Capítulo 17 - FINAL

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                Vejo que colocou o terno, Soren. Está meio atrasado, não acha?               

                Sinto uma vontade diabólica de esfregar as mãos e soltar um risinho estridente. Chegou a hora da vingança! Dei a festa, mostrei ao mundo que continuo invicta e o peixe ainda mordeu a isca. 

                Passam mil e uma coisas na minha cabeça. O que falo? O que faço? Amacio a carne e por último humilho esse cafajeste como ele realmente merece ou o quê? Oh que vontade de parar o tempo e arquitetar uma vergonha internacional como a que ele me fez passar. 

                Olho ao redor e todos esperam o barraco acontecer. 

Calma gente, calma...! Preciso pensar na melhor forma disso se tornar épico! Só tenho uma chance. Preciso pensar bem no que vou falar. 

Dou alguns passos em sua direção e vejo que ele se encolhe um pouco. Está com medo de levar um tapa na cara, como um cão abandonado em dia de chuva. Ele tenta me encarar como um homem, mas é apenas um menino... Um menininho. E está com tanto medo que seus olhos lacrimejam. 

Ele continua a me olhar enquanto espero que algo saia de sua boca. Uma desculpa esfarrapada e canalha, como sua atitude. Será mesmo que ele não irá dizer nada? Engulo saliva e espero mais um pouco, mas ele permanece mudo, com aquele olhar que só ele tem. 

— Só espero que você não esteja pensando que eu terei pena de você. Seja homem! Tire já esse olhar de criança da cara! 

                Isso era impossível, eu sei. Ele tinha o rosto como de um bebê. Mas fazia parte do meu espetáculo. 

— Mel...
— Melanie! Pra você é Melanie. – finjo um estresse que nem era tão grande.
— Eu queria dizer que...
— Não! Você não quer dizer nada! Quem vai dizer aqui sou eu! 

                Curiosos se aproximaram como se estivesse dando doce. Ele recebeu os mesmos olhares maldosos que recebi na catedral, horas atrás. 

— Olha Soren, eu acho que você é um tremendo cara de pau e é muita cafajestagem da sua parte vir aqui depois de tudo isso. Sei lá! Podia dar um dia, talvez dois, ou uma semana de intervalo, só pra disfarçar o escândalo. Mas não... Você é tão mimado e que acha que o mundo gira ao seu redor. É claro que gira, você é a vossa majestade, o soberano cavalheiro real. Mas eu vou te dizer uma coisinha: Você é um imbecil! Um imbecilóide! Um tremendo babaca, um idiota, um otário, um sem noção, um Zé ninguém, um moleque, um menininho chorão, um idiota mirim!!! Ah! E digo mais...! 

Continuei aquela série de ofensas. Ele não moveu uma pálpebra até eu terminar de falar, de gritar, de fazer um barraco, um espetáculo, de abrir os braços e rodopiar, de gritar mais alto que o mundo, de gemer de angústia, de colocar o dedo em sua cara e levar as mãos ao peito em pura aflição, enquanto me curvo de pleno tormento e ajoelho no chão sob a chuva, como num musical da Broadway.

                É claro que nada disso aconteceu. Talvez só na minha cabeça, onde meus dramas nunca são patéticos. Na realidade eu estava apenas gesticulando e tentando jogar limpo. Talvez andando de um lado para o outro, mas sem musicais, sem choros, sem chuvas, sem alcançar notas altas da trilha sonora inaudível da minha cabeça. 

Ele tentou falar, mas eu o impedi.

 — Shiu! Nem tente falar por cima de mim, porque eu não terminei. Você acha o quê? Que pode brincar com as pessoas? Não comigo! Comigo você não pode não! Essa festa toda aqui é pra te mostrar que eu posso muito bem ser feliz sem você e sem esse conto de fada idiota de se casar com o príncipe. Eu já vi caras melhores e muito mais interessantes que você. Ah e tem mais! Eu já até ouvi cochichos sobre a sua masculinidade.
— Vai com calma, Mel.
— Não me interrompe Fionna! 

Deixada no altarOnde histórias criam vida. Descubra agora