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"Let me die first or I'll die twice"

Quando o visor do celular exibiu o nome há tanto tempo não pronunciado foi como se um cubo de gelo escorresse pela garganta da mulher, congelando suas entranhas de um modo que a fez se curvar e apoiar as mãos nos joelhos, respirando fundo antes de recusar a ligação. Ela podia pensar em poucos motivos que levariam Jungkook a lhe procurar, e nenhum dos cenários que sua mente foi capaz de formular lhe agradava.

— Doutora, a senhora está bem? - uma enfermeira tocou brevemente suas costas, e a mulher se afastou em um sobressalto. Era exatamente aquele estado de alerta que a simples lembrança do sobrenome Kim fazia com ela. E esse era apenas mais um dos motivos que fizeram com que fechasse todas as portas daquele passado a sete chaves, anos atrás.

— Sim! Claro! - ofegou, desenhando um sorriso forçado nos lábios enquanto sentia o celular vibrar mais uma vez entre seus dedos, fazendo com que precisasse conter o impulso de jogá-lo na parede e fazer com que se calasse de uma vez por todas - Você pode checar o paciente do leito 8 pra mim, por favor? Acho que a sonda pode estar obstruída... - conseguiu dizer, respirando com alívio quando foi deixada sozinha mais uma vez. Não que isso fosse de fato motivo para alívio, quando o nome de seu ex cunhado seguia aparecendo na tela do celular insistentemente.

No momento da terceira ligação ela já sentia o desespero nublando seus olhos e jogou o celular sobre a mesa do conforto médico orando aos céus para que ele desistisse, mas quando a tela se iluminou pela quarta vez, fazendo o coração da mulher se apertar dentro do peito diante da única razão plausível para ter Jungkook insistindo tanto, deixou que os dedos trêmulos pegassem o aparelho sobre a mesa, prendendo a respiração por um momento antes de enfim atender à ligação.

— Nayeon? - a voz do homem soava algo entre temerosa e aliviada, quase como se não acreditasse que ela, de fato, atendia. Por Deus, ela mesma não acreditava naquilo.

— O que houve, Jungkook? - perguntou, a voz tão trêmula que se surpreendeu por ele ter compreendido. Cobriu os lábios com uma das mãos a fim de evitar um soluço, prevendo o que ouviria a seguir.

— É o Taehyung, Nayeon. - ele disse sob a respiração, e a menção do nome do homem que mais amara em toda a vida foi o suficiente para que Nayeon sentisse um lamento engasgado escapar de dentro dela, direto seu coração partido.

Era como ter seu pior pesadelo concretizado, aquele que rondava sua mente durante todos os anos que passaram juntos, e mesmo hoje, longe dele: o medo de perdê-lo, tão intenso e devastador quanto a certeza de que isso fatalmente aconteceria.

— Como? - a palavra saiu de seus lábios em um murmúrio, enquanto tentava secar as lágrimas que só então percebeu que haviam escapado.

— Moony... - a voz de Kook era tão afetuosa quanto o uso do apelido, quando ele completou - Ele está vivo.

O alívio que preencheu cada centímetro do 1,70m da mulher era tão revigorante quanto doloroso, como se cada nervo fizesse questão de atestar o fato de que ela também vivia. Talvez fosse só uma questão de ter perdido a prática - antigamente, ela costumava passar por aquilo mais frequentemente do que gostaria de se recordar. Pensando melhor, não era tão diferente assim da sensação que costumava ter sempre que ele voltava de algum lugar. Muitas vezes não inteiro, mas vivo. E para Nayeon, isso bastava. Tinha de bastar.

— Você não podia ter começado por aí? - conseguiu dizer depois de alguns segundos, franzindo o cenho e brincando com um fio solto no sofá de couro para distrair as mãos que ainda tremiam. A risada de Kook soou do outro lado e era tão familiar que parecia um soco no estômago: os Kim compartilhavam do mesmo riso que parecia carregar sempre um toque de melancolia. Era quase como se soubessem que cada risada poderia ser a última.

VIPERS - Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora