Capítulo 3

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       O duelo estava prestes a começar, os dois competidores permaneciam parados no meio do campo de batalha esperando o início do combate que definiria quem entraria para um cargo militar naquela idade. Marco continuava a esbanjar seu sorriso provocador, de alguém confiante de si, ou que está tramando alguma coisa fora das regras. 
      O dia estava ensolarado e quente, algo anormal para uma época de primavera, Liz de longe olhava apreensiva, enquanto seus guardas estavam mais preocupados com a barra do vestido dela para não sujar. Jhoseph respirou fundo, buscando se concentrar e ignorar a enorme dor que sentia, em seus membros principais.
      Marco desfez o sorrisinho e fitou o rosto de Jhoseph buscando concentração do mesmo modo que seu adversário. O instrutor finalmente chega ao campo de batalha para ditar as regras do combate. Enquanto isso, Elizabeth permanecia entediada, o coração de Liz estava acelerado.
        — Esse combate não tem critério de pontos, aquele que vencer seu adversário e o deixar incapaz de lutar vencerá — o instrutor recita as regras — é expressamente proibido golpes na cabeça, pescoço ou na região de algum órgão vital, visando matar seu inimigo, sujeito a desclassificação caso descumprimento desta regra, também está cancelada a opção de usar poderes, caso tenham herdado algum dos seus antepassados — ele se prepara, e ergue o braço ao céu — se estão prontos... lutem!
       Jhoseph e Marco avançaram na mesma hora fazendo com que suas armas colidissem, faíscas voaram para todos os lados, a plateia ficou em silêncio atônitos pelo início violento do combate. Os dois recuaram alguns passos e voltaram a se atacarem com toda a força, embora o Wright estivesse sentindo dor, ele não dava descanso para seu adversário.
      As espadas colidiam com fúria, os dois duelistas estavam lutando com tudo, Marco atacava movimentos de contra-ataque, e Jhoseph se movia com velocidade, Mark estava na plateia vendo a luta, e estava impressionado com o enorme controle do seu amigo sobre a dor que sentia.
     Jhoseph moveu seu corpo para a esquerda, desviando de um ataque de Marco, em seguida o garoto levou sua espada na direção do rosto do nobre metido, mas ele conseguiu desviar no último minuto, fazendo apenas com que alguns fios de cabelo fossem levados junto com a lâmina.
     Marco sem perder tempo começou seu contragolpe, dando um soco no estômago de Jhoseph subindo com o punho encaixando um gancho que o derrubou. O garoto prepara o ataque final, mas seu adversário dá uma cambalhota para trás escapando por pouco.
     Liz estava ficando tão nervosa que seu rosto ficou molhado de suor, o combate se mostrava feroz, como se houvesse um motivo externo para os dois garotos, o nível de violência da luta estava muito elevado, dando um ar de que havia algo causando ira nos meninos.
     Jhoseph correu pela direita contornando seu adversário que o acompanhava com os olhos, o garoto atacou pela mesma direção, mas mudou quando estava perto dele; surpreso e na tentativa de se defender Marco recuou quando viu o Wright sorrir. O movimento seguinte foi tão rápido que a plateia mal pôde ver, ele abriu um corte no peito do nobre, e então o golpe sujo veio.
     Marco tirou do seu bolso um punhado de areia, e jogou no rosto de Jhoseph o cegando, por impulso o Wright largou a espada e levou suas mãos aos olhos, tentando recuperar sua visão, mas única coisa que conseguiu foi levar vários ataques repetidos até cair com o corpo totalmente ferido.
     O Wright se encolheu sentindo seu sangue escorrer até a terra do campo de batalha. Sua visão estava voltando aos poucos, mas ele não sabia se conseguiria recuperar o tempo perdido, porém preferiu se levantar mesmo assim.
     A visão de Jhoseph estava turva, e ele mal conseguia ver seu adversário, algo que seria uma grande desvantagem para o aprendiz. Marco avançou sem piedade, pronto para acabar com seu inimigo e fazê-lo cair.
     Entretanto Jhoseph não cairia facilmente, e enquanto lembrava das últimas palavras da imperatriz Marrie o garoto fez uma pausa e colocou os punhos à frente do rosto em posição de ataque, esperando que Marco se aproximasse mais, ele só tinha uma única chance de acerto, caso errasse poderia ser seu fim no duelo, pois seu adversário ia ser decisivo.
     Quando Marco chegou bem perto o tempo pareceu estar em câmera lenta, o Wright viu a espada do seu adversário se aproximar cada vez mais, a ponta da lâmina brilhou com o sol, era sua chance de acabar com aquilo. Jhoseph juntou toda sua força em seu braço direito, e o moveu na direção do nobre o acertando no rosto com o punho fechado, vindo pela direita em uma curva.
     Marco levou um soco forte que o desviou para a esquerda, Jhoseph fechou seu punho esquerdo e acertou o garoto mais uma vez. O menino caiu no chão desacordado surpreendendo a plateia, os pais do nobre colocaram suas mãos no rosto em sinal de decepção.
