Doce Infância

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Balançando um pequeno graveto de um lado para o outro, Yoongi, que acabava de completar seus 8 anos, brincava alegremente fingindo ser um espadachim. Corria, pulava, dava cambalhotas até ficar exausto. Seus golpes com a "espada" improvisada eram desajeitados, mas na visão do pequeno Min Yoongi ele era o mais bravo e hábil espadachim.

— Socorro! Socorro! — Clamou sua irmã mais velha entrando na brincadeira — Há um terrível monstro me perseguindo! Será que tem algum herói que possa me salvar? — Ela agarrou Yoongi no colo para lhe encher de abraços e beijos na bochecha.

— Lucy! Não faça isso! Eu sou um espadachim e você está deixando minhas bochechas doloridas. — Limpou as bochechas dos beijos de sua irmã, não queria parecer um bebê.

— Quanto mais você limpar, mais eu vou te beijar — Lucy beijava e mordia suas bochechas e também lhe fazia cócegas, Yoongi ria tanto que sua barriga doía. Parou seu ataque de carinho para contemplar o rosto tão puro do irmão, com aquelas expressões da infância livre de preocupação — Te amo, meu pequeno e bravo guerreiro...

— Também te amo Lucy — Ele deu um beijinho no queixo de Lucy que em troca lhe deu um beijo no topo de sua cabeça.

Yoongi aninhou-se no colo de sua irmã, sentindo seus longos cabelos tocando em seu rosto. Assim como ele, ela também tinha os cabelos brancos como algodão e a pele tão clara que a fazia parecer pálida. Para ele, ela tinha um cheiro de algo doce, que ele não sabia bem o que era, mas era agradável. Ficar no colo de sua irmã o fazia se sentir protegido, era quente e confortável. Queria ficar ali para sempre.

— Está bem Lucy — Tentou se desvencilhar do abraço da irmã —, agora me coloque no chão, já sou um homem e não posso mais ficar no seu colo.

— Olha só, meu pequeno irmãozinho já é um homem — Ela deu um sorriso afetuoso e acariciou os cabelos de Yoongi.Ele fechou o cenho e estufou o peito, tentando parecer mais alto.

— Eu sou pequeno agora, mas você vai ver só Lucy, vou ficar bem maior que você, e quando eu crescer bastante, vou virar um herói, salvar as pessoas e lutar contra vários monstros. — Disse com empolgação, Lucy podia ver o brilho em seu olhar, tinha certeza que de fato o irmão seria um herói quando crescesse.

— Eu sei que você será um grande herói, meu doce irmãozinho. Mas agora vamos entrar que já está ficando tarde, fiz um bolo bem gostoso e docinho para você, coloquei alguns caramelos também.

— Obaaa! Vamos Lucy! Vamos! Eu amo bolos e caramelos, vamos comer logo — Ele a puxou pelo braço em pura euforia.

......

Eles viviam em um pequeno cômodo de alvenaria, onde havia apenas uma cama de madeira, a qual já estava um pouco apodrecida. Encontrava-se ali também uma lareira que Lucy improvisou para cozinhar os alimentos, e também a usavam para se aquecerem, já que o lugar era úmido e frio.

Apesar de serem órfãos e viverem numa situação precária, Yoongi era uma criança pura e feliz, para ele aquilo era como viver em um castelo. Na verdade ele nem sabia como era viver em um, não ligava pra riqueza ou pobreza, mesmo que algumas vezes sentisse fome ou vontade de comer algo que outras crianças comiam na sua frente. Porém, conversar e brincar com Lucy era seu mundo, nada mais importava.

Lucy tinha apenas quatorze anos, mas trabalhava arduamente para ao menos conseguir alguns pães. Muitas vezes as refeições não eram o suficiente para os dois, então ela preferia que Yoongi comesse. Pular tantas refeições a deixava cada vez mais fraca. Conforme os dias foram passando, Lucy sentia vontade de dormir cada vez mais. Apesar da natural palidez, ela possuía uma beleza além do normal, muitas pessoas paravam para admirá-la, o que a irritava. Mas a sua beleza agora estava ficando cada vez mais abatida devido às condições em que viviam, de muito trabalho e pouco sustento.

