Capítulo 12

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— E agora, Mel?
— Eu não sei John. Eu não sei.
— Vem. Eu vou te levar para casa. Chega por hoje. Seu dia já foi cheio o suficiente. 

                Ele me conduz até o carro e me põe no banco do carona. Ao entrar, ele parece me observar, enquanto escondo o rosto da minha própria vergonha. 

— Queria muito dizer para você não ficar assim, mas seria a coisa mais idiota que eu poderia dizer. Se quiser chorar, eu não irei ligar, tá? Na verdade tenho uma caixa de lenços no porta luvas.
— Mesmo? 

                Olho para ele. 

— Oh meu Deus! Eu devo estar deplorável!
— Não, não. Está apenas muito engraçada.
— Engraçada?
— É. 

                Ele termina sua frase à seco. Pensei fundo se aquilo era ou não uma tentativa de consolo. 

                John muitas vezes dizia coisas avulsamente e cabia ao outro interpretar por sua própria conta.

— Por que não tira esse véu e grinalda? Sabe, não há mais necessidade de usá-los agora.
— Não. Eu não quero tomar atitude alguma que seja precipitada.
— O que está querendo dizer? Não está pensando em voltar a...?
— Voltar a quê?
— A se casar.
— Não seja imbecil, John. Eu só quero pensar em alguma coisa. Estou entre a razão e a emoção, mas... Será que pode me levar de volta a igreja? 

                Seco as lágrimas com as costas da mão. 

— Para quê? Pode ligar para a Fionna do meu celular, se quiser.
— Não, eu não quero. Quero apenas que me leve para a igreja.
— Por quê?
— Tenho que dar satisfações aos meus convidados.
— Pensei que quisesse distância daquele ambiente.
— É o que precisa ser feito.
— Pensei que havia dito que não iria tomar atitudes precipitadas.
— Às vezes você pensa demais, John. Meu pai sempre me diz isso quando é preciso ter mais atitudes e menos raciocínio.
— Está sendo impulsiva.
— Que se dane tudo isso! Eu nunca seria uma boa princesa. Eu penso demais mesmo, e daí?! Princesas precisam de mais postura, mais voz ativa, e tudo o que eu consigo fazer é agir após pensar numa boa estratégia. Por outro lado não podem ser impulsivas, mas exímias cabeças pensantes, enquanto tudo o que consigo fazer é arruinar qualquer situação com minhas atitudes atrapalhadas. É muito equilíbrio exigido de uma pessoa desequilibrada como eu. Eu quero ser impulsiva agora. Quero agir sem pensar em consequências.
— Cuidado. Isso pode terminar em violência.
— Acredite, às vezes um soco na cara de alguém evitará o seu infarto.
— Meu Deus... Cadê você, Mel? O que fez consigo mesma?
— Ah garoto! Cala essa boca e dirige logo essa carroça. 

                Uma mudança de hábitos e comportamentos talvez fosse precisa. Normalmente sabemos para o quê queremos mudar. Mas eu não. Apenas sinto que não dava para ser a mesma. 

                Lembro da visão de ver a minha infância ir embora. Mas é como se um pedacinho dela ainda falasse bem alto dentro de mim. Talvez eu fosse muito menininha esse tempo todo. Eu meus sermões internos de autoajuda perdiam o efeito em questão de minutos. “Seja mais adulta, Mel!”. Tá, eu serei adulta. E em menos de uma hora estou agindo novamente como uma criança. 

                É hora de ter atitude. Atitude de verdade. 

                John me leva até a igreja. 

                Abre-se um caminho largo aonde o carro para. Inúmeros flashes pipocam os meus olhos. Assim que saio do carro há uma grande comoção e gritaria com o meu nome. 

— Devo chamá-la de senhora ou de senhorita?
— Senhora, devemos continuar com a sessão?
— Por favor, majestade! Por favor, apenas duas perguntinhas bem rápidas!
— Alteza?
Máh-damm! Onde esteve, mademoiselle?! 

                Entre as inúmeras vozes saltitando das vozes em coro da multidão, surge a mais familiar de todas. 

— Mel! Onde você esteve?
— Fionna!
— Mel! Onde você esteve? Eu fiquei trancada na sacristia por uma hora, fingindo para o mundo inteiro que você estava lá. Aonde esteve?
— Oh, Fionna! Você não sabe...
— É claro que sei! O que ainda não sei, sou capaz de imaginar.
— Ele está com outra!
— Quem te contou isso?! – ela se assusta.
— Eu vi! Eu estive lá! Vi com meus próprios olhos.
— E o que você fez?
— Não fiz nada. Devolvi o celular apenas. Eu fui até a casa dele e encontrei o celular esquecido. Depois o John me levou até um lugar horrendo e...
— Espera! John? Quem é John?
— É o meu primo. Erick Hazel na verdade. John! – eu o chamo. 

                Ele sai do carro e se põe ao meu lado. Percebi que eles trocaram um olhar estranho. Mas nada que pudesse fugir tanto do normal. Eu conheço os olhares da minha amiga. Não foi nada demais... Eu acho. 

— Ah... Oi.
— Olá – ela responde, voltando-se para mim imediatamente. – O que vai fazer?
— O John me perguntou a mesma coisa esse tempo todo. No caminho para cá eu pensei em dar a minha cara a tapa e fazer um imenso e formal pedido de desculpas. Mas o clima aqui está completamente diferente do que eu imaginei. Por que essas pessoas ainda estão felizes?
— Eu também não sei a resposta, Mel. Mas fiz tudo o que estava ao meu alcance para mantê-los assim. Ah! Mandei que servissem o brigadeiro, talvez até seja por isso. Espero que não se importe.
— Não! É claro que não! Fez muito bem. Alias... Isso me deu uma grande ideia! Aonde encontro um microfone aqui, Fionna?
— Espera! O que pensa que está fazendo?
— Não me impeça! Apenas responda. Aonde encontro um microfone?
— Não há microfones por aqui. Os microfones dos noivos a equipe responsável já os levou embora, há algum tempo, quando viram que não haveria mais casamento. Por aqui temos somente o do padre. Mas é apenas um microfone de lapela.
— Não tem problema. 

                Eu sorri e corri para procurar o padre. Ela franziu as sobrancelhas quase que imediatamente. Sentia que boa coisa não viria. E talvez não fosse vir mesmo. Mas era tudo uma questão de perspectiva. Do meu particular ponto do vista, era apenas o início de uma vingança em alto estilo. 

                Vocês verão!

Deixada no altarOnde histórias criam vida. Descubra agora