     O instrutor foi até Marco e checou os sinais vitais, viu que estava tudo bem e decretou a vitória de Jhoseph. A plateia explodiu em comemoração aplaudindo e gritando, Mark, Harry e Kate entraram no campo de batalha e o abraçaram, enquanto Liz respirou aliviada.
    Os pais de Marco cumprimentaram Jhoseph antes de seguir os paramédicos que retiraram o garoto caído e o levaram para a enfermaria. Os amigos do Wright ainda comemoravam, enquanto ele olhou para Liz que sorria feliz acenando com a cabeça para que o menino fosse curtir sua vitória.
    Mais tarde alguns aprendizes e soldados foram até a casa de Jhoseph e fizeram uma espécie de comemoração, junto com os amigos do garoto que estavam tão animados que não conseguiam se conter. Alguns músicos marcaram presença, tocando uma melodia alta e alegre, enquanto vários dos convidados dançavam na sala da casa do menino.
     — Um viva ao Jhoseph, que conseguiu vencer aquele nobrezinho metido e passará para a próxima fase rumo à cavalaria desta cidade! — Mark gritou com um copo cheio de suco na mão.
     — Viva! Viva! Viva! — Todos gritaram juntos pulando e rindo.
      De repente toda a comemoração cessou, alguns cochichavam entre si, e Jhoseph não sabia o motivo, até que ouviu alguém bater duas vezes na porta já aberta; com um vestido sofisticado da cor do vinho ali estava Lizbeth, que também queria participar da comemoração, com um sorriso estampado nos lábios.
     Jhoseph ficou parado sem reação, nunca passou por sua cabeça que Liz estaria ali. A garota foi até ele e o abraçou com os olhos cheios de lágrimas, descarregando a angústia trazida com ela pela luta.
      — Que susto você me deu! — Ela grita com o rosto escondido entre os braços dele — eu pensei que você ia perder, graças a Deus correu tudo bem... — Liz faz um breve silêncio e percebe a presença de uma plateia.
      Liz desfaz o abraço e arruma o vestido buscando voltar à postura de futura imperatriz da cidade, forçando sua voz a parecer mais séria, disfarçando o choro.
       — Boa noite a todos, peço que voltem a comemorar, estou aqui para isso, hoje esqueçam que sou filha de Marrie Baldrick.
      Todos imediatamente voltaram a dançar e cantar, Jhoseph foi com Liz até um lugar mais reservado, o jardim da casa. Os dois se sentaram em um banco que havia lá e olharam a lua brilhante no céu.
      — Preciso falar com você algo sério — Liz falou olhando para a lua.
      — Eu imaginei que diria isso, o conselho jamais permitiria que você se misturasse com o povo sem um motivo.
      — Desculpe... — ela abaixou a cabeça.
      — Fala Liz, o que foi?
      — Recebemos algumas informações de reinos vizinhos, disseram que viram Asher se mover com um grupo de soldados para as Terras Gélidas.
      — Hmm... — ele se inclinou no banco repousando os cotovelos na coxa colocando suas mãos em frente da boca pensando em alguma coisa — prossiga.
      — Não temos soldados para irem investigar o motivo dessa viagem que o inimigo fez.
      — Então o conselho quer que eu vá?
      — Sim..., mas só depois de você lutar contra o espadachim de elite, se vencer ganhará um cargo automático na cavalaria, ou tropa de reconhecimento.
      — Mas e se eu perder?
      — Não sei... eles não me disseram nada.
      — Certo... então tudo depende de eu vencer o combate depois de amanhã.
      — Isso.
      — Entendido, farei de tudo para vencer — a expressão de Jhoseph muda, suas sobrancelhas franzem em sinal de irritação — tomara que eu encontre Asher... para fazê-lo pagar.
      — Jhoseph... não vá com o intuito de matar o rei vermelho, você não tem conhecimento do poder dele.
      — Eu sei, mas um dia farei ele pagar — ele se levanta, mas Liz segura a parte detrás da camiseta dele.
      — Desculpe por vir apenas por ordem do conselho, não queria magoá-lo.
      — Não se preocupe quanto a isso, não magoou — Jhoseph anda para dentro, deixando Liz sozinha.
      Dois dias se passaram desde a última vez que Jhoseph teve um contato direto com Liz, e provavelmente a veria na arena da capital do reino Sagrado, era sua esperada chance de uma vaga nas unidades militares mais famosas de todos os sete reinos.
      Liz foi acordada bem cedo como todos os dias, uma serva havia separado uma roupa especial, algo da rotina da garota. Ela se vestiu e saiu do quarto, seguindo pelo corredor comprido até chegar na cozinha, onde já tinham preparado seu café da manhã.
     Após comer a garota seguiu para a biblioteca do palácio, onde havia um professor com uma pilha de livros na mesa que fez o estômago dela se revirar só de ver. Ela se sentou na cadeira mais próxima de onde estudaria, o homem em seguida começou a falar muito, Liz repousou a cabeça em cima do livro aberto de tanto tédio.
