante pra você Sr. Park.

— Sério Woo, eu me consulto com você hà cinco anos, não precisa dessa formalidade toda. Já disse várias vezes, apenas Jimin.— digo e suspiro longamente, abaixando a cabeça, olhando para os meus dedinhos encima do meu colo:— E sim, hoje de fato é um dia marcante. Foi nesse dia que eu tive que dar adeus a meus pais.

— Quer conversar sobre isso?

Sr. Woo é meu terapeuta particular desde o meu primeiro ataque de pânico que eu tive, hà cinco anos atrás. Depois que meus pais morreram, eu me recusava a ir atrás de um médico ou qualquer ajuda, alegava sempre que estava bem e que não era necessário. Minha mãe tinha uma saúde bem debilitada. Ela foi vítima de câncer colorretal, do cólon. E quando fomos perceber, já era tarde demais, o tumor já havia se espalhado. Meu pai tinha saúde, mas se desgastava demais com a preocupação com mamãe e seu tumor. Num dia qualquer, mamãe começou a piorar mais, e o médico disse que já era certo, ela não iria sobreviver. Eu tinha treze anos naquela época, e por ser uma criança indefesa e inocente, ninguém queria me explicar o que de fato estava acontecendo. Só diziam que mamãe estava doente mas que melhoraria logo, e então ela voltaria pra casa e tudo estaria bem. Eu fiquei aliviado com isso, tanto que nesse dia, eu acordei cedo, tomei meu café da manhã, e esperei papai voltar do hospital com mamãe. Eu estava feliz sim. Mas quando chegou a tarde e ninguém apareceu, comecei a sentir um aperto forte no peito. Vovó, que estava cuidando de mim nesse dia, começou a chorar de repente enquanto falava no telefone. Eu não entendia nada. Meus pais estavam voltando pra casa, então porque ela estava chorando e me encarando com...pena?

Naquele mesmo dia, descobri que mamãe não aguentou e faleceu naquela tarde. E no mesmo dia, enquanto papai dirigia preocupado e aflito até o hospital, para poder ver sua amada uma última vez, ele bateu com o carro num caminhão e morreu na hora com o impacto. Eles morreram no mesmo dia, naquela tarde nublada de domingo.

— Jimin?

Saio do transe e o encaro a minha frente.

— Não, eu não quero falar sobre isso.

— Tudo bem, no seu tempo. Mas ainda temos quinze minutos de consulta, tem algo em particular que queira compartilhar?

Suspirei.

— Depois daqui eu vou na casa do Jin ir buscar um piano pra ele. Jungkook vai me ajudar.— digo.

— Certo. Jungkook é seu melhor amigo? Aquele ao qual você confessou gostar?

— Sim, é ele.

— E como vai a relação de vocês?— Sr. Woo indaga, anotando algo numa caderneta e logo depois deixando a caneta de lado, me encarando, esperando uma resposta, essa que veio minutos depois:

— Bem.

Ele cerrou os olhos e sorriu mínimo.

— Não me pareceu muito convincente.

Rolei os olhos com seu comentário.

— O que esperava? Somos amigos, e só. Nos damos bem. Sempre foi assim.— digo, respiro fundo e abaixo a cabeça:— E sempre vai ser.

— Por quê não se declara pra ele?

Levantei a cabeça de súbito e o encarei boquiaberto, sem ter o que dizer.

— E-eu não sei oras! Não acho que vá dar certo. Aliás, Jungkook não gosta de mim desse jeito. A nossa relação é mais...complexa.

Ele descruzou as pernas, e me fitou atentamente.

— Complexa como?

— Ah, não somos esses tipos de amigos todo best friend forever, de chamego aqui e ali. Somos mais...intensos, entende? Nos provocamos toda hora, flertamos por diversão, só de brincadeira, claro. E é isso.

Ele ficou em silêncio por longos segundos.

— Sabe Sr. Park, esse tipo de amizade dificilmente dá certo. Ou vocês são idiotas demais para perceberem o que está bem a sua frente, ou percebem mas ignoram por medo.

Franzi o cenho, nem me importando muito com o fato dele ter me chamado de Sr. Park, e sim por não ter entendido o que ele havia dito.

— O que quer dizer com isso?— pergunto, afoito.

Sr. Woo abre a boca pra responder, mas seu relógio apita, então ele me dá um sorriso e se levanta.

— Nosso tempo acabou. Se cuide Sr. Park, e até semana que vem.— ele caminha até mim e me faz levantar, me direcionando até a porta. A abre e me instrua a sair, com um sorriso no rosto.

— Mas Sr. Woo você—

— Semana que vem Jimin. Tchau.— ele me corta e dá um tchauzinho, logo fechando a porta.

Fico parado no corredor da sua sala, agora fechada, sem entender nada. Meu celular apita e eu o pego, vendo uma nova mensagem.

Jungkook:
Já estou aqui no apartamento do Jin, só te esperando agora

Jimin:
Ah, tudo bem, já estou chegando!

Jungkook:
Sem pressa, cuidado pra vir

Franzi o cenho. Ele realmente disse pra eu tomar cuidado? Balanço a cabeça e disperso os pensamentos que quase me invadiram. Me apresso a sair do prédio e vou agora direto até o apartamento do Jin hyung buscar esse maldito piano.

𝐀𝐭 𝐭𝐡𝐚𝐭 𝐧𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐓𝐄𝐗𝐓𝐈𝐍𝐆 ʲʲᵏ⁺ᵖʲᵐOnde histórias criam vida. Descubra agora