Já vivi mais de mil mortes
Cada uma à sua maneira
Sangue quente jorrando dos cortes
Água gelada tirando a sujeira.Morri de inveja quando olhei
Sapato novo no pé do vizinho
Para ter um com vigor trabalhei
Ainda fiquei só com meu chinelinho.Morri de rir das piadas sacanas
Do rei de paus, das tocas de coelhos
Daquelas coisas santas e profanas
Que são feitas de joelhos.Morri de amor quando, por fim
Flagrei a lua cheia na madrugada
Enquanto ela tão cheia de mim
Escapou sob a luz da alvorada.Morri de silêncio, evitando o assunto
Num processo longo e devagar
Um tipo bem comum de defunto
Que ainda é capaz de respirar.De repente, morri de verdade
Um laço de corda, amarra grosseira
Do lado de fora, os sons da cidade
No lado de dentro, pulei da cadeira.
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Um Monstro Chamado Devaneio
RandomEsse é um livro de coisas avulsas, lotado das mais estranhas contradições. Onde um neto procura um título com a ajuda do avô ranzinza e o número zero é capaz de mostrar seu valor. Onde um figurante no fundo da cena consegue lugar de fala e um rapaz...