Capítulo 8

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       No reino do Norte havia uma moça preocupada com seu irmão. Ellie Calendesh nunca gostou da ideia de Edwin se aliar à Asher, afinal o rei vermelho era o inimigo direto de vários reinos, incluindo o aquele, embora sua vontade fosse apenas tomar posse da Cidade Sagrada todos sabiam que ele não pararia apenas ali, e provavelmente sua ganancia o levaria a tomar posse de outras terras.
       A moça não conseguia se manter calma, com passos apressados ela se dirigiu até sua sala onde sentou no sofá e permaneceu repousando as mãos em seu rosto lembrando da promessa que fez a seus pais no momento que acabaram mortos. Eu vou proteger meu irmão, custe o que custar. Foi o que ela disse a eles antes de partirem.
      Embora os Calendesh não tiverem nenhuma relação com a realeza eles poderiam assumir o trono caso algo acontecesse ao rei e a rainha. Sendo a família mais rica do reino, todos aqueles com sangue puro têm direito de herdar o comando do povo.
       Porém Ellie nunca pensou nisso, afinal sempre odiou ser nobre, todas aquelas regras e cobranças por ela ser uma garota de sangue puro Calendesh a deixava de cabeça quente o tempo todo, o que explica seu mal humor sempre. Desde que seu irmão resolveu se unir ao inimigo ela foi obrigada a firmar uma aliança entre eles para se manter perto de Edwin.
       Mas o rapaz odiava ter sua irmã o tempo todo por perto, e para resolver isso Ellie teve que apenas pedir cartas de Asher informando a situação de Edwin. Mesmo que a moça não tivesse um bom relacionamento com seu irmão, ela sempre insistia em melhorar isso, mas era em vão.
       Depois de respirar fundo e acalmar os nervos Ellie se levantou, indo até a porta da residência se deparando com uma carruagem parada junto aos portões principais que protegiam a propriedade.
      Um rapaz saiu de dentro da carruagem cobrindo seu rosto com um capuz, a combinação de roupas pretas trazia para Ellie o conhecimento de quem estava em sua presença, um outro aliado da família Calendesh, alguém cujo o nome ninguém sabe.
      — Olá Ellie — o rapaz falou seriamente — como vai?
      — Oi Svart riddare — ela falou evitando pronunciar o nome do rapaz por motivos de segurança — o que veio fazer aqui?
     — Ah você sabe muito bem, vim apenas te visitar.
     — Como das outras vezes? Quanto ele quer dessa vez?
     — Você é bem direta sabia disso?
     — Desembucha! — Ellie perdeu a paciência — anda logo, tenho coisas para fazer.
     — Ok, ok, ele quer trezentas moedas de ouro, para terminar de construir algumas coisas.
     — Só isso? Ou tem mais coisa?
     — Ele pediu para você se juntar a nós, e acha que Asher pode te fazer algum mal.
     — Asher não me faria mal algum sabendo que pode perder as regalias dele, eu dou muitos benefícios a ele e é graças a mim que aquele lugar todo está de pé.
     — Você não tem medo do homem que matou a própria filha enforcada?
    — Eu sei muito bem que ela não está morta.
    — Mesmo assim quase matou.
    — Respondendo a sua pergunta... não, eu não tenho medo do Asher, aquele homem não é capaz de fazer nada com as próprias mãos.
     — Se não me engano ele sempre falou para você não subestimar seus inimigos, ninguém sabe do que alguém é capaz de fazer para obter poder ou conquistar seus objetivos.
     — Eu que o diga... Mjölnare já fez muito isso.
     — Você está louca?! Não diga o nome dele assim tão alto!
     — Mas nem é o nome dele verdadeiro.
     — Mas é em outra língua, e se alguém conhece esse idioma e acaba descobrindo o nome dele?
     — Ah me poupe né? Esse idioma é muito antigo para alguém saber a tradução.
    — Você parece não ter medo de nada, chega a ser assustador.
