Capítulo 16

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                Sinto que é o auge da festa. 

                Parece haver mais pessoas agora do que no início. É como se não parasse de chegar pessoas. No golpe da maior loucura da minha vida, a cidade inteira foi tomada pela maior festa do mundo. 

                Sinto-me leve e solta. Deixo a música me levar para onde quer. Há tantas pessoas ao redor que passo despercebida, mesmo vestida de noiva. É bom ser “normal”, pelo menos por um dia. 

                Sinto que estou leve demais, solta demais. É, acho que estou um pouquinho bêbada. Às vezes rio fácil. Mas também choro fácil. É como estar na TPM. Percebo que estou sentada no chão, com o rosto molhado de lágrimas. 

                Ai que droga, Mel! Até quando você vai ficar chorando? 

                Levanto e decido que vou dançar. 

Quero dançar! Me solta! Me solta que eu quero dançar! Eu quero dançar! 

                Acho que normalmente eu sentiria vergonha de falar sozinha tão alto desse jeito, mas estou em êxtase. É como não ter emoções, mas também é como estar muito sensível e vulnerável. É como ser a pessoa mais forte do mundo, mas só por ter uma grande fraqueza particular escondida. Isso nem é estar bêbada. Isso é parte de ser Melanie Morschel! 

                Encontro uma multidão de foliões e é ali que eu me jogo. Danço como se não houvesse ossos em mim, como um ser invertebrado. Só então percebo que aquelas pessoas são na verdade acrobatas circenses. Sabe Deus de onde eles vieram, mas eles tornavam a festa ainda mais extravagante. Há pelo menos mais duas centenas de pessoas como eles ali. É como um grande circo, mas com luzes de balada, comida de banquete, música contagiante como no próprio Rock ‘n Rio e figurino como numa festa da fantasia, mas acho que criativa e original. Ninguém se veste de bicho aqui, nem de aliens. Olhe só! Tem até cosplayers! De onde saíram essas pessoas? 

                É como a festa da liberdade. É única regra é não ter regra alguma. Bom, pelo menos nenhuma que extrapole a decência. Mas até agora todos estão se divertindo, não há ninguém parado. Parece ser o momento mais animado da noite. Resolvo caminhar, quando passam por mim alguns artistas usando pernas de pau gigantescas. Eles esbarram em mim e eu deslizo para dentro da piscina, quando uma mão me segura. 

                John... 

— Até quando vou te salvar, Melanie?
— Acho que sempre. Você é mesmo o meu herói. 

                Sorrio. Ele sorri de volta. Algumas luzes de lanternas decorativas ao redor iluminavam nossos rostos com diversos tons. Bolhas de sabão se espalham pelo ar e ao nosso redor. 

— Precisa tomar cuidado.
— Eles esbarraram em mim.
— Eles nem tocaram em você Mel. Eu vi.
— Ah, foi apenas uma tontura.
— Por hoje chega então. Vem, eu vou te levar para casa.
— Não! Não faça isso! Se você me tirar daqui, eu juro que nunca mais olho na sua cara.
— Se for para o seu bem, tá valendo.
— Não John! Tira a mão de mim! Em consideração a humilhação que eu passei! Deixe-me ficar! 

                Ele me olha. 

— Por favor...
— Tá Mel... Tá... Mas sente-se um pouco. Você precisa moderar essa exuberância um pouco. Já basta a chuva de dinheiro. Sente-se e respire. 

                Ele me ampara por algum tempo até que eu retome a sanidade. 

— Por onde esteve?
— Dando uma volta. 

Deixada no altarOnde histórias criam vida. Descubra agora