três.

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"He wore a smile like a loaded gun."

Taehyung... - a mulher murmurou, encarando suas mãos entrelaçadas por um momento, antes de se tem retrair ao toque que, tão breve, já era capaz de fazer com que sentisse demais. Taehyung também tinha o olhar direcionado para as mãos dela, e se arrependeria eternamente disso. Nayeon trazia na mão esquerda uma aliança tão delicada que não era justo que fizesse um estrago tão enorme no coração do homem que, anos antes, sonhou em ser quem colocaria o anel em seu dedo.

— Eu não disse isso porque esperava a mesma resposta, Nayeon. - ele respondeu, engolindo seco e tentando ignorar a dor que oprimia seu peito, muito pior que o tiro. O rapaz abriu um daqueles sorrisos que sempre fizeram um ótimo trabalho quando o assunto era deixar o coração de Nayeon em pedacinhos, mas aquela era a verdade: a única coisa que o havia impedido de procurá-la durante todos aqueles anos era a certeza de que ela estava melhor sem ele, de que havia encontrado sua tão almejada paz. De que o esquecera.

Ou era o que imaginava. Como poderia, afinal, saber que de quando em quando ela despertava no meio da noite com o coração apertado e a respiração acelerada, perguntando-se se ele estava bem? Se estava vivo? Era como um velho hábito, arraigado demais em sua alma: preocupar-se com Taehyung e temer pela vida dele, ao que parecia, eram parte do que Nayeon era. Amá-lo, em sua essência, era parte dela.

— Não diz isso. - Nayeon devolveu, mexendo no conta-gotas do soro apenas como desculpa para fugir da intensidade dos olhos de Taehyung que, à meia luz do consultório, ainda eram capazes de enxergar cada detalhe de suas expressões, aumentando seu trabalho trabalho para escondê-las.

A mulher checou o celular, esperando alguma notícia de Jungkook, e a ausência de mensagens foi o suficiente para que ela se lembrasse exatamente da sensação de estar sempre à espera.

— Eu disse pra ele não ir sozinho. - Taehyung maneou a cabeça por um instante, notando a aflição da mulher - Mas você conhece o Kook.

— Eu conheço vocês. - Nayeon corrigiu, sentando de volta em sua poltrona - Você faria o mesmo se fosse ele no seu lugar. - revelou, e o desgosto daquelas palavras dividia espaço com uma pontada de admiração: ainda que abominasse os meios pelos quais os Kim faziam justiça, havia algo extremamente admirável na forma como defendiam os seus. Era um paradoxo que sempre lhe tirara o sono, uma questão com a qual ela nunca aprendeu a conviver em paz, e a perseguiria por toda a vida.

— É meu sangue, Nayeon. - ele concordou, e havia uma força em seus olhos que contrastava com a posição de debilidade que o sangue e as feridas lhe impunham - Eu tomaria dez balas por ele. - completou, olhando brevemente para o ferimento em seu tórax, e a mulher sentiu um arrepio percorrer sua espinha porque sabia que aquela não era uma figura de linguagem: ele morreria por Jungkook, sem piscar.

— Ninguém vai morrer hoje, Taehyung. Não aqui. - a mulher advertiu, sustentando o mesmo tom que ele usara, o que fez a sombra de um sorriso percorrer os olhos de Tae: ali estava ela, sua Nayeon — Eu vou estar aqui do lado... - ela completou, preenchendo o silêncio - Chame, se precisar de mim.

O rapaz anuiu, e um sorriso irônico delineou seus lábios no instante em que ela virou as costas, deixando-o sozinho com suas memórias: três anos, e não havia uma noite em que não precisasse dela.

CINCO ANOS ATRÁS

Não eram raras as vezes em que Nayeon acordava no meio da madrugada e perdia incontáveis minutos apenas observando o homem ao seu lado. Havia algo extremamente hipnótico na forma como o tronco inteiramente tatuado se fundia aos lençóis e seu rosto parecia mais relaxado do que quando acordado, fazendo com que ela se perguntasse constantemente o que se passava naqueles que eram os bons sonhos. Os maus eram inconfundíveis: começavam com ele murmurando seu nome, e terminavam com Taehyung revirando na cama em agonia. Quando Nayeon o acordava, ele a abraçava como se o mundo inteiro dependesse disso.

VIPERS - Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora