Capítulo 17

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Enquanto adentrava a cidade, sentia a culpa. Sim, culpa. Porque ele era parte da razão para aquilo estar acontecendo. Era inacreditável, olhando para a paisagem em volta, acreditar que estavam na primavera.

Ele não tinha nada contra a primavera, era uma estação belíssima, e era absurdamente triste que se encontrasse em uma situação tão precária. Aquele nunca foi seu objetivo, ele era apenas uma peça nas mãos de um jogador, que o prendeu em seu jogo com um contrato quase vitalício. O jogador o colava em cada casa, em cada jogada, e o arrancava sempre que tinha outro objetivo para ele. A casa da vez era Hope Path, e seu objetivo chegaria em breve.

***

— Você confia em mim? — perguntou Natasha.

Jhonny assentiu.

— Então sabe que não estou mentindo.

— Eu confio em você, Natasha, mas tem certeza que não sonhou?

— Tenho. Quer dizer... eu sonhei com isso também, mas não importa, está mesmo no Statera. Ou Aurora está mentindo, ou ela não se importa, ou ela só disse que essa profecia não existe porque ela não tinha conhecimento disso e quer dar uma de onisciente e não de ignorante.

— Eu acredito nisso, aquela mulher é detestável — falou Janelle, caminhando ao lado de Jhonny.

— Eu estou louco ou você acabou de concordar com a Natasha?

— Concordei, porque ela está certa. Não somos inimigas. Supere. — Mas isso não queria dizer que eram amigas.

— Na minha opinião, ela está escondendo algo. — Natasha correu e ultrapassou os dois, passando a andar de costas na frente deles.

— Talvez, mas nossa verdadeira inimiga é Lucy — Jhonny disse e Janelle suspirou.

— Lucy?

— A suprema invernal.

— Ah!

Natasha não pediu mais explicações, estava cansada de questioná-los o dia inteiro. Atrás deles, Joan e Natalia caminhavam em silêncio, não havia nada mais a ser dito. Joan estava ferida por suas próprias expectativas, Natalia estava pensativa, triste por não conseguir atender às expectativas de ninguém, pelo menos no que dizia respeito à sua vida pessoal. Ela sentia que estava afundando e levando todas as pessoas consigo.

Por um momento, o sol brilhou mais do que já brilhara algum dia. Natasha deduziu que haviam chegado na Base Veranil, o outro lado do Mundo Ligheat. Ela teve essa confirmação quando Janelle abriu os braços e fechou os olhos, parecendo absorver cada raio de sol para si. Ela não parecia uma pessoa real, pensou Natasha, parecia feita de luz.

Jhonny a olhava, completamente admirado.

Janelle percebeu e sorriu para ele.

Natasha podia perceber a sintonia dos dois. Mesmo sendo tão diferentes, eram muito semelhantes.

Quando a veranil deixou sua gloriosidade luminosa e voltou a andar normalmente, Natasha percebeu que havia uma abelha em seu pescoço.

— Janelle, não se mexa, tem uma abelha aí — disse ela, apontando para o bichinho voador.

Janelle não tinha medo de insetos, mas certamente não gostava da ideia de um deles andando pelo seu corpo.

Rapidamente, Natasha se aproximou e vasculhou no pescoço de sua não inimiga e também não amiga, até que conseguiu tirar a abelha, a mantendo por um tempo em sua mão. Depois do breve contato com a pele de Janelle, ela sentiu algo quente dentro de si, algo que estava adormecido, então seus dedos flamejaram e chamas apareceram, por sorte a abelha conseguiu escapar a tempo.

Primavera | As 4 Estações [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora