— Isso explica o sorvete... — dizia Janelle, enquanto caminhava de um lado para o outro. — Eu a vi tomar três potes de sorvete, não tinha como ela ser uma Ligheat, mas ela também é estranha demais para ser humana, eu devia ter desconfiado.
— Quer parar com isso? Vai fazer um buraco no meu chão.
— Você não entende, não é? Essa garota é perigosa e está lá na minha cidade, perto das pessoas que eu amo. Mas é claro que você não entende, é muito fácil pra você abandonar as pessoas.
— Mamãe, do que ela tá falando?
— Jullie?! — A presença da garota despertou grande fúria em Judith. — Eu não falei pra você ficar no quarto?
— É que...
— Vai esconder a verdade dela igual escondeu de mim? — Janelle tinha um olhar desafiador.
— Mamãe, que verdade?
Judith ardia em uma mistura de raiva e impaciência. Janelle espantou-se ao ver seus olhos se acenderem em chamas e Jullie gritou de pavor ao ver que acontecia o mesmo com a cortina da sala.
— Pare, mamãe. Por favor! — choramingou a menina.
Vendo que a mulher nem pareceu notar o pedido da filha, Janelle decidiu pará-la ela mesma.
— Pare com isso agora! — Mas ela ainda parecia não ouvir. — Pare já, mãe! — Dessa vez Judith voltou a si.
— Mãe? — Jullie as encarou perplexa. — Você é... minha irmã?
Janelle arqueou uma das sobrancelhas na direção de Judith.
— Talvez seja hora de ela saber a verdade, se bem que já passou da hora há muito tempo.
— Sim, Jullie, ela é sua irmã.
— Mas... — A menina não conseguiu terminar sua fala porque uma rajada de vento começou a varrer o apartamento.
— Que belo trabalho você fez vindo até aqui, agora eles nos encontraram.
— Eles quem, mamãe?
— Os Dawcold.
A menina encarou-a espantada.
— Agora quer me culpar por isso também? — questionou Janelle, incrédula.
Uma cadeira voou.
— Depois conversamos sobre isso, agora precisamos sair daqui — expôs Judith.
— Eu sei, mas como?
— Joan! — Jullie exclamou.
Nesse exato momento, uma mulher que aparentava ser jovem, na faixa dos vinte e poucos anos, apareceu. Era baixa, magra, tinha a pele marrom clara, cabelos castanhos e lisos com franja e os olhos eram dourados como os das outras três mulheres naquela sala.
— Vamos — ela chamou. — Deem as mãos, depressa! — Quando elas obedeceram ao pedido dela, seus corpos tremeluziram e desapareceram, deixando para trás o apartamento 752 completamente destruído.
***
O sol despontava no céu de Hope Path, sinal de que o verão estava cada vez mais próximo. A flora estava cada vez mais frágil, as chuvas abandonaram a cidade, tudo estava morrendo.
Enquanto o mundo morria lá fora, dentro de casa Natasha estava decidida a arrancar toda a verdade de sua irmã.
Não passa de hoje. Pensou, estava farta de todas as mentiras.
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Primavera | As 4 Estações [Livro I]
FantasyAs estações do ano existem como uma indicação de tempo, de temperatura, de transformação... Mas como elas surgiram? Qual foi o momento exato em que alguém determinou a existência delas? Natasha sempre questionou muitas coisas, principalmente sobre s...