Capítulo 6

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       Ao anoitecer os cavaleiros decidiram parar, pois avançar pela noite era perigoso, afinal poderia aparecer ladrões que o roubariam, levando em consideração que eles não poderiam reagir e nem matar quem tentasse fazer algo de ruim aos jovens de acordo com o decimo artigo das leis de cavalaria.

Artigo dez, verso três: É proibido que um cavaleiro sagrado mate alguém desarmado e sem proteção adequada (Armadura de aço, ou de couro), tal ato pode ser considerado assassinato à uma pessoa abaixo do nível de combate do soldado.

       Jhoseph ateou fogo em galhos secos usando duas pedras, para que pudessem se esquentar durante a madrugada que prometia ser muito fria, afinal não fazia muito tempo desde o fim do inverno e a entrada da primavera, sendo o outono uma época mais quente.
     Não existe uma parte mais quente no mundo, tendo em vista que no início da criação do mundo Drokin notou que o povo sofria com uma época mais quente, e anulou parte da alta temperatura emanada do sol usando poderes frios eliminando o que ele chamaria de verão.
        Kate se sentou perto de uma árvore para descansar, ela cavalgou por muitas horas seguidas causando dores em suas costas. Já Jhoseph parecia nem estar cansado, e a boa capacidade de resistência assustava seus amigos, levando-os a pensar em quanto tempo o rapaz aguentaria ficar de pé em uma batalha.
      — Jhoseph? — Kate o chamou.
      — Sim? — Ele tirou a atenção do fogo para atender sua amiga.
      — Como passaremos a noite?
      — Não entendi a pergunta.
      — Vamos todos dormir e arriscar sermos mortos durante a madrugada?
      — Claro que não, faremos uma patrulha, duas pessoas vão dividir o tempo igualmente.
      — Tudo bem, você pode descansar se quiser, eu e Harry faremos a patrulha está bem? — Ela olhou para Harry esperando uma resposta do garoto.
      — Hum? — Harry olhou para ela voltando da sua distração — ah claro, claro.
       — Ótimo — Kate respondeu.
       — Certo, se precisarem de mim podem me chamar — Jhoseph falou ajeitando-se na grama.
      Harry faz a primeira etapa da patrulha, quase dormindo em pé de tanto cansaço. Algumas horas depois, no meio da madrugada Kate assumiu o posto, deixando que seu amigo pudesse descansar.
       Assim que os primeiros raios de sol apareceram no céu Kate esquentou algumas coisas que haviam levado, usando folhas de bananeira para proteger a comida, caprichos que só mulheres são capazes de fazer. Jhoseph acordou com a garota o chamando, todos já estavam acordados comendo as coisas que tinham levado.
       — Correu tudo bem? — Jhoseph perguntou se espreguiçando.
       — Sim, tudo correu bem — ela sorriu.
       — Que bom, vamos se preparar para continuar o caminho.
       Após comerem, os quatro cavaleiros partiram em direção ao destino, e demoraram cerca de oito horas para se aproximarem um pouco das Terras Gélidas.
       No dia seguinte Jhoseph saboreou o ar frio do Território Gelado deixando os cavalos amarrados metros antes para os animais não sofrerem com o frio, e embora seus amigos estivessem tremendo, o garoto não conseguia sentir nada, seu corpo parecia ser adaptado a temperaturas baixas.
       — Jhoseph você não está com frio? — Mark perguntou se abraçando na tentativa de se esquentar.
       — Não, por que? — Ele respondeu caminhando tranquilamente.
      — Porque estamos congelando! — Harry estava indignado com aquela situação tentando cobrir os olhos por conta da nevasca — como você está conseguindo se manter calmo com tanto frio?
      — Eu não sei gente, apenas não sinto o frio que vocês estão sentindo.
      Enquanto falava Jhoseph sentiu algo correr por suas veias, seguido de um arrepio no corpo, de repente a nevasca se afastou do cavaleiro como se fosse espalhada por ele.
       Jhoseph sentiu uma movimentação atrás dele e deu uma cambalhota, quase que ao mesmo tempo um dragão apareceu rasgando o solo onde o garoto estava, ele era o alvo.
      — Atenção! Se espalhem! — Jhoseph gritou tirando sua espada da bainha fazendo a lâmina cantar.
        Seus amigos fizeram o mesmo ficando o mais longe possível um do outro, afim de confundir o enorme animal a escolher seu alvo. O dragão deu um rasante mirando em Jhoseph, que usou sua espada para impedir que as garrafas da fera o acertassem.
      Harry tentou avançar sozinho, mas acabou atingido pelas garras do dragão, que abriram um corte fundo em seu braço. Kate se jogou em cima dele para desvia-lo do segundo ataque do animal.
      Jhoseph veio por trás do animal junto com Mark, os dois atacaram ao mesmo tempo nas patas traseiras do dragão, fazendo-o levantar voo batendo as asas com força, levantando muita neve.
       O cavaleiro agachou respirando ofegante por conta do susto, e ainda não estava sabendo sobre o ferimento no braço de Harry.
      — Estão todos bem? — Jhoseph perguntou se recompondo.
      — Não! Não estamos bem! — Kate gritou irritada.
     — Kate? O que houve? — O Wright perguntou confuso.
     — Harry está ferido!
     — Se acalme Kate, vamos verificar o ferimento — Mark tentou acalmar a garota — vai ficar tudo bem.
