CINCO

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A minha vida estava perfeita  quando  conheci o Sam.  Estava  entrando  no  terceiro  semestre  da faculdade  e  tinha  conseguido  um  estágio  na empresa  onde  trabalho  até  hoje.  Havia  finalmente tomado  coragem  de  conversar  abertamente  com  a minha  mãe  sobre  a  minha  sexualidade  e,  ao contrário  da  tragédia  que  eu  imaginava  que aconteceria quando eu falasse "Mãe, eu sou gay", a situação  foi  supertranquila.  Ela  disse  que  eu  não estava  contando  nenhuma  novidade,  me  mandou tomar  cuidado  porque  as  pessoas  são  cruéis  e  me pediu  para  separar  o  que  tinha  de  roupa  suja  no meu quarto e colocar na máquina de lavar. Simples assim.

Eu  estava  com  a  minha  vida  acadêmica, profissional  e  familiar  em  total  equilíbrio  e,  pra completar,  o  The Sound  tinha  acabado  de  entrar  em turnê e os rumores de um show na Inglaterra estavam fortíssimos. O que poderia dar errado?

Bem, o Sam.

A  gente  se  conheceu  no  aniversário  de  uma colega da faculdade. Era esse tipo de comemoração onde todo mundo vai para um pub pequeno que não tem  estrutura  para  acomodar  o  grupo  enorme  de pessoas  que  foi  convidado  e,  no  fim  das  contas, todo  mundo  fica  em  pé  bebendo  e  conversando  na calçada.  Eu  estava  lá, o Sam estava lá,  ele demonstrou  interesse e a gente se beijou naquela noite. Trocamos  números, conversamos  por  um tempo,  saímos  algumas  vezes  e  um  dia  eu  acabei pedindo  ele  em  namoro  e  ele  aceitou.  Não  foi  um pedido memorável, mas foi importante demais para mim.

A  questão  é  que,  na  minha  cabeça,  um  cara como o Sam  nunca  olharia  para  mim,  quem  dirá me  namorar.  Sam  era  magro e alto. Eu era um pouco mais baixinho do que eu sou hoje, e já estava cansado de entrar em aplicativos de namoro e dizer "e aí, curte baixinhos?" como se ser baixo fosse um problema.

Sam estudava  cinema,  já  havia  viajado  para uns  quatrocentos  países  e  sonhava  em  mudar o mundo  com  a  sua  arte.  Eu  estudava  matemática, nunca  havia  saído  da Inglaterra  e  sonhava  em trabalhar  de  carteira  assinada  para  poder  me aposentar cedo. Nós éramos muito diferentes, mas, de  alguma  forma,  a  gente  se  completava.  Eu  me sentia bem quando estava com ele. Na maior parte do tempo.

As  nossas  diferenças  sempre  foram  uma grande piada entre nós dois e eu estaria mentindo se não  dissesse  que  havia  me  pegado  várias  vezes planejando  nosso  casamento  com  o  tema  "Os opostos se atraem".

A  coisa  foi  ficando  séria.  Nosso  namoro  foi durando dois, três, quatro meses e no quinto mês eu conheci  a  família de Sam. Seus pais e seu irmão me  acolheram  com  muito  amor  em  um jantar  na  casa  deles  e  o  jeito  como  tudo  aquilo parecia  normal  me  deixava  encantado.  Eu  sempre imaginei  que,  se  fosse  para  viver  uma  história  de amor,  ela  seria  sofrida  e  cheia  de  drama,  mas  com Sam tudo  era  simples.  Eu  vivi  experiências  que hoje percebo como são raras. Trocar receitas com a sogra  não  é  o  tipo  de  coisa  que  qualquer  homem gay pode fazer e, por um tempo, eu pude.

A primeira vez que eu me senti desconfortável com  Lucas  foi  no  dia  em que o show do TS na Inglaterra foi confirmado e divulgaram as datas para as vendas  dos  ingressos.  Gosto  musical  era  uma  das muitas  coisas  que  eu  e  Lucas  não  tínhamos  em comum.  Eu  nunca  tive  a  oportunidade  de  falar "Olha eu sou apaixonado pela boyband The Sound, sei todas as letras de trás pra frente, li mais fanfics de TS ao longo da vida do que qualquer outro tipo de literatura  e  tenho  um  blog  no  Tumblr  chamado fuckyeahshiall onde posto fotos do Shawn e do Niall diariamente  para os meus 28 seguidores".  Mas também nunca achei que esse tipo de conversa seria necessário.

Escrito em Algum Lugar - Larry Stylinson [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora