Capítulo XVII

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Nicholas on

Mesmo com um pano em sua boca, chás, ervas ou qualquer outra coisa que a fornecia, nada fazia a dor passar.

Assim que cheguei na alcateia coloquei Katherine em minha cama e usei todos os anos de conhecimento que tinha para apaziguar seu sofrimento.

Quando isso não foi suficiente fui obrigado a sequestrar a curandeira mais antiga do reino. Sim sequestrar, ela estava ocupada na hora e eu sem tempo e paciência.

Lembro claramente do som de suas palavras e tom que usara...

"Eu sinto muito supremo, mas em minha experiência pessoal é uma surpresa ela estar viva. Eu daria no máximo dois dias para a mesma nessas condições. A ferida se abre cada vez mais e a dor se estende por todo seu corpo... desse jeito ou morrerá pelo sofrimento absurdo ou pelo envenenamento. Temo que nem mesmo o lago dos lobos poderia salvá-la agora"

E eu tentei, trouxe água direto do mesmo, a levei até lá, mas nada. Nada.

Desde o momento que a trouxe hoje cedo até agora, na madrugada do dia seguinte, tudo que tem preenchido meu peito é angústia.

Droga de ligação

Nesse momento mal tinha coragem de entrar no quarto novamente. Sempre que estava lá dentro ela fazia questão de fingir estar bem, mas no segundo que saía escutava seus gritos abafados pelo pano.

Katherine sofria. Sofria muito

Louis ficou com ela por um bom tempo mas depois disso foi dormir. É notável que ele realmente está preocupado com sua Luna.

Suspiro antes de adentrar o quarto

Ver seu rosto vermelho, suado, com olheiras e exaustão destruíam cada boa emoção que poderia sequer sentir no momento.

Me assento ao seu lado na cama e seguro sua mão com força fazendo a mesma virar seus olhos amendoados para mim.

-Você...-começa tirando o pano da boca antes de pausar fazendo uma careta de dor- não- engole um seco antes de continuar- não vai parar de me encher o saco?

Solto um riso sem humor antes de encarar o fundo de seus olhos e desviar o olhar segundos depois

-Não tente Katherine-digo sentindo um bolo na garganta- sei que está com dor, sei que está a beira da morte, escuto seus gritos arranhando sua garganta, sinto a angústia em meu peito e sei que não chega nem perto da sua. E acima de tudo: sei que tudo isso é minha culpa.

Ela aperta minha mão ao mesmo tempo que solta um grito pela onda de dor que a atingira repentinamente.

-Merda!-xinga fechando os olhos com força- você me deixa mais irritada com você do que com a porra do meu ombro! -exclama antes de respirar fundo- não foi sua culpa...- diz mudando o tom irritado para um melodioso e sorriso doce- Se chama instinto lembra?

"-Você não fez por querer-digo levantando seu queixo com o indicador na intenção de força-la a me encarar- eu fui segura-la para te levar até outro lugar mais seguro, mais calmo. A maneira como o fiz foi interpretada como ameaça. Isso se chama instinto de sobrevivência, você estava fora de si
-Não precisa me explicar o que são instintos ou não Nicholas."

Sua fala faz meus olhos se encherem de lágrimas e um sentimento estranho preencher meu peito

-Você não tem de me explicar o que são instintos ou não Katherine- digo sorrindo de lado enquanto uma lágrima teimosa escorria pela minha bochecha

Ela levanta seu braço e a seca com o polegar antes de descansar sua mão em meu rosto. Não sabia que vê-la assim iria me destruir por dentro

-Eu morrendo e você chorando?-indaga com testa franzida fazendo-me revirar os olhos- que casal hein senhor Nicholas, que casal
-Minha companheira pula de um penhasco para fugir de mim, fica meio complicado né lobinha?-indago e desta vez ela quem ri

Ela ri

Eu sabia desde cedo que Katherine era louca. Ela falava coisas aleatórias no meio de uma luta séria que exigiria muita concentração para qualquer um e acima de tudo tem um riso frouxo para quem faz as piadas certas independente da hora. Não importa o momento, ela consegue rir e sorrir com o certo estímulo. Mas hoje isso cessou rápido e tudo que preencheu seu rosto no lugar do sorriso, foi um semblante triste que esmagou meu coração. Sobrancelhas juntas, testa franzida e olhos cheio d'água

-Nicholas-começa com voz embargada- dói, dói muito

Seus olhos estavam fechados enquanto afirmava e eu sentia o peso de suas palavras em me peito.

Meu coração se aperta e eu não penso duas vezes antes de puxa-la para meus braços sem me importar com mais nada. A embalo com força e segurança sentindo suas lágrimas contidas molharem minha camisa

Demorou. Demorou demais até que ela se permitisse admitir o fato de estar com uma dor assustadora. Demorou até ela se permitir chorar e se mostrar assustada. Katherine pode estar com medo, mas eu nunca estive tão apavorado em toda minha vida

Daria tudo para vê-la melhor

Subitamente consigo sentir algo em meu ombro esquerdo. Ardia, queimava como fogo, era a pior dor que já sentira em milênios de vida.

-Não, não, não -diz assim que nota o que estava acontecendo

Estávamos compartilhando a dor

A mesma se debate para parar com o processo mas isso só faz com que eu a segure mais forte do que antes.

-Eu te causei isso, vamos passar por isso juntos-digo reunindo forças para falar

A mesma estava assim há mais de 12 horas, sentindo o dobro da dor que mal consigo suportar agora.

Dividindo me sinto a beira do abismo... quem dirá se não o fizesse! Ela ainda tenta se soltar mas a seguro firme até que suas forças acabem e a mesma pousa a cabeça em meu peito praticamente desfalecida.

Sinto sua respiração ofegante e corpo mole como se já não tivesse mais motivação para continuar.

Eu não conseguia me concentrar em nada já que cada centímetro do meu corpo ardia, queimava e era dilacerado por dentro.

Toda dor que um dia sentira em torturas, perdas, batalhas não se comparavam a essa dor que sentia agora. Nada chegava nem perto.

Acabo deitando na cama devido a tonteira que abalava meu ser, mas ainda continuo com a garota em meus braços temendo que se a soltasse ela voltaria a sentir o dobro da dor que nos preenchia.

Não a deixarei passar por aquilo, não de novo, não quando posso impedir

A loba e a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora