Dani à cavalo

364 42 2
                                    

[...] Já era manhã, os raios de sol entraram pela janela que estava sem cortina e aqueceram meu rosto. Hoje então eu finalmente verei o Lysandre depois de quatro longos anos. Na minha cabeça me vem muitas ideias de como ele deve estar fisicamente. Será que ele pintou os cabelos platinados? Será que ele ainda usa roupas vitorianas? Será que continua esquecido das coisas? E o bloco de notas, será que ele ainda o tem? Eu estou tão curiosa para saber sobre tudo... enquanto eu imagina essas coisas, minha mãe abre a porta do meu quarto delicadamente:

- Dani, venha almoçar, acho que já está bem tarde para você tomar café. - Eu olhei meu celular. Já são onze e meia, é melhor eu me levantar mesmo.

- Já estou indo, mamãe.

- Tudo bem querida, estou te esperando na mesa. - Ela fechou a porta e eu corri para o banheiro. Bom, já que eu ainda tenho tempo, deveria me arrumar mais que o normal, né? Não porque eu estou indo ver o Lysandre, mas porque eu tenho bastante tempo para cuidar mais de mim hoje... certo? Liguei o chuveiro e deixei aquela água morna cair sobre a minha pele. Que falta eu sentia de um banho assim. Escovei os dentes, sequei o cabelo, coloquei um vestido comprido amarelo com uns detalhes floridos (foi a roupa mais bonita que eu eu consegui encontrar no meio daquela bagunça com as mil malas). Enfim, desci para almoçar:

- Humm, para onde a madame vai desse jeito? - minha mãe me olhava maravilhada.

- Vou sair com a Rosalya, nós vamos até a fazenda do Lysandre. - Peguei um prato e comecei a me servir.

- Você vai numa fazenda vestida assim? - ela caiu na risada - cuidado para não perder o salto do sapato no meio das fezes do gado.

- Ai mãe, isso não vai acontecer, eu tomo cuidado. E outra, esta foi a melhor roupa que eu encontrei no meio da zona do meu quarto.

- Tudo bem, tudo bem, já entendi que você que impressionar o seu antigo amor adolescente. - eu revirei meus olhos, será que eu não posso me arrumar bonita para mim?

- Enfim, onde está o papai? - Perguntei, engolindo uma garfada.

- Ele está trabalhando, minha querida. Esqueceu que ainda é sexta-feira?

- Ah, é verdade. Ontem ele pegou um dia de folga para me buscar no aeroporto?

- Exatamente. - mamãe parou para me observar comendo - eu estava com tanta saudade disso, você deveria dormi em casa ao invés de dormir no Campus. Poderíamos fazer como antes, assistir filmes românticos com pipoca e dormir na sala, o que acha?

- Bem que eu queria, mãe, mas a faculdade é bem longe daqui, para eu ir e voltar todo dia acaba ficando muito difícil para mim, fora que os horários do ônibus não batem com os meus.

- Eu compreendo, mas venha sempre que puder para a casa, você não sabe com aqui fica vazio sem você.

- Pode deixar, mãe, eu virei sempre que tiver uma oportunidade. - levantei-me, coloquei o prato na pia e dei um beijinho na testa da minha mãe - agora eu vou esperar a Rosa, logo ela chega. Até mais tarde.

- Até, minha florzinha.

Assim que sai do loft, o carro da Rosa estacionou em frente de casa.

- Você vai assim? Sabe que estamos indo para uma fazenda, né?

- Foi a única roupa decente que eu encontrei na bagunça do meu quarto. Quantas vezes eu vou ter que explicar isso hoje?

- Calminha ai, foi só uma observação. Agora sobe no possante que nós vamos ver o Lys-fofo. - ela abriu a porta para mim e eu entrei. Não pude deixar de sorrir quando ela disse "Lys-fofo", lembrei-me da nossa época no colégio. Parece que tudo aconteceu ontem.

- Eu ainda nem acredito que você voltou. Vamos poder fazer tantas coisas juntas, igual na época da escola. - Rosa me falava toda animada enquanto estava com as mãos no volante.

- Isso com certeza. Já nos imaginou nas festas da faculdade juntas?

- Ah, minha companheira, quero ver nos tirarem de lá. Vamos aproveitar tudo até o talo. - Rosa ligou o rádio e começou tocar uma estação aleatória, mas bem animada.

- Ahaha, pode ter certeza. - Andamos por mais um bom pedaço de estrada ouvindo música, até eu abaixar o volume e lançar uma pergunta - Rosa, como o Lys ficou quando nós... bem... quando a gente...

- Quando vocês terminaram? Ele ficou muito abalado.

- Mas ele demorou muito para se esquecer de mim?

- Bom, a morte dos pais dele e o término com você aconteceram quase que ao mesmo tempo, então acho que foi um baque muito maior e mais dolorido de ser esquecido.

- Eu ainda me sinto mal com toda essa história, entende? Eu simplesmente fui embora de última hora, não me despedi dele e no final ainda terminamos por telefone. Foi tudo tão pesado...

- Entendo, mas estamos indo lá agora, você pode se acertar com ele, dizer que se arrepende de ter ido embora. Eu tenho certeza que o Lysandre vai te perdoar, você conhece alguém mais compreensivo que ele?

- Certamente... obrigada, Rosa.

- Por nada, Dani. Agora aumenta esse volume que nós vamos chegar nessa fazenda puro estilo. - eu obedeci a Rosa e aumentei o volume no máximo. Começou a tocar um sucesso da Katy Perry que conhecíamos bem. Abrimos a boca e demos um show no carro.

[...]
Andamos por mais um grande pedaço de estrada até chegarmos na Zona Rural de Sweet City. Quanto mais nos aproximávamos das fazendas, mais eu sentia um frio na barriga. Como eu vou ser recebida? Como eu vou agir na presença dele? Ai Lysandre, por que eu fico tão angustiada com a ideia de te ver de novo? Alguns minutos depois, Rosa entrou em uma porteira, deve ser essa a fazenda. Andamos mais alguns metros até Rosalya estacionar o carro.

- Chegamos!

- Acho que sim... - Meu Deus, eu vou vomitar.

Rosa e eu descemos do carro e, com toda a sorte que me foi concedida, o meu sapato novinho afunda em algo que eu julgo ser excremento de cavalo.

- Isso realmente não tá acontecendo comigo... - digo esfregando o sapato na grama.

- Ora, eu disse que estávamos indo à uma fazenda.

- Eu já entendi, Rosa.

- Escute, eu vou chamar o Lysandre e ele vai te arrumar algo para limpar isso do seu sapato . - ela vai em direção à casa bem grande da fazenda e grita na porta - LYS, CHEGUEI!

[...] alguns minutos depois ele aparece lá fora. Lys está melhor que tudo o que eu imaginei. O seu corpo está muito mais em forma do que na escola (acho que isso é resultado do trabalho braçal que ele faz aqui na fazenda), apenas uma fina camisa social de um tom amarelado, bem parecido com o tom do meu vestido, cobre seu torço e seus braços. Seu cabelo continua platinado, mas agora está um pouquinho mais curto. O seu rosto conseguiu ficar mais belo do que antes, algo que eu pensava ser impossível. Sua barba está por fazer e aqueles olhos bicolores... eu me lembro perfeitamente de como me fitavam. Eu poderia passar horas observando este homem tão...

- DANIELLE, ACORDA! - Rosa chacoalhou a mão na frente do meu rosto. - O Lysandre deu oi.

- A-ah... Oi Lysandre!

Um amor de Universidade Onde histórias criam vida. Descubra agora