Capítulo 4

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                Algum tempo se passou e eu mal pude perceber. A minha cabeça não me deixava em paz. Eu estava completamente aérea desde a visita do meu pai.

                 Finalmente haviam virado o espelho para mim. Por algum motivo não me deixaram ver até que ficasse pronta – na verdade achavam que eu ficaria mais nervosa se me visse, e acho até que eles tinham razão. Eu não suportava mais tanta ansiedade para me ver. Os fotógrafos não paravam nem um segundo com aqueles clicks das câmeras. E tudo o que eu queria ver era este meu corpo de menina encarnado nas vestes brancas de uma futura senhora de respeito e grandes responsabilidades.

                 E então eu me vi pela primeira vez, novamente.

                 Diante de mim eu via meu futuro. A garota vestida de noiva. A logo em breve princesa da Dinamarca. E quando eu me vi, quando isso aconteceu, tudo mudou. Isso mudava tudo. E acho que mudava para sempre.

                 De repente meus pensamentos perderam totalmente o sentido e me descobri infantil desde a hora em que acordei. Naquele momento eu me convenci. Era hora de esquecer esse medo e insegurança. Era hora de voltar a lembrar do meu noivo, mesmo que o conheça tão pouco, mesmo que isso envolva tantas incertezas. Era hora de voltar a ficar nervosa e expectante como passei a semana inteira. Voltar a ficar ansiosa, com um iceberg na barriga. 

Parando e pensando bem, eu não conhecia os defeitos de quem ia se casar comigo. E isso nem era tão ruim assim. Talvez eu devesse guardar comigo aquelas primeiras lembranças. O nosso beijo na árvore. Os poucos encontros. As cartas. O perfume. Os devaneios antes de dormir... Talvez eu estivesse verdadeiramente apaixonada e nem soubesse. 

Máh-damm, a senhora está pronta? 

                É, Harrys. Acho que estou mais pronta do que nunca. 

— Sim. Eu estou. 

                Eu dei o primeiro sorriso, ainda meio forçado, mas já era um começo. 

                Senti uma forte emoção ao ver o brilho reluzir dos detalhes do vestido. As tantas luzes pontiagudas refletidas pelos diamantes me diziam que eu era noiva. Não é forte essa palavra? Noiva! 

                Fionna entrou como em câmera lenta trazendo o buquê nas mãos. Meu Deus! Que vontade louca de chorar! A emoção começou a tomar conta de mim e a atrás dela a meninice me disse adeus. Vi a velha Mel se despedindo de mim usando tênis e pedalando numa bicicleta para longe. Sabe, talvez partisse com a felicidade em si. No passado vivera tantas coisas, aproveitou a cada segundo e praticamente não há do que se arrepender. Ela estava feliz por mim. Eu estava feliz por ela. E nossa felicidade, embora separada pelo tempo, tinha a vida como ponto de encontro. Seu sorriso me confortou. E ela estava em paz. 

Apesar das inúmeras confusões e pensamentos negativos me roubarem a cabeça às vezes – e eu havia sido advertida sobre isso – acho que estava no lugar certo, indo de encontro à pessoa certa, e fazendo a escolha certa. E tudo ficou como devia estar. Como sonhei a semana inteira: Perfeito. 

                Antes de me entregar o buquê Fionna parou à minha frente, olhou-me nos olhos e disse: 

— Você tem certeza disso? Tem certeza do que está fazendo? 

                Essa pergunta me veio um pouco mais tarde do que desejei, mas bem no momento certo. Das incertezas eu também tinha a dúvida. Respondê-la com um não para o meu pai não me faria mais segura. Mas respondê-la consciente poderia me fazer feliz. Para sempre? Quem se importa! Eu nunca liguei para longos prazos. Tudo o que eu sabia era que essa noite eu estaria ao lado do homem que me fez sonhar com seu rosto desde a grande notícia do casamento. Essa era a minha certeza. Era a minha primeira certeza. 

Deixada no altarOnde histórias criam vida. Descubra agora