Capítulo 8

404 25 2
                                    

                Passo pelos fundos sem que ninguém perceba. Meu Deus! Como essa catedral é grande. 

                Sinto que percorro um verdadeiro labirinto. Eu já não sei mais onde estou. Desço escadas, subo-as de novo, viro corredores, retorno no caminho que já fiz. Sinto apenas a luz tênue do céu cair sobre esse grande pátio coberto e com pisos de alvenaria, através de clarabóias. Estou sem saída, a ponto de chorar. E é exatamente o que faço. Desisto de correr de um lado para o outro, como uma assombração, e me sento ali mesmo, no chão, do jeito que estou. Então desabo. As lágrimas começam a cair por todos os momentos, por todas as emoções contidas, e sinto que chego a soluçar. 

                Deus me odeia...! Deus me odeia...! Deus só pode me odiar! 

                Não sei se a vontade é exatamente de chorar, ou o quê. Não sei se sinto tristeza. Também não sei se não a sinto. Tenho esperanças de encontrá-lo bem, em um carro enguiçado, quem sabe, e tão expectante quanto eu. Não sei se quero chorar, mas apenas choro. 

Estou desesperada, mas alguém me socorre. Uma mão surge do nada e me toca nos ombros. 

Deus...?! 

— Ei! Não devia estar aqui, Mel. Levanta desse chão. 

                Era um rapaz bonito, forte e elegante. Pelo terno, devia ser um convidado. Ele me pegou pelo braço. 

— Você me conhece? – pergunto fungando.
— É claro que sim, sua boba. Sou eu, Erick.
— Que Erick?
— Não se lembra? Brincamos juntos, quando pequenos. Você sempre me chamava de John. 

                Erick...? John...? 

Oh, céus! Como não lembrar?! 

                É Erick Hazel, meu primo de quarto grau. Nem eu sabia que isso era possível, ter um primo de parentesco tão distante. Como eu havia dito, isso era comum na realeza. Acontece quando a família é grande e os casamentos acontecem cedo demais. Cedo como o meu desastre. Desde pequenos eu o chamava de John. Não sei por que, mas era assim que o chamava. E para lhe ser sincera, acho que combinava mais com ele. 

— John...!
— Oi Mel. – ele sorriu. 

                Não era também exatamente quem eu esperava. Talvez eu esperasse pela Fionna, mas ele me socorreu. 

                Eu o abracei. 

— Vem comigo, vou te ajudar a voltar para a igreja.
— Não, eu não quero voltar. Eu não posso voltar. Eu tenho que ir atrás do meu marido.
— Você precisa se acalmar.
— Pare de mandar eu me acalmar! Mas que coisa! Até parece que eu estou nervosa.
— Ei, vai com calma! Só estou tentando ajudar.
— Vai me ajudar se não me tratar como os outros.
— Tá, desculpa.
— Ouça, você tem carro?
— É claro que tenho... – ele diz soltando uma risadinha, olhando para o nada.

Faço cara de tédio. 

— Ai, que mauricinho besta...! Eu mereço!
— Estressada você. Por isso que ele te largou? 

                Taco o buquê em cima dele. 

— Isso responde a sua pergunta? Claro que não, seu idiota! Deve ter acontecido alguma coisa grave.
— “Deve”...?
— É... Eu não sei. É o que quero saber. O Soren não faria isso. Tenho medo de que o pior aconteça.
— Como assim? Que tipo de pior? Acha que foi sabotagem?
— Sabotagem...?! Oh não...!
— O que foi? Fala alguma coisa, Melanie!
— Acho que cometi um erro... John, por favor, você pode me levar até a casa dele? 

Deixada no altarOnde histórias criam vida. Descubra agora