      Mark e Jhoseph foram até os dois para verificar a gravidade do ferimento. O corte havia acertado a veia cefálica tornando-o extremamente ensanguentado e fundo.
      — Droga... acertou a cefálica... dragão desgraçado!
     — Calma pessoal — Jhoseph tirou o peitoral de sua armadura e rasgou um pedaço da camiseta que ele vestia por baixo — tome Kate, enrole no braço dele, se quiser voltar com ele você tem permissão.
      — Nada disso — Harry falou em meio a gemidos de dor — esta é minha primeira missão, não quero voltar antes.
      — Tem certeza Harry? Você está perdendo muito sangue meu amigo — Perguntou Mark preocupado.
      — Eu estou bem — Kate começou a enrolar o tecido em volta do ferimento.
      Minutos depois Harry estava de pé e seguiu caminho ao lado de Jhoseph como se nada tivesse acontecido a ele. Todos os quatro continuaram andando apesar do tempo fechado, e Kate a todo momento verificava o ferimento do seu amigo para descartar hemorragia.
      Ali naquele lugar, o sol parecia nunca ir embora, o que era bom tendo em vista que se anoitecesse eles poderiam se perder por conta da escuridão, embora as auroras boreais iluminassem parte do caminho.
      Jhoseph não sabia exatamente para onde ir, então apenas seguiu à Norte marcando a direção sempre que atingia cem metros da antiga posição. Finalmente começou a anoitecer nas Terras Gélidas e o cavaleiro buscava algum lugar que pudessem passar a noite e não serem atingidos por uma nevasca.
       Ao longe ele viu uma caverna e guiou seus amigos até lá, entrando calmamente encostando seu amigo Harry em algum lugar seguro, o cavaleiro perdera mais sangue pelo caminho e estava ficando fraco.
      Quando entraram todos viram uma enorme pilha de ouro que brilhava com algumas tochas acesas, por mais estranho que parecesse. Jhoseph caminhou ao redor daquela riqueza analisando tudo.
     — De quem será toda essa riqueza? — Mark perguntou se juntando à Jhoseph.
     — Não sei, mas a pessoa que é dona de tudo isso tem muita coragem de deixar tudo isso em uma caverna sem proteção — enquanto Jhoseph falava Kate percebeu um brilho azul atrás dos dois.
      Jhoseph mais uma vez sentiu o arrepio no corpo, mas não teve tempo de pensar em nada pois Kate gritou alto.
      — O dragão!
       Ele e Mark olharam para trás vendo o brilho azul crescer. Jhoseph se jogou no chão puxando seu amigo com ele a tempo de serem atingidos por uma chama azul congelante.
      — Mas será possível?! — Jhoseph irritado levantou se preparando para o combate — só pode ser brincadeira, viemos para a caverna daquela coisa.
       O mesmo dragão azul de antes saiu da escuridão e parecia estar bem nervoso. O animal avançou com fúria cuspindo fogo para todos os lados, com a maior precisão possível para acertar os invasores.
       Jhoseph tentou a mesma estratégia da última vez que enfrentou a fera, mas como se ela tivesse lido a mente do garoto o movimento não se completou. Com um giro de cauda o cavaleiro foi atingido, sendo jogado contra a parede da caverna e depois caiu cuspindo sangue.
      Mark desesperado tentou ir até seu amigo, mas o dragão antecipou a ação e cobriu os dois com seu fogo congelante, prendendo os dois. Kate tirou sua espada da bainha tarde demais, pois também foi atingida junto com Harry e o enorme animal soltou um rugido alto indicando a vitória para si.
      Entretanto Jhoseph não pensava em morrer congelado e decidiu que não cairia naquele lugar. O cavaleiro fechou sua mão apertando o cabo da espada fazendo o gelo rachar, em seguida ele com um único movimento se libertou de sua prisão gelada e apontou a lâmina para o dragão.
       — Agora eu cansei de você.
      Jhoseph avançou rapidamente na direção do animal desviando das rajadas de fogo gelado enquanto corria para cima do dragão. Porém a fera atacou com suas garras afiadas.
       O cavaleiro acertou um golpe na pata do dragão, que caiu com sua cabeça bem perto de Jhoseph, ele preparou seu último movimento, pronto para decepar o animal, mas hesitou ao receber um turbilhão de lembranças ao mesmo tempo, que causou uma forte dor de cabeça nele.
       Nas lembranças Jhoseph via a si mesmo quando era pequeno, e havia um animal alado azul, ele podia ouvir uma voz feminina e gentil ao fundo chamando aquele dragãozinho de Borer.
      Jhoseph soltou sua espada e caiu de joelhos enquanto sua dor diminuía, em seguida ele levantou seu rosto na direção do dragão que o encarava fixamente com seus olhos brilhantes.
       — Você é Borer... e me conheceu quando bebê...
       O animal se levantou e com suas garras tirou os amigos de Jhoseph do cubo de gelo.
       — Então... essa riqueza é minha?
       Borer assentiu como se tivesse entendido o que Jhoseph havia dito.
      — Asher veio atrás do que?
       O animal não respondeu e apenas encostou sua cabeça na mão do rapaz, enquanto Kate e os outros recuperavam o fôlego. Borer deitou-se e cobriu seu corpo com as asas.
      — Por que o dragão parou de nos atacar? — Kate perguntou ainda ofegante.
      — Eu conheço esse dragão... de quando eu era bem pequeno, ele tem alguma conexão com meus pais.
      — Então isso tudo é seu?
      — Acho que sim.
      — Estamos ricos! — Harry esqueceu totalmente do seu ferimento e começou a comemorar.

