Capítulo 4

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JANE RESPIROU FUNDO enquanto ela caminhava para a porta da frente, limpando as mãos na toalha de chá quadriculada. Ela estava cozinhando a manhã inteira e a casa gritava festa — bandeirolas penduradas na escada, ouropel em torno do umbral das portas, e uma explosão de vermelho e dourado na mesa de jantar. Ninguém podia acusá-la de não entrar no espírito do Natal, mas ela tinha que admitir que estava com fadiga natalina.

Através do vidro da porta da frente, ela podia ver Milly e o esboço da sua parceira, Georgia, do lado dela. Que irônico que Milly tenha escolhido uma Georgia também. Jane esperava que ela fosse melhor para Milly do que a sua Georgia tinha sido para ela. Mas ela realmente tinha sido sua Georgia?

Essa Georgia parecia estar usando um casaco roxo-fluorescente. Uma artista, Milly disse. Jane supôs que as cores auto-declarativas vinheram com o território artístico. Ela girou o trinco, abriu a porta e apertou suas mãos, sorrindo congelada na varanda.

"Feliz Natal, mamãe." Uma sacola com garrafas de vinho tintilaram em uma mão, enquanto Milly puxava a mãe para um abraço com a outra e roçava os lábios gelados contra a bochecha quente de Jane. Milly estava vestindo uma nova echarpe vermelha, Jane notou. Georgia tinha comprado para ela?

Jane aceitou um buquê de aparência cara do novo amor da sua filha. Ela tentou não ficar encarando o cabelo grisalho de Georgia, as rugas no canto da boca, ou o reconhecimento instantâneo em seus olhos que estava refletido no olhar da própria Jane. Não poderia ser...poderia...? Mas Jane tinha certeza que sim.

O sangue gelou nas veias dela, enquanto seus pensamentos corriam à 100 km/h gritando à plenos pulmões. Seu corpo, no entanto, ficou parado.

"Tão encantador te conhecer." Jane disse, sentindo o gosto do medo na língua.

O aperto de mão da Georgia era firme, suas mãos, macias, hidratadas; exatamente como Jane se lembrava delas.

"Você também." Georgia disse.

O último fragmento de dúvida que Jane tinha, foi apagado. Ela reconheceria aquela voz em qualquer lugar. A voz que partiu seu coração, a voz que lhe dera tanto, mas que também a confundiu. A voz que ela nunca esqueceu, o corpo que ela nunca esqueceu. A mulher que roubara seu ar toda vez que pensava nela. E ali estava ela, na sua casa, a namorada da sua filha.

Jane pôde ver as nuvens de descrença se formando nos olhos de Georgia enquanto olhava para ela novamente.

Evitando o olhar de Milly, Jane pegou os casacos delas, e os levou para sala. Georgia tinha mudado de perfume desde a última vez que as duas tinham se visto, mas ela tinha o mesmo cheiro. O aroma dela era promissor e excitante, como sempre.

De repente, Jane estava muito ciente de que estava vestindo um avental com a imagem do Rudolph nele, o gigante nariz vermelho e fofo se projetando do seu estômago. Ela poderia parecer mais suburbana do que isso, se tentasse? Ela pôs as mãos no cabelo, mas logo em seguida parou. O que ela estava fazendo? Era sempre a mesma coisa quando Georgia estava no recinto: as mãos e a boca dela não tinham a menor ideia do que fazer em seguida.

" O que eu posso trazer para você? Eu tenho espumante, branco, tinto. Ou uma cerveja se você preferir."

Jane ouviu a voz dela passando pelas sutilezas sociais, mas elas soavam como as palavras de outra pessoa, na sala de um outro alguém, completamente. Ela sentiu as bochechas corarem instantaneamente, enquanto o casal se sentava no sofá de couro marrom da sua casa como se fosse algo que faziam diariamente, Milly pegando a mão da namorada imediatamente.

Georgia era a namorada da sua filha, e de repente, Jane achou o pensamento de passar as próximas 48 horas esmagador. Ela se concentrou em controlar a expressão facial e morder os lábios. As pernas de Georgia ainda eram mais longas que as dela.

⚢Tinha Que Ser Você - Clare Lydon (PT- BR)⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora