Prólogo

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      Os sons mais altos daquela noite não vinham dos animais, nem dos insetos, eles vinham dos cavalos das carruagens da Cidade Sagrada, todas se dirigindo para o mesmo lugar, a casa do comandante dos cavaleiros.
       Assim que chegaram, viram que a porta estava quebrada, não havia nenhum inimigo, e cuidadosamente os soldados se aproximaram da entrada. O interior da residência estava completamente destruído, no meio da sala havia uma criança sendo abraçada por dois adultos que pareciam estar mortos, devido ao grande número de ferimentos.
      A imperatriz que estava dentro de uma das carruagens apenas observava seus homens, verificando se a casa estava segura, de acordo com alguns deles, havia sinal de batalha, entretanto não havia nenhum outro corpo além dos dois adultos abraçados à criança. Passados alguns minutos, a imperatriz inquieta saiu da carruagem e entrou na casa, observando o cenário do que parecia ter sido uma invasão.
      — Sem mais corpos imperatriz, apenas esses três — um soldado falou olhando para as manchas de sangue nas paredes.
      — Não são eles... são?
      — Felizmente não senhora, mas sem sinal de onde poderiam ter sido levados... acha que o rei vermelho tem algo a ver com isso?
      — É bem provável, aquele homem repugnante faria de tudo para chegar até mim... e a criança?
      — A criança não foi levada, talvez esteja morta.
      — Uma coisinha tão pequena... nem teve a chance de conhecer o mundo.
      — É muito triste — ele abaixou a cabeça olhando para os cadáveres.
      — De qualquer forma retire os corpos, o povo não pode saber que os dois foram levados, pode ser que tenham sido mortos lá como forma de me atingir.
       A imperatriz girou sobre os calcanhares caminhando na direção da porta. De repente algo se mexeu no meio dos dois corpos, a mulher olhou atônita para os cadáveres e viu que criança ainda se mexia. Rapidamente a imperatriz a apanhou em seus braços e checou a respiração do menino. Seu corpo estava sujo de sangue, mas não havia nenhum ferimento, dando esperanças para a moça.
      Apressadamente ela foi até sua carruagem e ordenou que fosse levada de volta para o palácio, onde deu banho no menino, lavando seus cabelos, tornando-o em sua cor natural, um loiro sol. Seus olhos se abriram para olhar a imperatriz, as duas írises de cor esmeralda se fixaram nela, e aquela criança sorriu; um sorriso inocente de alguém que não compreendia nada daquele mundo.
      Com o possível último sobrevivente de sua família em seus braços, a imperatriz chorou, lembrando dos momentos que passou com os pais daquele menino; os mesmos que estavam sumidos e possivelmente mortos. Depois de vesti-lo e colocá-lo para dormir, a mulher foi para seu quarto e se sentou em sua cama, enterrando seu rosto entre as mãos; massageando as têmporas lamentando o ocorrido e ao mesmo tempo que pensava no que faria a partir dali.
      A porta se abriu lentamente, e uma menininha de olhos violetas e cabelos castanhos surgiu na entrada, seu olhar estava apreensivo, como se estivesse preocupada com alguma coisa, era Lizbeth, uma das filhas da imperatriz.
      — Mamãe, você está bem?
      — Oi minha pequenininha — a imperatriz ergueu a cabeça na direção da menina — venha cá.
     Ela andou até sua mãe, e subiu em seu colo olhando atentamente para o rosto da imperatriz, que estava com os olhos vermelhos decorridos do choro.
      — Você estava chorando mamãe?
      — Não filha, mamãe não estava chorando..., mas o que faz acordada uma hora dessas?
      — Escutei muito barulho, não consegui dormir.
      — Desculpa meu amor... mamãe teve que resolver algumas coisas.
      — Tão tarde assim?
      — Sim... tão tarde.
      — Me põe para dormir?
      — Claro filha, vai lá, estou indo.
      A menina acenou positivamente e desceu do colo de sua mãe saindo pela porta em seguida. A imperatriz foi até o quarto de sua filha, a cobriu e deu um beijinho em sua testa, desligando as luzes logo ao sair. Depois daquele dia o assunto sobre o ataque à casa dos Wright se manteve em segredo, o menino passou a morar no palácio por alguns anos; mas quando completou cinco teve que ficar sozinho por ordem do conselho da cavalaria.

O Príncipe de Gelo - O Cavaleiro Da Imperatriz Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora