São quase três da manhã e meu corpo está cansado.
Já tentei me sentar em todas as posições possíveis e nenhuma delas é minimamente confortável. Sinto uma inveja enorme dos fãs preparados que trouxeram banquinhos, colchonetes e cobertores.
Harry parece bem mais disposto do que eu, mas sua expressão está concentrada, como se estivesse se esforçando para não deixar o cansaço vencer. Me sinto numa prova de resistência do Big Brother, mas sem a opção de desistir.
— Essa é a primeira e última vez que eu faço uma coisa dessas — comento, esticando a coluna e sentindo meus ossos fazendo clac-clac.
— Sim! Eu não tenho mais idade pra essas aventuras — Harry diz baixinho, respeitando o sono de uma menina na nossa frente que está enrolada em um cobertor e roncando alto.
— Eu tenho essa ideia maluca de que isso aqui é meio que um ritual de passagem, sei lá — começo a falar sem pensar, porque estou morrendo de sono e nada na minha cabeça faz sentido. — Depois de tudo o que a gente conversou, acho que esse show vai servir pra finalmente me despedir da minha adolescência. Ser adulto de verdade.
— Isso não existe — Harry diz. — Todo mundo só finge que é adulto.
Eu fico em silêncio porque não sei como responder.
— Bem, pelo menos pra mim, ainda é bem complicado — ele começa a se explicar. — Eu achava que me sentiria adulto de verdade quando saísse da casa dos meus pais. Daí eu saí e continuei me sentindo perdido. Vim para Londres dividir apartamento com dois desconhecidos e quando eu finalmente consegui me estabelecer financeiramente para morar sozinho, eu pensei "agora vai!" e não foi. Todo dia aparece alguma coisa que faz com que eu me sinta uma criança, sei lá. Um chuveiro que queima, um exame que você nunca marca, declarar o imposto de renda, descobrir que você declarou errado e ter que fazer tudo de novo. Ninguém nunca me preparou para isso.
Harry diz tudo isso com um sorriso cansado no rosto, mas eu me sinto desesperado.
— Bem, isso é muito desanimador porque eu nem cheguei na etapa de sair da casa da minha mãe ainda.
— É exatamente isso que eu tô dizendo! Você não pode botar as expectativas em cima dessas conquistas. Eu acho que não existe uma chave que a gente vira e click, de repente vira adulto. Tem dias que a gente se sente mais adulto do que outros, e aí a gente só se acostuma com as coisas.
Eu confirmo com a cabeça porque, no fim das contas, Harry tem razão. Eu tenho certeza de que depois que o show passar eu vou continuar ouvindo The Sound, vou continuar lendo os livros de adolescente que eu sempre leio e assistindo tudo o que aparece na categoria "séries teen sobre amizade" na Netflix. Porque eu gosto disso. Porque me faz bem e me conecta com alguma parte de mim que eu não me sinto pronto para deixar morrer. Tenho vontade de dizer tudo isso em voz alta, mas parece dramático demais, então eu só abraço as minhas pernas e me encolho todo.
O silêncio da madrugada traz o sono e eu penso na minha cama. Penso em como amanhã eu pretendo dormir por doze horas seguidas, acordar para comer e depois dormir por mais doze horas.
Uma garoa fina começa a cair e, involuntariamente, meu queixo começa a tremer.
— Você tá com frio? — Harry pergunta e só agora eu me dou conta de que estou, de fato, congelando.
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Escrito em Algum Lugar - Larry Stylinson [CONCLUÍDA]
FanficO show mais aguardado do ano! Pelo menos para Louis, um jovem de 26 anos que não sente vergonha nenhuma em virar a madrugada na rua para conseguir comprar um ingresso para o show de retorno da sua boyband favorita. A noite está fria, os fãs são baru...