Capítulo XXXV

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Katherine on

Acordar todos os dias sabendo que há alguém do meu lado é confortante e perturbador...

Eu sei que o medo de perder Nicholas pode me atrapalhar durante uma batalha e sei que isso vai afetar minhas estratégias. Isso me perturba, e muito.

Ao mesmo tempo sei que ele é uma motivação a mais para mim, um motivo pelo qual lutar e uma pessoa para quem devo retornar. E isso me conforta, muito.

Ao mesmo tempo que sei que o mesmo é um excelente supremo, não quero ser aquelas lunas que existem apenas para enfeitar o local ou para satisfazer as vontade dos companheiros. Essa não sou eu e nunca vai ser, entretanto preciso encontrar meu papel em tanta hierarquia.

Ele governa sozinho há séculos e não serei eu quem ditará as regras daqui em diante. Deixarei essa questão nas mãos do supremo, ele fará o melhor para a alcateia.

Solto o ar presente em meus pulmões e me concentro novamente em socar o saco de areia a minha frente. Essa é a primeira vez que treino depois tudo que ocorreu com os sanguessugas e a loira chata, então confesso que estava bem animada em poder chutar e socar novamente

-Kate?-escuto a voz de Nicholas vindo do fundo da sala de treino fazendo com que eu desfizesse minha posição de ataque e limpasse o suor de minha testa com o antebraço
-Bom dia-digo analisando seu porte e notando algo estranho em sua postura- o que foi?
-Como assim?-indaga coçando a nunca e eu reviro os olhos
-Não tente esconder as coisas de mim-falo entediada enquanto cruzo os braços
-Odeio como você me conhece-murmura irritado
-Fala logo-digo impaciente com sua enrolação
-Tom e Juliet foram capturados e se encontram em uma prisão de alta segurança-diz e eu sorrio de lado
-Quando poderei vê-los?-pergunto e ele bufa como se já esperasse por isso
-Kate, não me entenda mal mas acha mesmo necessário? Depois de tudo que vivemos talvez seja apenas melhor deixar para lá...
-Nicholas-começo de cenho franzindo. Eu sei muito bem que ele odeia tanto Tom e Juliet quanto eu, então porque infernos está falando tudo isso agora?- eu acho que depois de ter sido sequestrada, quase estuprada, torturada, obrigada a usar meus poderes para ir contra tudo que acredito, morrer e depois voltar a vida e sofrer dores insuportáveis, mereço ver as pessoas que fizeram isso comigo

Quando paro de enumerar de forma sintética tudo aquilo que havia passado nesses últimos dias percebo que ambos os lobos de Nicholas estavam fundidos em um só. Suas garras estavam para fora assim como suas presas e seu olhar era vago e lotado de ódio.

Sua presença era tão forte que fazia minha parte sobrenatural tremer. Meu coração estava acelerado e a adrenalina corria em minhas veias por mais que eu soubesse que meu companheiro não iria me ferir

-Estuprada?-indaga com voz assustadora que me faz engolir um seco
-Nicholas-começo branda me arrependendo amargamente por ter deixado esse pequeno detalhe escapar
-Quem?-pergunta com voz ainda mais forte se é que era possível

Fecho os olhos com aquela sensação horrível que preenchia meu peito. Eu não contei isso à pessoa que eu mais amo na vida, não contei isso para o único que esteve ao meu lado todo esse tempo... por quê? Por que eu escondi isso dele?

Sou surpreendida com um abraço super protetor de Nick. Ele me pega no colo e me ajeita em seus braços de maneira possessiva e carinhosa antes de encher meu rosto de beijos como se não soubesse como agir ou o que sentir no momento.

Ele havia sentindo minha confusão e estava disposto a largar seu desespero e ódio para me ajudar

-Desculpa-murmuro com olhar baixo
-Pelo que?-indaga me pousando no chão mas ainda se mantendo grudado a mim
-Por não ter te contado antes-falo ainda sem olhá-lo
-Amor,-começa levantando meu queixo para encara-lo- existe apenas um culpado por tudo que aconteceu com você e foi o desgraçado que tentou te machucar ok? Me perdoe por não ter notado antes-diz a última parte com olhos perdidos e desesperados- eu sinto muito mesmo por não ter estado lá para você. Infelizmente essa é uma realidade que muitas mulheres passam e que precisa ser ajustada o mais rápido possível. Não se culpe por não ter me contado isso, mas eu fico grato por saber e agora podemos trabalhar isso juntos ok?
-Eu te amo-digo com lágrimas pelo rosto enquanto o abraçava- eu pude me defender Nick, e eu me vinguei do filho da puta que tentou me machucar. Mas isso me trouxe memórias do passado, de tudo que houve com meu pai e eu...
-Querida, vai ficar tudo bem-diz beijando minha testa- vai ficar tudo bem agora viu? Eu te amo e não vou sair do seu lado nunca mais.

