Desespero.

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— Só queria me ver livre de tudo isso — falo suspirando a ele — Não pedi por uma vida assim, não pedi pra ser perseguida.

— Ninguém pediu — ele responde.

Ficamos em silêncio.

Era engraçado pois antes tinha tantas perguntas e agora tudo fugia da mente.

— Por que dos seus olhos escurecerem?

— É a minha criatura.

— Criatura?

— Sim, aquela coisa enorme,  eu a chamo de criatura e quando eu sinto cheiro de sangue ele tenta me tomar.

— Por que?

— A criatura é quem controla nossa sede, ela quer que a gente faça o que ela quiser, a forma dela se manifestar é nas sensações.

— E você consegue controlar isso?

— Algumas vezes sim, na vez de Rachel por exemplo, é difícil pois ele é muito forte.

— Ele machuca você?

— Quando está com fome e raiva sim — ele suspira — Se eu me irritar agora, ele vai querer sair e se eu não deixar ele vai insistir até eu conseguir me acalmar.

— E quando você está feliz?

— Não sinto felicidade, Jane.

— Por que?

— Quando você se transforma, a criatura rouba todas as suas emoções e sentimentos, e escolhe apenas uma pessoa pra permitir sentir algo.

— Como assim?

— Desde que me transformei não sinto nada pois ele não permite, mas se por acaso ele achar alguém que o agrade pra despejar tudo que me roubou, ele o fará.

— E ele já escolheu alguém?

— Sim.

— Mas se você não tem sentimentos por que ainda se importa com o que prometeu a Janainne?

— Por que ela foi a escolhida.

— Mas ela morreu antes de você se transformar, e ainda sim foi capaz de ser escolhida?

— Não é só por que ela morreu que perde a importância para nós, você é o exemplo disso.

Fico quieta, ele tem um pouco de razão, minha família nunca perderia a importância pra mim, mesmo se terem partido.

— Então o que faremos agora ? — mudo de assunto.

— Você vai ficar por aqui e eu cuidarei de Jake por alguns dias, até a transição tiver completa.

— Ele vai machucar alguém? 

— Creio que meu esforço evitará isso.

— Promete que cuidará dele ?

Ele sorri e eu faço o mesmo.

Não tinha nada que eu pudesse fazer agora, a não ser aceitar o que Aaron me propunha.

Ele diz que vai embora mas antes eu o abraço forte.

Por um momento eu esqueço que ele não me procurou depois dos nossos beijos, esqueço que ele era uma coisa horrível, e me lembro apenas que ele era capaz de me proteger, isso bastava.

— Amanhã a gente se fala — ele diz e eu o deixo ir, sem dizer nada.

Talvez seja hora de explicar tudo a Bea, ela deve estar muito chateada comigo.

Não sei se devo ir contar tudo a ela, ou esperar mais um pouco até tudo se ajeitar.

Acho melhor esperar, eu ainda preciso de um tempo pra raciocinar tudo, afinal, não é sempre que acontece coisas desse tipo.

São duas e dezessete da manhã, tomo um bom banho e fico na sala bebendo chá, a casa era realmente sem graça sem Jake.

Mando algumas mensagens a Bea que me trata meio séria e logo vou deitar, não sabia o que o dia seguinte me esperava.

~*~

Acordei cedo com uma ligação, era Annie pedindo permissão pra explicar tudo que devia a Jake.

Depois de ouvir tudo que ela disse a ele, notei que Jake reagiu da pior forma possível.

Ele gritava por mim e pedia pra que tudo aquilo fosse mentira, eu chorava ao ouvir meu irmão naquela situação por minha causa.

Tudo vai ficar bem é o que repetia no telefone para ele ouvir, mas na verdade eu repetia mais para mim do que para ele.

— Eu te amo - eu digo — E eu sempre vou te amar.

- Eu também te amo — ele diz.

Quandi tive que desligar, foi a pior sensação do mundo, era como se eu houvesse abandonado meu irmão.

Eu me sentia péssima e confusa.

O desespero me tomava por alguns minutos mas eu pensava em Joe pra tentar me acalmar.

O que ele pensaria de tudo?

O que mamãe e papai pensaria ?

Talvez diriam pra eu me afastar e tomar cuidado, ou até pra nós fugirmos.

Eles poderiam dizer milhões de coisas.

E eu nunca vou saber exatamente o quê.

A Culpada.Onde histórias criam vida. Descubra agora