23 de dezembro de 2013

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Na manhã do dia 23 ele acordou como costumava acordar quando morava na casa da mãe. Ao contrário do que seu corpo já estava habituado, em acordar com as filhas pulando na cama dele, animadas querendo abrir os presentes, na casa de Carolyn era comum acordar por conta das vozes altas falando sem parar. Todas as irmãs dele e alguns sobrinhos estavam na sala ornamentando a casa para a ceia daquela noite. Derek cumprimentou a todos, mas a animação não conseguia o contagiar. Apesar de um dia ter adorado fazer parte de tudo aquilo, há 11 anos havia se acostumado com uma rotina ao lado de Addison; uma empolgação controlada, e o mais importante, silenciosa.

- Ei, você pode colocar as luzes nas portas. O que você acha? _ Lizzie sugeriu quando percebeu que o irmão assistia a tudo de longe.

- Eu acho que eu preciso trabalhar.

- Como assim trabalhar no Natal?

- Como quem tem uma entrevista com a equipe do presidente da republica em alguns dias.

- Agora ele usa isso como escudo. É uma defesa pra tudo _ Amelia comentou.

Derek revirou os olhos, deu um beijo no rosto de cada uma das irmãs, da mãe, e saiu. Encontrou com Eva e Mark no mesmo laboratório em que eles constantemente trabalhavam, ainda que durante o caminho se sentisse um pouco instigado a desviar para a emergência, onde os médicos se apressavam correndo de um lado a outro, atendendo aos pacientes feridos. Quando chegou lá, Mark ainda não estava, mas logo chegou com um peru assado pequeno, segundo ele, para trazer um clima natalino para o local. Derek e Eva se divertiram e, apesar de reclamarem porque o laboratório ficaria com o cheiro da comida, acabaram beliscando vez ou outra ao ponto de que, até a hora do almoço, só restassem as carcaças.

Derek queria que aquela reunião valesse a pena, que a reunião com a equipe da Casa Branca valesse a pena, que aqueles dias longe da esposa e das filhas realmente valesse a pena. Tentou por horas se dedicar ao máximo, mas ao olhar na tela de seu celular pra ver a hora, a imagem de Katie e Ella sorridentes, abraçadas, quase forçadas, apareceu na tela, fazendo com que ele sentisse saudades. Sentia saudades do riso delas, do cheiro delas, do abraço delas e, acima de tudo, sentia saudades da presença delas, da certeza que elas estariam lá quando ele chegasse em casa.

Elas estavam há tão pouco tempo em sua vida, apenas cerca de 7 anos, mas ele já não conseguia imaginar uma vida sem elas. Era como se elas sempre tivessem ali, como se ele não lembrasse de algum dia ter sido feliz sem elas; ou ao menos, não naquelas proporções.

Eva costumava pensar que aquilo era uma besteira, que era impossível se medir a felicidade daquela forma, que as mães eram exageradas ao dizer que suas vidas mudam completamente depois do parto; mas o que ela poderia dizer? Ela não era mãe. Escolhera aquilo. Addison talvez tenha escolhido também, apesar de ela ser Obstetrícia e Ginecologia, cirurgiã neonatal e realmente adorar crianças, ela nunca pensou em si mesma como mãe; mas Derek tinha certeza que ela pensava exatamente como ele sobre as filhas. Talvez ela as amasse mais. A sociedade havia criado aquela impressão de que as mães amavam mais os filhos que os pais e ele chegava a duvidar. O amor que sentia pelas filhas era impossível de ser descrito. Era como se já a amasse mesmo antes de elas existirem. Não descrevia como algo que nasceu nele antes do nascimento e sim como algo que sempre teve lá, esperando pelo correspondente.

Quando ele e Addison eram recém-casados – o tempo em que os casais tem animação suficiente para planejar um futuro clichê – costumavam visitar sempre a casa da mãe dele. Ficavam lá por um tempo nos dias de folga e Addison sempre se divertia em ver o marido sem jeito quando a mãe dele mostrava os álbuns de foto. Bizzy jamais faria aquilo com ela; então ela tinha aquela vantagem. Tudo o que já tinha visto de Addison criança eram as fotos que tinham em porta-retratos na casa dos pais dela. Ela era uma criança muito bonita, com os olhos grandes, muito bem desenhados por cílios quase perfeitos, e os cabelos vermelhos, que naquela época pareciam mais claros, bem modelado em cachinhos. Derek sempre se perguntava para onde os cachinhos foram e a namorada respondia que provavelmente tinham ficado nos modeladores da cabelereira de sua mãe. Ele sempre ria e dizia que as fotos dela pareciam fotos oficiais. As dele não eram assim, pareciam mais naturais. Addison gostava de ver enquanto ele sentava ao seu lado, preguiçosamente brincando seus cabelos como se aquilo importasse mais que o momento.

It's their seasonOnde histórias criam vida. Descubra agora