— Lucy, vamos brincar lá fora? — Yoongi estava triste vendo que ela já quase não se levantava da cama.

— Meu doce Yoongi, estou um pouco cansada, não consigo brincar agora. — Lucy se esforçava para falar, seu peito doía, e a cada tosse expelia sangue pela boca, tentava cobrir com as mãos para não assustar Yoongi.

— Você está doente? — Ele se aproximou para olhá-la melhor, ela parecia mais magra.

— Não é nada, irmãozinho. Assim que eu melhorar poderemos brincar bastante. — A voz saiu fraca, ela já estava quase pegando no sono.

— Eu sou um herói, e eu vou te salvar Lucy. Vou procurar um remédio pra você melhorar. — Yoongi a cobriu com um velho manto, e erguendo seus pés sobre a cama, deu um beijo em sua testa, sentindo-a extremamente quente — Vai ficar tudo bem Lucy.

Ao sair de casa, Yoongi pegou seu pequeno pedaço de graveto no jardim — o que pela sua cabeça era uma terrível arma letal — e adentrou na floresta.

A noite estava fria e escura, o vento frio batia em sua pele e estremecia seus ossos. O tecido gasto de sua roupa não o protegia do frio. A fraca luz da lua iluminava um pouco o caminho íngreme por entre as árvores altas. Podia-se ver olhos brilhando entre a escuridão dos arbustos, seriam de animais ou criaturas curiosas que o acompanhava no silêncio daquela mata obscura. Mesmo sentindo medo, Yoongi continuou caminhando pela floresta segurando firmemente seu pequeno graveto a caminho da aldeia mais próxima.

Mas seu medo estava sendo ofuscado por algo de tamanho horror. A fome. Sentia tanta fome que seu estômago se contorcia e suas pernas tremiam, nem lembrava qual tinha sido a última vez que comeu algo.

Às vezes tinha a sensação de estar sendo observado, mas achou que era a tal da imaginação fértil que sua irmã falava que ele tinha, ou que seu próprio estômago faminto e mente cansada estavam lhe pregando uma peça, então continuou seguindo em frente.

Chegando numa pequena aldeia, foi atraído por um agradável aroma doce. Não pensou duas vezes e seguiu o cheiro como um abutre segue um cadáver.

"Isso parece ser pães. Ou será que são bolos quentinhos" — Pensou ele, salivando.

Aproximou-se da fonte dos desejos, no caso a casa de onde vinha aquele cheiro. Através de uma janela entreaberta, viu uma grande mesa bem servida com pães, bolos e alguns doces. Olhou em volta para se certificar de que era seguro e não haveria mais ninguém no local. Conseguiu ouvir algumas vozes em outros cômodos, tinha medo que alguém o pegasse, mas a fome era tamanha que ele se arriscou a entrar na casa. Sorrateiramente pulou a janela o mais silencioso possível para não fazer barulho. Ergueu os pés para alcançar alguns pães, e logo se escondeu embaixo da mesa. De tão faminto que estava, devorou o pão como se aquela fosse sua primeira refeição depois de anos.

— Ora, ora, veja se não temos um pequeno rato roubando nossa comida. — Um homem grande, gordo e assustador surgiu diante dele, se agachando para olhá-lo embaixo da mesa.

Em um rápido momento, Yoongi quase se engasgou ao ver que uma faca passava diante de seus olhos. O homem começou a atacá-lo, em um instinto de defesa, Yoongi conseguiu se esquivar da facada, porém sentiu seu rosto queimar. Ao colocar a mão no rosto, sentiu uma laceração em sua pele. Conseguiu evitar sua morte, mas a ponta daquela faca atingiu seu rosto, abrindo um grande ferimento, o qual fez o sangue quente escorrer entre suas pequenas mãos.


O Príncipe de AmicitiaOnde histórias criam vida. Descubra agora