11 de dezembro de 2013

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Ele poderia dizer que acordou assustado na manhã seguinte, percebendo que o celular estava descarregado e, por isso, não despertou; mas ao menos conseguiu dormir direito aquela noite. Apesar de ter tentado pegar no sono, já que realmente precisava; desde que adentrou a casa silenciosa e subiu para o seu quarto, não teve como pegar no sono; passou a noite girando na cama como se fosse impossível encontrar uma posição confortável para dormir. Não lembrava quando fora a última vez que dormiu sozinho naquela cama, ou se aquele dia ao menos existiu. Sempre que brigava com Addison ao ponto de ela não querer dormir no mesmo quarto que ele, era sempre ele que saia. Por isso não tinha ideia de que aquela cama era gigante quando não era ocupada por duas pessoas.

Estava morrendo de sono, cansado. Havia tido um dia intenso de trabalho e, talvez, se o celular de Addison não tivesse despertado, ele realmente não teria acordado para se despedir da esposa e das filhas. Olhou algumas vezes no aparelho no criado mudo, como se buscasse esperança de que a hora de acordar já tivesse próxima, mas em algum momento resolveu parar, fechar os olhos e tentar dormir, mas tentar ver a hora era mais forte que ele; então, depois de não aguentar mais lutar contra aquilo, estendeu o braço para pegar o celular e contraiu os lábios ao perceber que estava desligado.

Droga! Pensou. Detestava sua não-familiaridade com aquele tipo de aparelho. Era sempre Addison que colocava o dele para carregar junto ao dela antes de eles irem dormir, e quando o aparelho descarregava durante o dia, ele não costumava prestar atenção, já que estava no hospital trabalhando. Esforçou-se para levantar da cama com os lábios contraídos e abriu as gavetas do criado mudo em busca do carregador. Quando finalmente plugou o aparelho na tomada, aguardou enquanto ele ligava novamente e em alguns segundos a hora apareceu na tela: 06:40.

- O quê?

Era 05:10 a última vez que ele viu. Deixou o aparelho de lado e se apressou para adentrar o banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto. Havia marcado com Mark e Eva às 07:00 no laboratório de neurociências, depois da ronda diária, para que eles pudessem discutir sobre a pesquisa; mas àquela altura ele estava atrasado até para a ronda. Como alguém se atrasa sem nem ter dormido? Se apressou adentrando o closet, que mais parecia ser só de Addison, e pegou a primeira camisa e calça que seus braços alcançaram. Não pensou muito nas ausências; na verdade não lembrava; tinha a impressão de que tudo estava exatamente como antes. Talvez o costume tenha condicionado sua mente para já esperar tudo aquilo. Podia até mesmo ouvir as vozes das filhas falando em seus quartos, às vezes brigando. Depois de calçar os sapatos puxou o celular do carregador plugado da tomada e saiu apressado descendo as escadas para caminhar até a cozinha.

Silêncio. Não havia ninguém. Tudo limpo, no lugar, exceto pelas caixas pequenas de comida chinesa da noite anterior, que Addison deixou no balcão; mas nenhum sinal de Thereza e do café da manhã que ela costumava preparar para as meninas comerem antes de ir pra escola. Ela havia sido dispensada a partir daquele dia, já que os patrões não estariam na cidade. Então Derek lembrou das ausências, contraiu os lábios e saiu pelas portas dos fundos mesmo. Não podia lembrar quando fora a última vez que saiu de casa sem tomar café da manhã.

Quando chegou ao hospital, estava tão apressado quanto nos outros dias. Aproveitou a vantagem de ter as pernas largas para subir vários degraus das escadas que lhe levariam até o terceiro andar do prédio. Por algum motivo, esperar o elevador no térreo sempre pareceu torturante pra ele, mas contraditoriamente ele se apressou até o elevador do terceiro andar e ficou apertando no botão redondo ao lado até que a porta se abrisse. Havia um grupo de jovens ali dentro, que ajeitaram a postura assim que o viram e franziram as sobrancelhas uns para os outros, um pouco em estranhamento.

- Bom dia.

- Bom dia _ eles responderam ao mesmo tempo, em um tom de voz controlado.

Ele não deveria estar de férias? Provavelmente se perguntavam, mas não teriam coragem de perguntar. Quanto à vida dos Shepherd, eles só sabiam rumores. Derek era de longe o médico mais reservado do hospital; já Addison, apesar de mais acessível, nunca foi das menos discretas. Enquanto todos costumavam morrer de amores por ela, com ele parecia o oposto. Addison era tudo o que ele não fazia questão de ser: simpática, didática e humilde. Derek era a própria personificação do cirurgião com complexo de deus. Por vezes os internos e residentes do hospital se perguntavam como os dois poderiam ser casados sendo tão diferentes. Provavelmente o único momento que lembravam de ter visto o médico com um sorriso no rosto era quando a babá da filha deles levava a menina para encontra-los ao fim do turno; mas logo eles tiveram o segundo bebê e desde então a babá passou a não aparecer mais no hospital ao fim de cada turno.

It's their seasonOnde histórias criam vida. Descubra agora