    — Não enche, quer tomar alguma coisa? Eu ia tomar café agora mesmo, mas fui interrompida — ela olhou o rapaz de cima a baixo com muita indicação nos olhos — né?
      — Desculpe por te interromper, você sabe bem que quando se trata das ordens do nosso superior devemos acatar sem questionar.
      — Credo, até falou como se fosse um soldado que sofreu lavagem cerebral e vive para servir seu senhor.
     — Anda lendo muitos livros, hein, Ellie?
     — Não enche... — ela franziu a sobrancelha.
      Ellie abriu o portão para o rapaz e deu meia volta indo na direção da entrada de sua casa, seguida por sua visita. O homem entrou observando a decoração de luxo do interior da residência, paredes cuidadosamente pintadas de uma cor semelhante ao vinho, com detalhes em amarelos delicados.
      A cozinha era enorme e tinha uma pintura acinzentada, diferente da dos outros cômodos, com entalhos decorando-as. No meio havia uma mesa com uma grande variedade de alimentos. Vários tipos de frutas, sucos, pães e bolos.
      O rapaz se sentou próximo à Ellie e a moça permanecia com expressão infeliz estampada em seu rosto, e ele sabia o motivo de tanta tristeza.
      — Ainda não conseguiu convencer seu irmão a sair do lado de Asher?
      — Meu irmão é a cópia do meu pai, cabeça dura, não consegue entender que estar com Asher é perigoso e errado.
     — Mas você é nossa aliada e também é errado.
     — É diferente, meu irmão carrega uma espada e eu carrego apenas o nome da minha família.
     — Você não tem que se culpar.
     — Prometi aos meus pais que cuidaria dele, e olha o que está acontecendo agora, ele é aliado do inimigo.
     — É a escolha dele, você não tem culpa afinal, ele é maior de idade — o rapaz falou levando sua xícara de café aos lábios.
     — Mesmo assim, como irmã mais velha eu deveria estar cuidando dele, impedindo que ele estrague com a própria vida.
     — Bom, nessa parte é de sua opinião, pois eu discordo, Edwin pode fazer o que quiser, e no fim terá as consequências dos seus atos, e ele terá que aguentar tudo, nessa vida sempre tem um jeito de se pagar pelos pecados cometidos.
     — Você tem razão... — Ellie abaixou a cabeça.
     — Mas isso não quer dizer que você deve abandonar seu irmão.
    — O que?! Você acabou de se contradizer! — Ela se levantou da cadeira demonstrando irritação — se decida!
    — Ellie, o que eu disse é que você não deve se culpar, não que deve abandonar seu irmão — o rapaz olhou na direção dela sem entender o motivo da irritação da moça — foi você que não soube interpretar o que quis dizer.
     — Você quer apanhar?! Repita o que disse — Ellie apanhou uma faca de mesa — eu posso te furar todo agora mesmo.
     — Ellie... você sabe que eu posso tirar isso da sua mão em dois tempos. Não é?
     — Hum? — Ela olhou para a mão e depois seguiu a visão até o rapaz sentado na cadeira — é.... você pode — Ellie sorriu sem graça voltando a sentar-se.
      — Larga essa faca vai, tome seu café — ele levantou — eu já vou indo.
     — Está bem — ela soltou a faca em cima da mesa — eu vou lhe acompanhar até saída.
     — Certo.
       Ellie acompanhou o rapaz até os portões de entrada da residência e os abriu, e a carruagem estava no mesmo lugar, e parecia não ter se mexido nem um pouco.
       O rapaz andou até a carruagem e abriu a portinha, em seguida olhou para a moça voltando a cobrir sua cabeça com o capuz entrando devagar. Depois que sua visita partiu Ellie retornou para sua casa respirando fundo enquanto pensava em seus problemas atuais.
      — Deus... me ajude a resolver tudo isso.
  

O Príncipe de Gelo - O Cavaleiro Da Imperatriz Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora