VI

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Pela primeira vez desde a primeira vez que entrei em um hospital como médica formada, eu estava ansiosa para ir trabalhar.
Eu não prestei muita atenção em como o trânsito estava ruim, ou em como o apartamento é distante do hospital, minha mente estava ocupada com a tarefa de imaginar como ele estaria, e isso é ridículo.
Mas acho que o que está acontecendo comigo nada mais seja do que o meu subconsciente recebendo uma sugestão. Eu estudei isso na faculdade, eu sei muito bem que se você é induzido a fazer algo muitas vezes, mesmo que você não queira, a sugestão já está na sua cabeça, e não vai sair de lá até que você tenha feito.

A sugestão já está na minha cabeça, e vai me deixar maluca se eu não conseguir descobrir o nome dele.

Nome dele? Fala sério Eva, você nem se importa em decorar o nome do seus pacientes, são todos os mesmo rostos perturbados... Rostos... O rosto dele é lindo! Eu posso me permitir esse pensamento, posso pensar que ele é bonito, adultos admiram outros adultos, é super normal pensar que ele é bem, bem bonito.
Confirmo ainda mais essa minha afirmação mental quando entro novamente pela porta do quarto 56 e os movimentos peristálticos do meu intestino grosso param, eu engulo em seco e noto que uma pequena camada de pêlos cobre seu rosto. Se ele continuar nesse estado por muito tempo, concerteza a barba vai crescer.

"Se ele continuar nesse estado", essa ideia não me é muito agradável.
Mas sim, eu sei bem que ele pode continuar nesse estado por muito tempo, mas eu também sei que alguns pacientes saem do coma depois de poucos dias, é tudo muito relativo quando se trata do cérebro.
É uma situação totalmente diferente da minha. Enquanto comigo, meu corpo vence por cansaço a luta contra o meu cérebro agitado, na situação dele o cérebro está totalmente no controle enquanto o corpo está à deriva esperando a sua boa vontade de um dia acordar.

Mas é isso aí, ele pode ficar anos nesse mesmo estado e não há nada que eu possa fazer, não há absolutamente nada que eu possa fazer a não ser esperar.

Por um momento me pego desejando que ele acorde.

Será que ele tem alguém esperando por ele? Provavelmente. Não é como se fosse da minha conta, mas provavelmente se eu descobrir quem ele é eu posso ajudar alguém que o esteja procurando. Quem sabe uma mãe ou uma namorada...

É por isso que eu preciso descobrir quem ele é, ele precisa voltar para sua família, devem estar sentindo sua falta.

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É bom estar de volta ao trabalho, é bom me sentir útil, sem mim isso aqui não funcionaria.

Eu sou praticamente peça chave desse  hospital, trabalho dia e noite muito mais do que qualquer um aqui dentro porque os outros simplesmente querem ir para casa em algum momento.

Eu não, quanto mais tempo eu passo aqui, mais tenho certeza de que é o lugar perfeito para mim, nada de filhos, cônjuges ou casas com jardins. Só pacientes, enfermeiros e os malditos ginecologistas - qual é!? Eu sei que são importantes mas precisamos de tantos?-.

Quanto mais tempo eu passo aqui, mais tenho certeza de que tudo que eu almejo na minha vida é o cargo de supervisora chefa da minha área.

É simplesmente e perfeitamente feito para mim, e quanto mais tempo eu passo aqui mais eu sei que não vou deixar idiotas como o Steve atrapalharem meu caminho, eu sei que a cadeira é minha, eu sei de tudo isso.

Um dia de trabalho cheio como todos os outros era o que eu precisava para esgotar minhas energias e me fazer sentir exausta, mentalmente e físicamente,

E mais outro,

E mais outro,

E mais outro...

O RapazOnde histórias criam vida. Descubra agora