Égua Andaluz

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Patrícia

— Dona, nunca vi uma "muié" tão perfumosa na vida – Aquelas palavras ditas ao meu ouvido fizeram meu corpo se acender como um pavio daqueles de desenho animado. Na verdade, acho que nunca fiquei excitada com apenas poucas palavras e um corpo forte junto ao meu. "Patrícia, PUTA MERDA! Isso só pode ser carência!".

— Tira esse trambolho agora, preciso ir – Falei com a voz mais controlada que eu conseguia, mas na verdade, eu queria mesmo era encher aquela desaforada de tapas, arranhões, mordidas, beijos... oi?

Desculpa eu, mas a senhora é mais gostosa que jabuticaba madura... Ô, delícia!!! – Ela fungou no meu pescoço como se eu fosse uma qualquer e ainda me deu uma mordida de leve... UMA MORDIDA DE LEVE... AI QUE ÓDIO!

Minhas emoções eram uma bagunça. Tudo estava completamente misturado. Ódio e tesão. PUTA MERDA PATRÍCIA! Tesão? Por uma mulher? E ainda por cima essa mulher! Ela tem uma cara de safada! Deve ter um rabo de saia em cada fazenda da região!

Fugi daquele corpo e entrei no carro e sai cantando pneu. Estava transtornada. Ainda sentia os seios firmes nas minhas costas e o hálito quente, o perfume amadeirado, a boca no meu pescoço, a mordidinha de leve... ahhhh, PUTA MERDA! A mordidinha de leve... "PUTA MERDA, Patrícia! PUTA MERDA!".

Cheguei na fazenda e fui direto para o meu quarto. Nem quis falar com ninguém. O que tá acontecendo comigo? Eu preciso falar com a Dra. Verônica, minha psicanalista. Faz um ano que eu a visito em segredo, e por causa dela eu percebi várias coisas sobre a minha vida. Ela está me ajudando a me encontrar e a descobrir quem eu realmente sou e não a máscara que eu construí durante toda a minha existência para agradar os outros.

Verônica me fez perceber que não era minha culpa não sentir desejo pelo Maurício. Ela me ajudou a ver que uma bolsa cara não desculpava uma costela quebrada. Ela me mostrou que eu casei com alguém que usava a mesma lógica da minha mãe... Assédio mental, abuso, inferiorizar o outro e, por fim, violência.

— Verônica? Desculpe te incomodar a essa hora, sei que você já acabou o expediente... – Liguei do telefone fixo do quarto, não queria que soubessem que meu celular estava funcionando.

— Paty? Oi! Tudo bem! Arthur resolveu me dizer que tinha uma maquete para entregar amanhã para a aula de artes, e estamos aqui colando palitos de dentes – Ela disse rindo e eu ri também. O filhinho dela era uma graça e sempre aprontava dessas.

— Eu preciso te contar umas coisas que aconteceram comigo e não sei o que pensar... – Relatei a ela tudo desde que cheguei a cidade. Meus dois encontros com a peoa safadona. A reação do meu corpo a ela, coisa que nunca havia acontecido com ninguém, principalmente após o estupro.

Depois do que Maurício fez comigo, até mesmo um toque inocente já fazia eu me retrair. Mas com a loira não foi assim. Seu toque me dava tesão e raiva. Ódio pelo sorrisinho malicioso.

— Patrícia, eu já falei para você uma vez... Tudo o que você precisa é um ambiente saudável, carinho, compreensão e amor. A partir disso você vai se conhecer: O que te move? O que te faz feliz? O que você deseja? O que te dá tesão? Quem é a Patrícia?

— Eu... Eu não sei... Eu não sei...

— Converse com a sua vó. Conte sobre tudo... Tudo o que aconteceu. Ela deve ser sua melhor amiga! Eu tenho certeza que ela o será, por tudo que você já me falou dela. Cure as feridas. A partir daí você vai começar a se conhecer.

— Mas o que eu sinto quando aquela mulher me toca? O que significa?

— Significa que você é uma pessoa normal de 28 anos que está se conhecendo, que está aprendendo o que gosta, que tem tesão, que é saudável...

Amor Animal (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora