Capítulo 8

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ERA 6 DE JANEIRO quando o celular de Jane exibiu um número desconhecido. Simplesmente dizia: "Quer marcar um encontro e conversar?" Ela soube de quem era num instante, podia sentir a vibe vindo do celular. Ela respondeu imediatamente e elas marcaram uma reunião para o dia seguinte.

E agora Jane sentou, mexendo no celular, se perguntando se ela ia aparecer. Se perguntando se ela mesma tinha feito a coisa certa por ir. Ela estava ficando paranoica pensando que Milly iria vê-la, embora tenha escolhido uma cafeteria que sequer ficava perto de onde Milly trabalhava ou morava.

Ainda assim, o medo estava ali e era real: se Milly visse ela e Georgia juntas, ela poderia nunca perdoa-la. Ela certamente não acreditaria que as intenções de Jane eram honráveis: para limpar o ar e dizer adeus para Georgia, de uma vez por todas. Para satisfazer a necessidade que ela tinha dentro de si mesma por um fechamento.

Georgia entrou, sentou, e de repente a sala ficou mais barulhenta para Jane, mais iluminada. Ela estremeceu de antecipação. Ou talvez, fossem só os nervos dela. Tudo estava estremecendo para Jane — ela simplesmente não tinha ideia de como agir nessa situação.

"Obrigado por concordar em se encontrar comigo." Jane encolheu os ombros. "Eu realmente não tive escolha." Georgia ficou alguns segundos em silêncio digerindo isso. "Como está Milly?" "Não-comunicativa. Ela não quer falar comigo, e eu não a culpo. Você sim?" "Suponho que não" Pausa. "Mas isso não é culpa de ninguém." "Acho que é um pouco diferente quando você tem 23 e descobre que estava dormindo com a ex da sua mãe." Georgia ficou em silêncio de novo.

Jane se permitiu um momento para avaliá-la. Até seus joelhos pareciam elegantes, espreitando debaixo da saia lápis. Como até os joelhos dela pareciam elegantes? "Você parece bem." Ela se ouviu dizer. Banalidade — era isso o que a situação a levou a falar; banalidades e conversa fiada. "Você também."

Jane sacudiu a cabeça. "Não, eu não. Eu pareço ter a idade que eu tenho— enquanto você — você não parece ter mais do que 45." Ela acenou com a mão. "Não é surpresa que a minha filha tenha se apaixonado por você — ela provavelmente pensou que você era dez anos mais nova." Ela sacudiu a cabeça. "Você claramente não teve filhos." Jane encarou Georgia, aí, sua boca se contraiu. "Teve?" Ela viu algo passar pelo rosto de Georgia enquanto ela sacudia a cabeça. Ela os queria? Ela tentou ter? Deus, ela esperava que não a tivesse machucado; era a última coisa que ela queria fazer.

"Eu não tive." Georgia respondeu. "Isso nunca veio naturalmente." Ela pausou. "Mas de qualquer forma, você parece ótima, acredite em mim. Radiante." Ela colocou a mão no braço de Jane. "Você me parece a mesma, Janey."

Jane engoliu em seco: o toque de Georgia ainda era o suficiente para fazê-la desabar depois de todos esses anos.

Onde estava sua determinação de aço para limpar essa bagunça e ir embora?

"Ainda tem o mesmo padrão pelo o que vejo"

"Eu gosto de pensar que isso mudou desde a última vez que nos vimos," Georgia respondeu, com um sorriso triste envolto em seu rosto. "Eu sei que isso não começou da maneira que nós duas gostaríamos, mas ainda assim é maravilhoso te ver... Tomar um café com você."

"Eu sei." Jane suspirou. Ela desejava que não fosse, mas era. Ela se sentiu em casa, certa, de um jeito que ela nunca se sentiu com outro ser humano, jamais.

Será que sempre houve um buraco em forma de Georgia no coração dela? Ela sacudiu a cabeça com esse pensamento melodramático, mas talvez ela não estivesse tão longe da verdade.

"E Milly é uma mulher maravilhosa, você deveria estar orgulhosa. Ela vai fazer alguém muito feliz."

"Mas não você?" Doeu em Jane o simples fato de dizer essas palavras.

⚢Tinha Que Ser Você - Clare Lydon (PT- BR)⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora