Capítulo XV

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Os mornos raios de sol da manhã entravam precariamente por entre as frestas da veneziana de madeira, não sendo suficiente para iluminar o quarto, porém bastando em deixar visível seu caminho para olhos acostumados. E foi nessa penumbra que Peter acordou, suspirando longamente e apertando de maneira frouxa e preguiçosa a superfície sobre a qual deitava. Na letargia do sono, ele bocejou e esfregou seu rosto no travesseiro, segurando o tecido da fronha entre os dedos, não querendo que a sonolência o abandonasse, uma vez que isso significava ter de levantar, e ele de jeito nenhum estava disposto a sair do conforto quente da cama.

Almejando voltar a dormir, Peter experimentou mudar de posição, somente para ter seu movimento impedido pelo peso em sua cintura, que antes ele inconscientemente julgara como sendo do cobertor, mas que agora o alarmava.

Abrindo os olhos de súbito, a primeira coisa que ele viu foi um rosto tão perigosamente perto do seu que os narizes quase se tocavam, concluindo no mesmo instante que havia alguém deitado em sua frente, com um dos braços esticados enlaçando sua cintura e uma pernas entre as suas.

Assustado, tudo o que Peter conseguiu pensar foi em se desvencilhar do toque, e com movimentos bruscos ele saltou para trás no colchão, errando sua beirada por pouco. O Invasor de Camas, entretanto, não tivera a mesma sorte. Empurrado para trás, nada pôde fazer para evitar a queda, indo ao chão com um barulho alto, enfim despertando no processo.

Peter, um pouco temeroso, se curvou sobre a cama, espiando cautelosamente a pessoa que agora gemia e praguejava enquanto tentava levantar.

— Mas que merda foi essa? — O homem no chão praticamente rosnou, e Peter finalmente reconheceu quem era.

— Senhor Stark?! — Exclamou alarmado, rapidamente se levantando a fim de ajudar o homem que ainda estava caído.

Interrompendo seu vitupério apenas para negar o auxílio, Tony se levantou e sentou-se na cama, esfregando o braço esquerdo com uma mão e dispensando um olhar carrancudo à Peter, que agora parecia envergonhado parado em pé próximo ao outro.

Se perguntando o que o homem fazia em seu quarto, o garoto finalmente recordou do acontecido durante a noite, quando ele visivelmente bêbado invadira seus aposentos para simplesmente deitar consigo. A lembrança do Stark o abraçando fez enrubescer suas bochechas, ainda mais depois de lembrar de como se sentiu confortável com ele.

— O que faz aqui, Senhor Stark? — Peter perguntou, cauteloso.

Tony apenas deu de ombros, e esfregou as têmporas, parecendo, para a completa mortificação de Peter, envergonhado.

Piscando algumas vezes, Peter assistiu um tanto confuso o homem simplesmente levantar e sair do quarto, sem dizer uma única palavra. Dando de ombros, ele voltou a se deitar na cama, não dispensando muita atenção ao motivo pelo qual o Stark havia ido parar em seu quarto. Certamente ele, bêbado como estava, tinha somente confundido os quartos no escuro da noite.

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Durante o desjejum, o par de viajantes se viu sozinho na mesa, pois seus anfitriões ocupavam-se com os preparativos para a partida da princesa no dia seguinte. Porém mesmo com a desinibição devido a ausência de outras companhias, o constrangimento que Tony sentia por ter se rendido tão facilmente aos seus desejos na noite anterior não fora amenizado. Ainda sentia-se um tanto culpado por ter simplesmente invadido o quarto alheio, mas internamente agradecido por não ter feito nada mais embaraçoso do que abraçar o garoto para dormir.

Mas não era os eventos passados que lhe atormentavam agora, era o fato de que após ter experimentado tamanha proximidade, tudo dentro de si parecia ansiar por qualquer mínimo toque de Peter. Desde pequenos roçares de mão acidentais quando ambos iam pegar o mesmo objeto, até o toque de seus joelhos, quando Peter se virava quase totalmente de lado para conversar consigo durante a refeição. Esse desejo todo tão irracional estava quase o pondo louco.

Along The Way | StarkerOnde histórias criam vida. Descubra agora