Contemplo o homem a minha frente antes de beija-lo com carinho sentindo-me grata por tudo que havia me dito. Grata por ele ter passado por cima de seus instintos apenas para conversar comigo, o que de fato era o que eu precisava.

Colo minha testa na dele e respiro fundo sentindo a verdadeira Katherine voltar à tona

-Podemos por favor ver aqueles desgraçados?-pergunto
-Promete se comportar?-indaga levantando uma sobrancelha passando uma mecha de meus cabelos para trás da orelha
-Prometo-digo cruzando os dedos atrás das costas
-Mentirosa-murmura balançando a cabeça em negação

Após sairmos do local encontramos Louis que rapidamente se une a nós para encontramos
Juju e Totó, vulgo gatinhos controlados por lobos. Sem querer ofender os gatos, óbvio.

-O esconderijo é secreto-diz o beta- então fiquem tranquilos quanto a traidores
-Depois da mordida que aquele vampiro levou eu duvido que hajam traidores-digo fazendo Nick coçar a nuca e Louis solta uma risada
-Digo o mesmo-confirma o beta

Nos transformamos e o lobo de Louis fica impressionado com a minha loba. Foi divertido ver Nicholas com ciúmes do próprio beta para ser bem sincera...

Após algumas horinhas de corrida chegamos em um lugar no meio do nada, passamos por um túnel, adentramos uma cachoeira, depois uma gruta, passamos por um exército de soldados e somente aí recebemos a permissão de ver os prisioneiros.

Fracamente depois de todo esse trabalho eu nunca mais volto aqui.

Juliet e seu companheiro estavam completamente imobilizados e cercados por guardas em um local especial para que eu e Nick pudéssemos vê-los.

Quando vejo Tom amarrado em uma cadeira sem o braço esquerdo eu não me contenho e solto uma risada.

-Desgraçada-rosna furioso em minha direção fazendo Nicholas o olhar com fúria
-Há algo que preciso te dizer-começo com olhos negros- a morte não é manipulável
-O-o que quer dizer?-pergunta engolindo um seco
-Você me fez ressuscitar uma garota a beira da morte e eu ainda estou viva, significa que a ausência da vida cairá sobre você ou sua amada-confesso deixando meu lado sobrenatural vir a tona sem agressividade
-Um... um de nós...?-murmura a loira claramente temendo por sua própria vida
-Não se engane Tom.-começo ignorando a oxigenada e puxando uma cadeira para sentar a frente do homem- eu te odeio mas a morte não tem nada contra ninguém. Eu entendo que o que você fez foi para salvar alguém que você ama e isso é nobre, mas a maneira como fez foi errônea e eu até posso perdoar isso um dia, mas a morte não
-Deixe-me morrer no lugar dela-pede e eu toco seu ombro para retirar sua dor física e confusão emocional.
-Eu sinto muito mas não sou eu quem controlo isso-digo me levantando- e por favor, não pense em morrer por alguém que liga apenas para o próprio nariz
-Nicholas, por favor me tire daqui-implora a loira- você sabe que eu te amo, sabe que eu me importo com você

Sua voz falsa e manhosa me causava uma náusea absurda e se não fosse Louis eu já teria voado na fuça daquela desgraçada

-Eu nunca vou te perdoar pelo que fez com minha companheira Juliet, nem pelo que fez com minha alcateia. Eu espero, e muito, que as consequências do que fizeram caia sobre você. Desta maneira Tom irá sofrer e você pagará por tudo que causou a nós-afirma frio fazendo a garota tremer na base e Tom abaixar a cabeça
-P-por favor... não me diga que nem uma vez pensou em me salvar? Ou em me ajudar...?
-Sendo sincero talvez tenha passado na minha cabeça. Mas isso foi antes de descobrir a cobra que você é-rosna- eu amo minha mulher e não vai ser uma zero à esquerda que mudará isso!

O olhar de fúria no rosto de Nick indicava que já estava na hora de partirmos. Trocamos olhares e nos direcionamos para a saída do local. Não valia a pena desperdiçar nosso tempo com isso. Já avisei ao vampiro sobre o que deveria, cumpri meu papel, não há nada mais para fazer.

-Por que?-indaga Tom fazendo-me parar- por que está sendo gentil comigo?
-Não se engane Totó, eu não sou gentil com ninguém-digo debochada me virando em sua direção- apenas tenho pena de você... a morte não é tão má quanto dizem, mas se você a provoca... colega... aí sim eu acho que posso até parecer gentil

Não digo mais anda antes de sair daquele lugar com ar de superioridade e sentindo orgulhosa de minha metade sobrenatural.

Eu aceito a morte e quando chegar minha hora de partir o farei sabendo que cumpri minha missão aqui

A loba e a morteOnde histórias criam vida. Descubra agora