"Quem usa a coroa deve suportar o seu peso"
Mary Stuart
— Você está bem mesmo? — Elizabeth perguntou pela terceira vez.
— Eu só torci o tornozelo. Já falei que não precisa se preocupar. Veja. — me levantei e dei voltas ao seu redor.
— Estou totalmente bem.Ela sorriu aliviada.
— Ainda me sinto envergonhada.
— Não deveria. — Respondi me sentando na cama.
— Não deveria ter mentido, mas não queria que pensassem que somos incapazes de fazer algo que parecia tão fácil. No final quase ocorreu um desastre.
— Elizabeth, está tudo bem, não se preocupe mais. Vamos ao jardim, creio que preciso de um pouco de sol.
Elizabeth me olhou divertida.
— Com certeza, se ficar mais um pouco dentro do quarto será confundida com um fantasma.
...
Mais tarde, fui informada sobre um jantar real que aconteceria a noite e eu me perguntava se isso era mesmo algo necessário? O que eu tinha visto até ali era uma corte enorme e sem vida. Nada parecia alegre, o sorriso das pessoas eram amarelos e ninguém parecia realmente feliz. Felicidade não parecia ser algo a existir por aqui.
— É bom tê-las conosco. — Henry tentou um sorriso. Francis e Philip estavam sentando lado a lado frente a mim e Elizabeth, que estava ao meu lado.
— O prazer é nosso. — Elizabeth sorriu e fez uma pausa. — Quando falaremos sobre o casamento?
Perguntou diretamente ao Rei, enquanto todos os olhares se dirigiam a ela.
— Não é necessário falarmos disso agora, não acha, majestade? — Catherine perguntou. Eu a encarei.
— Por quê não? Acontecerá mais cedo ou mais tarde. — falei.
— Falaremos do casamento assim que decidirmos uma data. — Henry concluiu, deixando no ar e dando voz a um silêncio constrangedor.
— Vamos apenas comer. — Catherine disse, dando fim ao assunto
...
— O rei não deveria saber? Quando fizemos o acordo já tínhamos uma data estabelecida. — Elizabeth questionou quando deixamos o jantar.
— Sim, quando seria a sua data?
— 15 de agosto, de 1555.
— Estamos em 10 de setembro. — comentei pensativa — Só viemos para cá porque tentaram nos matar, se não fosse isso ainda estaríamos esperando em um convento.
— Sim, você tem toda a razão. É como se tivessem nos guardado dentro de uma gaveta esperando o momento que pudessem nos usar.
— Isso parece tão assustador!
— Mas é. — concordou. — Vejo você amanhã, Mary. Estou realmente cansada.
— Tudo bem, até amanhã. — eu sorri e Elizabeth sumiu do meu campo de visão. Enquanto eu dava curtos passos em direção ao meu quarto pude ouvir outros atrás de mim. Virei-me rapidamente dando de cara com Francis.
— Não queria assustar você.
— Não assustou. — Eu disse.
— Como você está? Ainda está machucada?
— Esperei você ontem. Pensei que iria me ver.
O que eu estava falando? Rapidamente me arrependo das minhas palavras, enquanto ele pensa em uma boa maneira de rejeita-las.
— Eu iria, mas estive ocupado.
— Está tudo bem.
— Eu a acompanho até seu quarto.
— Não acho que seremos bem vistos com isso.
— Não se importe. As pessoas falarão de qualquer jeito. — Francis disse, e então demos passos adiante. — Até agora não conseguimos ter uma longa conversa. Parece nunca haver tempo para nós.
— As coisas acontecem muito rápido por aqui. Deve ser por isso. — Continuei olhando para frente, me negando a encara-lo. — As vezes, penso em como tudo é morto e parado por aqui. E então acontecem coisas que me fazem pensar ao contrário. Não tenho uma opinião concreta sobre nada. — eu disse, paramos em frente a imensa porta do meu quarto, Francis me olhou.
— Você parece ter muita opinião. O que acha que eu sou?
O encarei com timidez, enquanto ele sorria.
— Eu também não tenho uma opinião concreta sobre você.
Ele sorriu.
— Até amanhã.
— Até. — disse e antes que ele virasse o corredor e eu entrasse no quarto, perguntei: — E você, o que acha que eu sou?
— Luz para esse lugar morto e parado? — ele disse na tentativa de me fazer sorrir.
Eu sorri. Ele iria ser um bom amigo? E talvez, só talvez, um bom marido?
Elizabeth Tudor
— Bom dia. — ouvi a voz de Phillip ecoar pela cozinha.
— O que está fazendo aqui? — perguntei perplexa. Ninguém da realeza costumava andar na cozinha, exceto eu e Mary, que havíamos sido criadas assim.
— O que você está fazendo aqui? — Ele jogou a pergunta novamente para mim.
— Eu gosto de pães frescos. As vezes, quando acordo cedo, venho ajudar a preparar.
— Está falando sério? — ele riu, parecendo incrédulo.
— Obviamente. Eu fui criada de um modo diferente de você, alteza. Em um convento crescemos iguais, coisas como essas são rotina para mim. — Eu disse deixando Phillip pensativo.
Coloquei alguns pães em uma pequena sexta e caminhei em direção ao quarto de Mary, com Phillip ao meu encalço.
— Você quer tanto assim casar comigo?
— Do que está falando? — perguntei parando para encara-lo.
— Ontem no jantar. Só nos conhecemos há alguns dias, é loucura já pensar em casamento.
— Philip, isso não é sobre nós. — eu disse, tentando ser o mais gentil possível.
— Não?
— Você está envolvendo sentimentos em uma aliança? — perguntei e ele riu.
— Claro que não, desde o início eu já sabia como iria funcionar.
— Então, vamos apenas cumprir isso, está bem? Irá acontecer, independente de você querer ou não.
— Por quê você faz parecer tão fácil?
— Eu faço? — sorri. — Só estou tentando viver naturalmente como uma garota de 20 anos faria.
— É. Mas você não é só uma garota de 20 anos. É uma rainha, você ainda não sentiu o peso da sua coroa.
— Pode acreditar, eu senti sim. — Nos encaramos por alguns segundos, até Phillip se afastar.
— As coisas serão mais difíceis do que imagina. Até mais, então.
Ele se virou para ir embora.
— Phillip, na próxima vez tente esconder melhor as coisas em seu quarto. — eu disse, fazendo referência a uma garota que entrou lá há algumas noites atrás. Phillip sorriu envergonhado eu apenas ri, entrando no quarto de Mary.
Mais tarde, depois do café da manhã, fomos chamadas a sala do trono, onde Catherine nos informou sobre a festa do vinho, onde muitos escoceses e ingleses estariam presentes. E de como nós precisávamos estar ao lado de Francis e Philip, para os dar confiança de uma aliança forte e segura pelos próximos anos.
Assim que saímos me peguei pensando que aulas de teatro poderiam ser muito úteis de agora em diante.
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Between Queens
RomanceMary Stuart, rainha da Escócia e Elizabeth rainha da Inglaterra, são primas e ambas são mandadas a França para cumprir suas alianças destinadas a elas desde crianças. Na corte Francesa provarão do amor ao ódio. Dá traição à vingança ao lado dos belo...