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─ Mamãe? Onde está? Você não me esqueceu no meu primeiro dia de aula na escola nova, ou esqueceu? ─ Perguntei através do celular, segurando a caixa de livros que a escola forneceu e que eu ainda não tinha um armário para guardar.

─ Me desculpa, filha, mas surgiu um imprevisto aqui na loja, não pude ir te buscar... Mas enviei um Uber pra você, ele já deve estar aí na porta da escola!

Franzi o cenho, não surpresa.

─ Tá, me fala qual é o modelo do carro. ─ Pedi, me aproximando do portão a fim de enxergar melhor os carros que já tinham chegado para buscar os alunos no colégio.

─ Modelo? Tem isso também? Poxa, não prestei atenção nisso!

Minha expressão se fechou ainda mais, frustrada.

─ Como vou saber qual carro é o que você chamou para mim, mamãe?! ─ Exclamei, desacreditada.

─ Ei, relaxa! Eu lembro que era um modelo muito caro, longo e preto.

Através da descrição da minha mãe, só um veículo se encaixava. Eu o mantive no meu alcance de visão, ainda hesitante, por se tratar de uma limousine.

─ Tem certeza? ─ Insisti.

─ Absoluta! Pedi para parar bem na porta do colégio! ─ Mamãe garantiu, me fazendo suspirar antes de me despedir dela e finalizar a ligação.

Ajeito a mochila nos ombros e a caixa nas mãos e entro no veículo, me deparando com um garoto muito bonito que parecia da mesma idade que eu, vestido formalmente todo de preto.

Mentirosa. Foi a primeira coisa que pensei assim que entendi toda a situação. Mamãe tinha mentido que chamaria o Uber porque sabia que se eu soubesse que fosse alguma coisa relacionada ao meu pai, eu nunca entraria nessa limousine. Claro, afinal, uma entrada tão triunfante assim só podia ser coisa dele.

As coisas iam se encaixando, como a limousine e o garoto todo de preto à minha frente, nessas roupas sociais que ninguém usaria diariamente. Papai mandara um segurança para me escoltar até sua casa.

Sim, é claro!

─ E aí? Tá calor hoje, ein? ─ Comentei, já que o silêncio era sufocante. O garoto me lançou um olhar como se eu fosse a criatura mais asquerosa do mundo, então eu resolvi ficar quieta o resto do caminho.

Contudo, a rota até a casa do meu pai parecia estranha.

─ Ei, seu motorista, acho que o senhor errou o caminho... ─ Opinei, apontando para trás, para a rua que deveríamos ter virado.

─ Sossega. Estamos no caminho certo. ─ O segurança me repreendeu. Sua voz era rouca e profunda, como a voz de um cantor de Jazz.

Chateada com a repreensão, deslizei pelo banco da limousine com os braços cruzados. Aquilo estava entediante! Eu não podia falar ou fazer nada que aquele garoto pique anjo da morte me olhava como se fosse massacrar toda minha família!

Tentando encontrar uma distração, fitei o frigobar no fundo da limousine e caminhei saltitante até lá, pegando uma latinha de coca a qual eu abri com um só dedo. As bolhas de gás que estouravam eram música para os meus ouvidos.

Assim que dei o primeiro longo gole, percebi seu olhar sobre mim novamente. Sem conseguir me conter, eu arrotei, causando-lhe uma expressão que era um misto de nojo e desprezo.

─ Auê! ─ Exclamei, achando a situação divertida e estapeei sua testa.

─ Ai! ─ Ele rosnou, esfregando o local estapeado.

Mamãe, eu casei!Onde histórias criam vida. Descubra agora