— Correção... Jhoseph está rico — Mark o corrigiu — vamos descansar para irmos embora logo, não aguento mais esse lugar.
       O dia seguinte amanheceu caótico na Cidade Sagrada, Liz estava desesperada pela demora dos cavaleiros, e já faziam dois dias que eles deveriam ter voltado, porém nem deram sinal de vida, algo que deixava a imperatriz muito nervosa. Ela foi levada aos portões como todas as manhãs desde que seus soldados partiram rumo ás Terras Gélidas e como todos os dias, nada acontecia.
       Entretanto após alguns minutos começou um forte vento, acompanhado de um bater de asas. No céu surgiu um dragão enorme e azul, fazendo com que todos pensassem que Asher estava atacando a cidade, porém o enorme animal pousou calmamente levantando uma fina cortina de poeira.
       — Se acalmem todos! — Ordenou a imperatriz — isso não é um ataque.
       Jhoseph saiu de cima do dragão ajudando a tirarem Harry de cima, enquanto alguns médicos levavam o garoto para cuidar do seu ferimento, Kate caiu de joelhos beijando o solo feliz por mais uma vez senti-lo.
       — Caramba Kate, você é muito exagerada — Mark falou.
       — Exagerada?! Eu fiquei por quase duas horas em cima de um dragão, há milhares de metros acima do chão!
      — Foram trezentos Kate, o suficiente para Borer sobrevoar por cima das árvores — Mark continuou.
     — Jhoseph! — Liz correu e abraçou o garoto — fiquei com medo... por que demorou tanto?
     — Aconteceu alguns imprevistos, mas estamos todos bem.
     — Claro que estamos — Kate interrompeu ele de forma irônica.
       Mais tarde Jhoseph foi convocado ao conselho para dar o relatório sobre a missão, e ele teve de explicar tudo, além de não ter descoberto a razão por trás de Asher ter ido até o território gelado. Os conselheiros explicaram que aquele lugar nunca teve um reino, que significava que o lugar poderia ser tomado por qualquer pessoa, ou até mesmo um pequeno grupo de viajantes.
      Depois de explicar tudo, o cavaleiro pôde finalmente voltar para sua casa, onde tirou sua armadura e caiu na cama sentindo o corpo vibrar pelo cansaço. Harry parecia que ia ficar bem, e Kate provavelmente já tinha retornado para sua casa, deixando Jhoseph tranquilo para descansar.

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