Capítulo 03

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Editado.
Boa leitura.

Abro os olhos lentamente, a noite tinha sido péssima e tinha certeza que se contasse todos os minutos em que tentei cochilar não dava uma hora.

Eu estava mal, Jake estava mal e não tinha absolutamente nada a fazer a respeito.

Me sento na cama e meu corpo está pesado, de longe escuto uma voz familiar, era Bea.

Ela me pergunta como eu estava, não tinha forças pra responder, disse pra eu ficar tranquila que moraria com ela até tudo se ajeitar, eu apenas agradeço com a cabeça.

Procuro por Jake e ele não estava no quarto, Bea me entendendo, fala que ele estava lá embaixo com a namorada. Se fosse em outro momento teria vontade de descer para conhecê-la, mas não queria e mover. Não queria falar. Não queria fazer nada.

Ela me abraça e pude fechar os olhos um pouco, respirei fundo e escutei cada palavra de carinho e conforto que ela me passava, ela estava tentando ajudar, e mesmo sabendo que nada aliviaria, ela tentava.

Meus olhos enchem de lágrima ao lembrar que isso poderia ter sido evitado pelo meu pai, se ele não tivesse sido tão estúpido não teríamos nos mudado e nada disso teria acontecido. Era culpa dele. Pelo menos era o que eu queria acreditar.

Ela me levanta com calma, me leva pra tomar banho e troca minhas roupas, ela fazia tudo e conversava comigo e ao mesmo tempo que eu escutava, eu pensava em muitas coisas. Mas não dizia uma palavra.

— Não quero que se preocupe com nada, Jane. Eu e meu pai faremos tudo que precisar — ela fala docemente —Sei que ontem você e Jake adiantaram algumas coisas mas meu pai foi até o hospital pra garantir tudo como combinado. O enterro de Joe vai ser daqui a pouco — ela fala receosa e esperando que eu tivesse alguma reação — Na escola, já ta tudo certo você vai poder ficar três semanas em casa e eu adianto os trabalhos pra você — ela fala enquanto pentea meus cabelos — Não há absolutamente nada que você precise se preocupar. Eu estou aqui e você não ficará só — sorri.

A assistente social entra no quarto, faz algumas perguntas direcionadas a mim mas quem responde é a Bea, entrega alguns papéis e diz que teria que ir toda a semana a um terapeuta, para que soubesse lidar com a dor do trauma. Diz que era pra arrumar o quarto e descer pra tentar comer alguma coisa, pois o enterro seria logo.

Desço e encontro Jake e a namorada, não falo nada pois ao ver eles abraçados, vi que ela passava paz pra ele, e isso era o que eu queria que ele sentisse, paz.

As pessoas ao meu redor falavam rápido demais, agiam rápido demais e eu não conseguia acompanhar, estava extasiada e só queria que por um segundo tudo parasse e que por esse segundo eu pudesse respirar melhor. Mas nada parou, tudo continuou acontecendo e o que eu tinha que fazer era acompanhar, mesmo não querendo.

Chegamos no cemitério e mais uma vez recordo do meu pai, recordo da última vez que tinha vindo aqui, antes era por causa dele, agora já era por causa de Joe.

Olho pros lados e vejo apenas militares, estavam responsáveis pelo enterro e era muito triste. Não tinha quase nenhum familiar, não tinha amigos, só tinha eles. E nem o conheciam.

Fizeram a cerimônia, depois o sepultamento, tudo conforme as leis da marinha.

Depois de enterrado, todos vão embora, Bea disse que nos daria um momento e esperaria a gente no carro, fica apenas eu e Jake. Praticamente orfãos, perdidos, que não faziam ideia do que seria dali em diante.

Eu converso em pensamento com Joe, sorrio ao lembrar de bons momentos e mesmo com raiva de tudo, eu agradeço por ter tido uma criança tão especial, e peço desculpas por não ter dado a festa que ele tanto queria.

A Culpada.Onde histórias criam vida. Descubra agora