Capítulo 07

127 12 7
                                    

"Quem usa a coroa deve suportar o seu peso"

Mary Stuart

— Você está bem mesmo? — Elizabeth perguntou pela terceira vez.

— Eu só torci o tornozelo. Já falei que não precisa se preocupar. Veja. — me levantei e dei voltas ao seu redor.
— Estou totalmente bem.

Ela sorriu aliviada.

— Ainda me sinto envergonhada.

— Não deveria. — Respondi me sentando na cama.

— Não deveria ter mentido, mas não queria que pensassem que somos incapazes de fazer algo que parecia tão fácil. No final quase ocorreu um desastre.

— Elizabeth, está tudo bem, não se preocupe mais. Vamos ao jardim, creio que preciso de um pouco de sol.

Elizabeth me olhou divertida.

— Com certeza, se ficar mais um pouco dentro do quarto será confundida com um fantasma.

...

Mais tarde, fui informada sobre um jantar real que aconteceria a noite e eu me perguntava se isso era mesmo algo necessário? O que eu tinha visto até ali era uma corte enorme e sem vida. Nada parecia alegre, o sorriso das pessoas eram amarelos e ninguém parecia realmente feliz. Felicidade não parecia ser algo a existir por aqui.

— É bom tê-las conosco. — Henry tentou um sorriso. Francis e Philip estavam sentando lado a lado frente a mim e Elizabeth, que estava ao meu lado.

— O prazer é nosso. — Elizabeth sorriu e fez uma pausa. — Quando falaremos sobre o casamento?

Perguntou diretamente ao Rei, enquanto todos os olhares se dirigiam a ela.

— Não é necessário falarmos disso agora, não acha, majestade? — Catherine perguntou. Eu a encarei.

— Por quê não? Acontecerá mais cedo ou mais tarde. — falei.

— Falaremos do casamento assim que decidirmos uma data. — Henry concluiu, deixando no ar e dando voz a um silêncio constrangedor.

— Vamos apenas comer. — Catherine disse, dando fim ao assunto

...

— O rei não deveria saber? Quando fizemos o acordo já tínhamos uma data estabelecida. — Elizabeth questionou quando deixamos o jantar.

— Sim, quando seria a sua data?

— 15 de agosto, de 1555.

— Estamos em 10 de setembro. — comentei pensativa — Só viemos para cá porque tentaram nos matar, se não fosse isso ainda estaríamos esperando em um convento.

— Sim, você tem toda a razão. É como se tivessem nos guardado dentro de uma gaveta esperando o momento que pudessem nos usar.

— Isso parece tão assustador!

— Mas é. — concordou. — Vejo você amanhã, Mary. Estou realmente cansada.

— Tudo bem, até amanhã. — eu sorri e Elizabeth sumiu do meu campo de visão. Enquanto eu dava curtos passos em direção ao meu quarto pude ouvir outros atrás de mim. Virei-me rapidamente dando de cara com Francis.

— Não queria assustar você.

— Não assustou. — Eu disse.

— Como você está? Ainda está machucada?

— Esperei você ontem. Pensei que iria me ver.

O que eu estava falando? Rapidamente me arrependo das minhas palavras, enquanto ele pensa em uma boa maneira de rejeita-las.

— Eu iria, mas estive ocupado.

— Está tudo bem.

— Eu a acompanho até seu quarto.

— Não acho que seremos bem vistos com isso.

— Não se importe. As pessoas falarão de qualquer jeito. — Francis disse, e então demos passos adiante. — Até agora não conseguimos ter uma longa conversa. Parece nunca haver tempo para nós.

— As coisas acontecem muito rápido por aqui. Deve ser por isso. — Continuei olhando para frente, me negando a encara-lo. — As vezes, penso em como tudo é morto e parado por aqui. E então acontecem coisas que me fazem pensar ao contrário. Não tenho uma opinião concreta sobre nada. — eu disse, paramos em frente a imensa porta do meu quarto, Francis me olhou.

— Você parece ter muita opinião. O que acha que eu sou?

O encarei com timidez, enquanto ele sorria.

— Eu também não tenho uma opinião concreta sobre você.

Ele sorriu.

— Até amanhã.

— Até. — disse e antes que ele virasse o corredor e eu entrasse no quarto, perguntei: — E você, o que acha que eu sou?

— Luz para esse lugar morto e parado? — ele disse na tentativa de me fazer sorrir.

Eu sorri. Ele iria ser um bom amigo? E talvez, só talvez, um bom marido?

Elizabeth Tudor

— Bom dia. — ouvi a voz de Phillip ecoar pela cozinha.

— O que está fazendo aqui? — perguntei perplexa. Ninguém da realeza costumava andar na cozinha, exceto eu e Mary, que havíamos sido criadas assim.

— O que você está fazendo aqui? — Ele jogou a pergunta novamente para mim.

— Eu gosto de pães frescos. As vezes, quando acordo cedo, venho ajudar a preparar.

— Está falando sério? — ele riu, parecendo incrédulo.

— Obviamente. Eu fui criada de um modo diferente de você, alteza. Em um convento crescemos iguais, coisas como essas são rotina para mim. — Eu disse deixando Phillip pensativo.

Coloquei alguns pães em uma pequena sexta e caminhei em direção ao quarto de Mary, com Phillip ao meu encalço.

— Você quer tanto assim casar comigo?

— Do que está falando? — perguntei parando para encara-lo.

— Ontem no jantar. Só nos conhecemos há alguns dias, é loucura já pensar em casamento.

— Philip, isso não é sobre nós. — eu disse, tentando ser o mais gentil possível.

— Não?

— Você está envolvendo sentimentos em uma aliança? — perguntei e ele riu.

— Claro que não, desde o início eu já sabia como iria funcionar.

— Então, vamos apenas cumprir isso, está bem? Irá acontecer, independente de você querer ou não.

— Por quê você faz parecer tão fácil?

— Eu faço? — sorri. — Só estou tentando viver naturalmente como uma garota de 20 anos faria.

— É. Mas você não é só uma garota de 20 anos. É uma rainha, você ainda não sentiu o peso da sua coroa.

— Pode acreditar, eu senti sim. — Nos encaramos por alguns segundos, até Phillip se afastar.

— As coisas serão mais difíceis do que imagina. Até mais, então.

Ele se virou para ir embora.

— Phillip, na próxima vez tente esconder melhor as coisas em seu quarto. — eu disse, fazendo referência a uma garota que entrou lá há algumas noites atrás. Phillip sorriu envergonhado eu apenas ri, entrando no quarto de Mary.

Mais tarde, depois do café da manhã, fomos chamadas a sala do trono, onde Catherine nos informou sobre a festa do vinho, onde muitos escoceses e ingleses estariam presentes. E de como nós precisávamos estar ao lado de Francis e Philip, para os dar confiança de uma aliança forte e segura pelos próximos anos.

Assim que saímos me peguei pensando que aulas de teatro poderiam ser muito úteis de agora em diante.

 Between QueensOnde histórias criam vida. Descubra agora