     O professor falou tanto que causou dores de cabeça na menina, ela não via a hora daquilo acabar, todos os dias era a mesma rotina, algo que estava deixando-a irritada e cansada. Muitas das vezes o que seu instrutor ensinava, não a ajudaria em nada no comando da cidade, afinal o conselho controla tudo.
      Depois de duas horas ouvindo seu professor falar, Liz foi liberada para se trocar e ir até a carruagem que a levaria para a arena, onde assistiria Jhoseph lutar contra um espadachim veterano. A garota correu da biblioteca e foi direto para o quarto, onde tomou um banho e colocou outra roupa.
      Liz vestiu um vestido branco com o interior azul escuro, seu pescoço foi adornado com colares de ouro e cristais, seu cabelo como sempre ficou preso em uma trança comum. A garota foi feliz para a carruagem que a esperava na porta do palácio, ela entrou e se sentou fechando a porta em seguida.
      Do lado de dentro havia um conselheiro, algo comum quando saía do palácio para qualquer ocasião, acompanhada de dez soldados ao lado dela, e alguns homens da cavalaria espalhados em um raio de cinquenta metros de onde ia.
      — Oi Zacharyas — Liz falou com uma expressão de reprovação no rosto — vai me acompanhar hoje de novo?
      — Claro senhorita, uma dama como você não pode sair desacompanhada.
      — Na verdade eu posso, mas vocês do conselho são piores que illaluktande fötter.
      — Fale direito comigo mocinha!
      — Ah cala boca — ela cruzou os braços e fitou a janela.
      — Você anda muito malcriada senhorita Lizbeth Baldrick.
      — Cale-se Zacharyas, você é muito chato, não me deixam respirar sou o tempo todo escoltada por soldados, isso é um saco!
     — Sua mãe também era e nunca reclamou, você é muito mimada.
     — Ela não reclamava, pelo menos não na frente de vocês — ela recitou as últimas palavras baixinho para o conselheiro não escutar.
      — O que disse?
      — Que o céu está lindo hoje.
     A carruagem partiu em direção à arena, com Liz fumegando de irritação dentro dela, e Zacharyas Flint tendo que aturar a garota de mal humor.
    Jhoseph estava se preparando para entrar, sua espada dentro da bainha encostada na parede dava maus pressentimentos, como se tivesse certeza que aquela arma traria problemas para ele.
    Do lado de fora o espadachim se vangloriava para a extensa plateia que marcaram presença para ver o combate. Em sua cintura havia uma bainha de carvalho negro com rosas entalhadas, aquele homem era o dono e protetor da Espada da Rosa Negra, uma das nove criadas pelos melhores ferreiros do mundo, os Atarak.
     Jhoseph foi chamado por um homem que seria o juiz do combate, as regras foram passadas aos dois lutadores bem antes de entrarem na arena. O garoto seguiu pelo corredor até a entrada do campo de batalha, um espaço enorme com pisos de mármore branco, uma construção muito sofisticada.
     Seu adversário parou de acenar para as pessoas assentadas ali para assistir a luta e andou até o meio da arena. O homem enorme estava protegido por uma armadura escura, assim como a bainha presa em sua cintura, Jhoseph se sentiu um pouco intimidado, mas pensou que não podia demonstrar ao seu inimigo que estava com medo.
     O homem tinha uma cara de mau, seus cabelos curtos e sobrancelhas grossas não ajudava em nada a ficar melhor visto, e com um vasto corpo seria impossível pensar alguma coisa boa do espadachim.
     — Você é corajoso de chegar até aqui garoto — o homem falou com sua voz grossa.
     — Eu quero fazer um trato com você.
     — Gosto disso, um jovem destemido é muito interessante.
     — Ótimo, o trato é o seguinte, se eu ganhar quero que me dê sua espada — o homem ri — e se eu perder, você poderá arrancar meus dois braços.
     — Uau! Você é mesmo ousado, eu aceito garoto.
    O juiz foi até os dois e se colocou entre eles pedindo silêncio para a plateia.
     — Todos vocês aqui presentes, são testemunhas desse duelo, um aprendiz, contra um espadachim de elite, esta luta vale uma vaga nas unidades militares deste reino, então a partir de agora, decreto que o combate está autorizado a começar.
     Jhoseph tirou sua espada da bainha e se colocou em posição de ataque, enquanto o espadachim ficou parado sem fazer nada, talvez esperando que o garoto tivesse a iniciativa de começar atacando. Entretanto ele ficou parado do mesmo modo, fazendo com que a plateia ficasse confusa.
       Depois de quinze minutos os dois se moveram ao mesmo tempo, cruzando suas espadas. O combate repentinamente ficou muito agitado, Jhoseph dava tudo de si nos ataques, enquanto seu adversário tentava o mesmo, causando um show de faíscas no campo de batalha.

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