cinco.

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"It's a frightening thought, that in one fraction of a moment you can fall in the kind of love that takes a lifetime to get over."

    "Eu sinto muito, por tudo."

    Nayeon deixou que as palavras se assentassem por um momento, porque havia simplesmente coisas demais envolvidas naquele sentença tão simples: não era apenas sobre os anos em que estiveram juntos, mas também sobre os que vieram depois destes, cujas cicatrizes ainda eram visíveis em ambos. Havia tanto pelo o que se desculpar. E não só Taehyung, ao contrário do que ele parecia acreditar. Por isso, quando falou, foi para expurgar parte da culpa que também cabia a ela, e que não passava um dia sequer sem lhe assombrar.

    — Eu também sinto, Tae. - sussurrou num tom carregado de sofrimento em cada nota, e o rapaz se assustou menos com o uso do apelido do que com o fato de que Nayeon segurou a mão dele entre as suas por um momento breve, deixando escapar um soluço que ela logo conteve, soltando-o novamente. Por Deus, ela sentia tanto.

    O modo como Nayeon cobriu os lábios para impedir o choro deixou evidente pela segunda vez na noite a aliança que cintilava em sua mão esquerda, e dessa vez Taehyung sentiu algo próximo da dor física do tiro. Só que pior.

    — Você é feliz?

    A pergunta veio seca, e fez Nayeon forçar a saliva por sua garganta, engolindo seco. Algo no modo como Taehyung construiu a questão, contudo, quase lhe fez sorrir: ainda que fosse clara a razão de sua curiosidade, ele era incapaz de perguntar se "ele" a fazia feliz. Porque apesar de toda a problemática do rompimento, Tae sempre respeitou sua decisão e nunca se colocou numa competição depois do fim. E Nayeon o conhecia pelo que era - um filho da mãe masoquista, às vezes - e sabia que vê-la sendo amada por outro lhe machucava enormemente, mas não mais do que ele pensava merecer.

Ao contrário da pergunta, a resposta não era tão direta. Nayeon tinha muitas alegrias no trabalho, onde conseguia participar positivamente da vida de tantas pessoas. E também no casamento, tendo encontrado em Jisung um companheiro carinhoso e leal. Felicidade, contudo, era um estado de espírito do qual ela abdicara com resignação. E, por Deus, como gostaria muito de responder no ato e proclamar uma alegria sem ressalvas. Mas era Taehyung, ali. E mentir para ele ainda era o que mais odiava fazer em todo o mundo.

— Às vezes.

Sua resposta veio com um sorriso triste, e pela primeira vez Taehyung soube o que era ver nos lábios de quem se ama um daqueles sorrisos quebrados que sempre preenchiam os seus. Céus, como doía. Acenou uma vez, compreendendo aquele sentimento mais do que gostaria, mas desejando que fosse diferente para ela: contentava-se com uma vida de alegrias fugazes, porque era para isso que fora feito. Nayeon, não. Ela merecia a paz de uma felicidade plena, que pode não ser movida por paixões mas que deixa o coração em festa. Ela era felicidade, até onde sua compreensão do sentimento alcançava.

Como se movidos por uma força externa, ou talvez por ainda partilharem daquela inquietante conexão de almas, o silêncio que se seguiu fez com que submergissem pouco a pouco, afogando-se nos caminhos da memória até um momento de felicidade extasiante, mas que hoje os arrebatava em ondas de uma dor irreparável: a lembrança do dia em que foram tão felizes como jamais voltariam a ser.


CINCO ANOS ATRÁS

    — Nós estamos comemorando algo?

    O sorriso que talhava a voz de Taehyung, moldando-a numa melodia gostosa, fez com que os cantos dos lábios de Nayeon se erguessem antes mesmo de seus olhos seguirem o som. Quando o fizeram, encontraram o namorado escorado no batente da porta, munido daquele sorriso que a desconcertava e que aparecia tão raramente que ela sentia vontade de guardá-lo no relicário de suas memórias mais preciosas. E, de fato, aquela era uma que guardaria por toda a vida.

VIPERS - Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora