Capítulo XXII

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Katherine on

"-Seu verdadeiro eu está debaixo do seu nariz esse tempo inteiro garota. Só... pense, reflita, não tenha medo de voltar as lembranças e acima de tudo lembre-se daquilo que sentiu, daquilo que viu e ouviu"

Aquilo que senti...

Tudo aquilo que senti no passado ou era negativo, mortes e massacres, ou era alucinações então...

Espera... alucinações...

"-Você não percebe? Desde sempre, as vozes que ouvia em crises, os toques... sentia tudo isso de maneira desgovernada porque seu poder transbordava e você não conseguia direciona-lo. Seus poderes transpassam barreias Katherine"

Isso quer dizer que a hora em que estive com
Nicholas revivendo minha memória uma das vozes que a eu do passado estava ouvindo era a da minha eu do presente?

"-Foi o dia em que desisti-digo em tom baixo- pela primeira vez em toda minha vida eu desisti. Abracei a covarde que era e desisti. Depois de lutas e lutas, guerras e guerras, eu finalmente desisti Nicholas... simplesmente era demais pra mim tudo isso
A mulher coloca as mãos sobre a cabeça e solta um grito que arranha a garganta
-Parem de falar! Parem de falar na minha cabeça!-grita enquanto balançava seu corpo para se desvencilhar de algo invisível em um ato completamente desesperado e alucinógeno"

Não foi por coincidência que a crise começou logo após eu ter terminado de falar... uma das vozes que ouvia era a minha!

Então espera, quer dizer que a mulher do sofá não é a primeira voz que eu escuto dentro de minha cabeça... entretanto quando foi com ela eu consegui ouvir tudo claramente e além de ver também. Sem contar que eu tinha total controle daquilo.

Será por que foi uma pessoa só?

Como isso me ajuda a descobrir algo sobre mim??

Tudo que obtenho são dúvidas e dúvidas e nada de respostas.

Tudo que sei até agora é que possuo um poder destrutivo muito grande, consigo entrar na mente das pessoas e consigo sentir a dor das mesmas quando estão à beira da morte ou em uma ferida profunda. Além disso consegui ouvir o último desejo da mulher do sofá antes que sua vida escapasse pelos meus dedos...

-Até parece que eu sou a própria morte-murmuro para mim mesma em tom baixo e nesse exato momento um vento fortíssimo vem em minha direção

Fecho os olhos colocando o braço na frente para tentar enxergar algo e quando os abri de novo o campo aberto e lindo em que estava se torna uma cidade poluída e suja de aspecto antigo

-O campo que você viu apenas existiu depois da morte desta cidade causada por um ataque de lobos no início do primeiro século de industrialização-afirma uma voz emitida de uma figura em forma humana que mais se assemelhava a uma sombra

A mesma não tinha rosto, era como uma silhueta em formato humano

-Quem é você?-indago me levantando em posição de defesa
-Não foi você mesma quem disse que se eu fosse um inimigo já estaria morta?-indaga a figura com ar interrogativo
-Você é poderosa-concluo sentindo a energia que a figura emanava
-Você é poderosa-diz dando ênfase na parte do você
-O que faz aqui? Quem é você?
-Eu sou ninguém e todo mundo ao mesmo tempo. Sou o tempo, o passado, o presente. Sou tudo e sou nada juntos. Sou a vilã para alguns e a salvação de outros. Eu sou você Katherine, e ao mesmo tempo não sou.
-Nós... o que nós somos?-indago desfazendo a posição defensiva e adquirindo uma interrogativa
-Nós somos algo poderoso e complexo. Durante anos fomos odiadas, tratadas como algo horrendo pela maioria. Todas nós somos uma só
-Todas nós? Existem mais de mim?
-Existiam Katherine. Fomos todas mortas, aniquiladas-confirma com ar tristonho- mas você... tem algo diferente em você. Você se tornou uma loba
-Espera, vocês não eram lobas? Como assim me tornei?
-Kate, você não nasceu uma loba. Você se tornou uma
-Me tornei??!-indago assustada
-Você é a última restante da linhagem das filhas da morte.
-Mas... minha mãe, meu pai..?
-Sua mãe era uma filha da morte. Aquele que você chamava de pai não é seu pai. Você é filha de uma das filhas da morte com aqueles que chamávamos de mensageiros lunares. Mensageiros lunares eram pessoas capazes de interpretar a lua, seus sentimentos. Seres ligados profundamente com os lobos e com os sentimentos sobrenaturais. Infelizmente a linhagem foi extinta há centenas de anos. Você nasceu filha da morte mas quando seu verdadeiro pai, o último da linhagem, morreu, a lua sofreu e transferiu o lobo dele para a única criança poderosa suficiente pra suportá-lo com a intenção de manter o mesmo vivo de algum jeito.
-Está me dizendo que minha loba foi transferida do lobo de meu pai que por sinal era uma criatura sobrenatural antiga que já não existe mais e que minha mãe era uma filha da morte que passou seus dotes para mim quando nasci?
-Estou dizendo que você é o resultado de dois seres sobrenaturais muito poderosos e algo em seu DNA a faz suportar tudo isso... nunca houve uma filha da morte tão poderosa quanto você Katherine. Você está ligada com todas suas antepassadas e também está ligada com a lua através do lobo que um dia já participou da vida de seu pai. Mas não se engane, você não é quem é graças ao seus pais e sim graças aquilo que construiu, treinou e conquistou

Minha cabeça gira, meu coração acelera e me sinto tonta. Meu pai não era meu pai, minha mãe era a filha da morte, meu verdadeiro pai um mensageiro lunar.

Eu não nasci uma loba, tenho o dom de matar pessoas apenas com um olhar e aparentemente sou uma mistura sobrenatural que deu errado.

Para completar tem vampiros atrás de mim e eu ainda não sei como controlar tudo que sinto e toda energia dentro de mim. Sou uma bomba relógio que pode explodir a qualquer momento e levar as pessoas a minha volta comigo

-Katherine, não temos muito tempo. Daqui a pouco você irá acordar e está deixando sua família preocupada a esse ponto-diz tirando minha cabeça do transe que estava antes

Família

-E-espera-digo confusa- quem são filhas da morte? O que somos? Meus poderes... o que são eles? Eu tenho tantas perguntas!
-Eu lhe farei uma única pergunta e o dia em que conseguir achar a verdadeira resposta, saberá de tudo.
-M-mas-começo porém ela me interrompe
-O que é a morte?-indaga fazendo uma interrogação aparecer em minha mente e meu cérebro começa a funcionar.
-A morte é a morte. O fim da vida
-Esse é o conceito mais básico que temos Katherine-diz balançando a cabeça em negação- e ele é falho. Inclusive há religiões que dizem que a morte é o início da verdadeira vida
-Se a morte pode ser tanto o fim quanto o começo de uma vida, acredito que não possa ser definida-respondo fazendo-a sorrir
-Ninguém consegue responder essa pergunta subitamente. É necessário tempo e isso
não se compra. Seja paciente e lembre-se de quem você é

Minha visão começa a falhar subitamente e sei que estava voltando pro mundo real

-Não!-digo vendo a figura se afastar aos
poucos- volte aqui!
-Você não está mais sozinha Kate. Descubra com sua família

A loba e a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora