sete.

2.7K 395 76
                                    

"In another life I would be your girl
We'd keep all our promises
Be us against the world"

QUATRO ANOS ATRÁS

— Moony... - a voz de Taehyung chegou aos ouvidos de Nayeon feito um lamento. Dolorido, profundo, quebrado. Ela não abriu os olhos de pronto, não poderia. Quando o fez, foi para se deparar com o mesmo olhar desolado naquelas íris que continham galáxias inteiras e que, naquele instante, refletiam explosões cósmicas de uma dor que fazia par à sua - O bebê..?

Taehyung fitava o vazio.

Não mais o vazio dos olhos de Nayeon, mas o de seu ventre.

As palavras morreram na garganta da mulher em uma negativa sofrida, ela soube naquele momento que nunca conseguiria dizer as palavras, de fato. Não quando tivesse os olhos em Taehyung, para ver o estrago que causariam. O choro que veio em seguida não foi como nenhum outro: era como se ela chorasse com o corpo inteiro. Como se cada fibra de seu ser sofresse da mesma dor. Nayeon sentia os braços de Tae em torno de seu corpo - e coração - vazio. E aquela foi a primeira vez em que não se sentiu abrigada por eles.

— Tae... - o apelido saiu como um sussurro, e na realidade ela pretendia dizer o nome inteiro, mas foi traída pelo queimor em sua garganta maltratada pelo choro. Quando ergueu os olhos para encará-lo, foi um daqueles momentos que, fosse outra a situação, os teria feito sorrir e atestar o fato de que eram mesmo feitos um para outro. Porque bastou aquele olhar, pesaroso e desesperado, para que Taehyung soubesse exatamente o que Nayeon precisava lhe dizer.

Era chegado o - tão abrupto quanto inevitável - fim. 

Nayeon pôde ver os músculos do maxilar do rapaz se tensionando sob a pele marcada de um pranto silencioso. Viu também quando ele engoliu seus sentimentos, um a um, tomando um tempo longo para estabilizar as cordas vocais e então responder o que, ela percebeu com um sabor agridoce na língua, não era exatamente uma surpresa. Havia tanto angústia ali, tanta culpa, que ela se perguntava se era mesmo real e possível que alguém pudesse sofrer tanto, e seguir vivendo.

— Eu entendo.

Os dedos de Nayeon se agarraram aos lençóis da cama do hospital, e ela cerrou os olhos e os dentes, contendo a vontade que tinha de gritar. Porque sabia que ele buscava facilitar as coisas, tornar mais leve o fardo dela de terminar tudo de vez. Mas isso só aumentava seu sofrimento em ver o quanto Taehyung se martirizava por um amor cujo rascunho feito nos céus se perdera sobre a Terra.

— Não diz como se esperasse por isso. - ela grunhiu, sentindo a raiva preencher cada pedacinho de seu corpo numa tentativa de substituir a dor. Era uma raiva avassaladora e ardente, revoltada diante da impotência frente àquele destino cruel que foram forçados a enfrentar, e com o qual Taehyung se conformava com a melancolia de quem fora, paradoxalmente, criado para a glória e a ruína.

— Vai ser o melhor pra você. - Taehyung mordeu o lábio inferior com tanta força que arrancou dali gotas do sangue que o forçava a se afastar do que tinha de mais precioso em toda a vida. Segurando o rosto de Nayeon entre as mãos, ele deixou que seus olhos varressem cada centímetro daquela figura, tentando gravar os menores detalhes e sofrendo intimamente por ter como última imagem dela o momento em que Nayeon tinha seu coração partido - Eu sinto tanto, meu amor. - confessou, terminando ali de parti-lo de vez.

— Eu achava que.... - Nayeon soltou sob a respiração, no instante em que Taehyung uniu sua testa à dela, porque não podia mais suportar o olhar da mulher que vasculhava seu interior, revirando-o para colocá-lo de cabeça para baixo. Do lado certo - Merda, Tae, eu achava que conseguiríamos...

Taehyung gostaria imensamente poder concordar. Céus, daria sua vida por uma nova, ao lado dela. Uma em que pudessem viver aquilo pelo que seus corações imploravam. Mas não era verdade: aquele momento era uma dor tão profunda quanto aguardada. E durante todos os anos que tiveram juntos, Tae forjou sua carapaça para suportar aquele momento. Era uma pena que não tivesse conseguido.

— Shh... - ele cobriu os lábios dela com os seus por um instante em um último beijo, tão prematuro quanto aquele fim. Cerrando os olhos, forçou-se a quebrar o contato pois sabia - merda, tinha certeza - que seria mais difícil a cada segundo. E aquela foi a primeira vez em que o ouviu implorar. - Por favor, não chore...

O carinho que Tae fazia em seus cabelos fez Nayeon chorar ainda mais intensamente, especialmente quando ele abriu um de seus sorrisos quebrados, prometendo a única coisa que ele acreditava ser capaz de remediar parte da dor que ela sentia, mas que só a faria sofrer, por prometer o impossível:

Você nunca mais vai me ver, Moony. Vai ser...

PRESENTE

— Você me prometeu que seria como se nunca tivesse existido... - Nayeon murmurou, depois de longos minutos de um silêncio que só era interrompido pelo som eventual do choro de um ou do outro, quando não conseguiam se conter. Jungkook estava a caminho, e restavam apenas alguns minutos daquele encontro que era feito uma fenda temporal, carregando-os de volta para um passado tão remoto quanto vivo em suas emoções.

— Eu s-

— Se disser que sente muito mais uma vez, juro que dou um soco na sua cara. - ela resmungou, limpando as lágrimas com o dorso das mãos e perdendo por pouco o sorriso que nasceu nos lábios dele. Mais uma vez, ele se via diante da garota que um dia colocou uma cicatriz em sua testa, minutos antes de roubar seu coração - Isso foi tão egoísta... - continuou, desabafando o que tivera tempo de amadurecer em seus pensamentos durante todos aqueles anos. Podia ver nos olhos de Taehyung que ele ainda não havia compreendido seu ponto, e se flagrou quase sorrindo para o modo como as sobrancelhas dele se uniam em curiosidade, parecendo exatamente como ela se recordava - Eu nunca trocaria todas as outras lembranças para evitar uma dor que é minha. Eu vivi. Foi necessária. E eu não me esqueceria de nada, mesmo me dessem essa escolha.

Taehyung maneou a cabeça uma vez, erguendo um cantinho dos lábios porque aquilo soava tanto como Nayeon: havia mais força dentro dela do que ele jamais poderia supor. Ela não fugiria da dor, tal qual não fugiu do amor. O mesmo valia para ele, mas nesse caso o rapaz culpava sua tendência masoquista: rememorar os tempos felizes com ela provocavam uma dor tão intensa quanto as memórias do fim. E nem por isso ele deixava de fazê-lo, dia após dia, noite após noite.

    — Você realmente acha que conseguiríamos? - a pergunta veio acompanhada dos mesmos olhos curiosos, e fez com que os olhos de Nayeon se nublassem de algo que ele não reconheceu de pronto. Quando ela se sentou ao seu lado, segurando seu rosto nas mãos tal qual ele fizera quando se viram pela última vez, ele compreendeu: era a melancolia de quem aceitara seu destino. Com um dos sorrisos que aprendera com ele, carregado de tanto afeto e tristeza, Nayeon deixou que escorresse de seus lábios uma verdade dolorosa e reconfortante.

    — Em outra vida, Tae...

    Aquilo soava como uma promessa.

    Uma que, com alguma sorte, eles conseguiriam cumprir.

VIPERS - Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora