NOVE

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Se  a  abertura  do  show  for  exatamente igual à de todos os outros da Europa, eu sei que tenho mais ou menos três minutos até a banda subir ao palco. Antes de todo show, eles exibem um vídeo  emocionantes  sobre  a  trajetória  do  The Sound, mostrando  trechos  dos  primeiros  clipes,  das primeiras  entrevistas  e  de  quando  eles  ganharam um VMA de banda revelação e o Shawn tropeçou na escada na hora de ir receber o prêmio.

O vídeo começa e eu já estou correndo. Levo algum tempo para entender como a numeração das arquibancadas funciona e a gritaria se junta às luzes piscando  para  deixar  ainda  mais  difícil  a  minha missão de enxergar as placas. Vejo letras e números passando  diante  dos  meus  olhos.  B32,  C26,  D39.

Sinceramente,  quem  inventou  essa  numeração  que não faz sentido nenhum?

Ouço vozes me xingando toda vez que preciso passar  por  uma  fileira  apertada  e  dependo  da  boa vontade  das  pessoas  para  me  darem  passagem.

Tenho quase certeza que alguém jogou um copo de guaraná  na  minha  cabeça  quando  avisto  o  setor onde  Harry está.  F24!  Na  minha  cabeça,  criei esse  momento  onde  eu  chegaria  aqui  e  ele  estaria de braços abertos me esperando para um abraço. É óbvio que isso não acontece. Tudo o que eu vejo é um mar de gente, e minha cabeça está girando um pouco  porque  tem  muita  coisa  acontecendo  ao mesmo tempo.

O  vídeo  no  telão  está  quase  acabando  e  os gritos  atingem  seu  nível  máximo.  Eu  olho  para todos  os  lados  enquanto  fico  parado  no  meio  do setor,  entre  um  corredor  e  outro,  dividindo  minha atenção  entre  a  busca  por  Harry  e  o  palco iluminado, pronto para receber os maiores músicos de todos os tempos (segundo eu mesmo).

O  meu  esforço  físico  de  correr  até  ali  decide que  agora  é  um  bom  momento  para  mostrar  suas consequências  e  minhas  pernas  começam  a formigar. Minha respiração está ofegante e, na falta de  um  lugar  para  sentar,  eu  me  jogo  no  degrau  do corredor  e  espero  a  adrenalina  passar.  Me  sinto cansado,  frustrado  e  um  pouco  idiota.  Mesmo sentado  no  chão,  ainda  consigo  ver  um  pedacinho do palco. A contagem regressiva acaba e o The Sound aparece  no  meio  de  uma  cortina  de  fumaça dramática, cercados de luzes coloridas.

Bem, é nessa parte que eu choro.

Começa meio que com uma lagrimazinha só, e eu quase tento puxá-la de volta pra dentro do olho usando apenas a força da minha mente. Mas, depois de tanto tempo esperando, eu finalmente estou aqui, o show começa e não faz sentido segurar a emoção.

Eu choro e sorrio ao mesmo tempo, e percebo que essa é uma das minhas sensações favoritas. Chorar e sorrir junto. Chorrir.

— Belo casaco — ouço uma voz dizer no meu ouvido.

Eu não preciso nem olhar para saber que é ele, mas  olho  mesmo  assim.  Viro  meu  pescoço  com  a velocidade máxima que pescoços são humanamente permitidos e encontro Harry sentado do meu lado no degrau.

Ele também está chorrindo.

— Eu  não  acredito  que  te  encontrei— eu sussurro mesmo sabendo que ele não vai conseguir me ouvir no meio do barulho.

A  gente  fica  se  encarando  enquanto  a  música começa.  Eu  vejo  o  reflexo  das  luzes  do  palco  nos olhos  dele,  mas  não  ouso  desviar.  Eu  quero perguntar  por  que  ele  nunca  me  respondeu,  quero saber  se  está  tudo  bem,  quero  mostrar  a  playlist brega que eu fiz pensando em nós dois. Mas eu não faço  nada  disso.  A  gente  só  se  encara  por  muito tempo  até  começar  a ficar  bizarro  demais  e  daí  o contato  visual  meio  que  se  transforma  naquele momento  em  que  um  fica  olhando  para  a  boca  do outro. A gente se aproxima, eu sinto as respirações ficando  pesadas  e  acho  que  se  Harry realmente não  quisesse  mais  nada  comigo,  ele  não  estaria sentado no chão encarando a minha boca.

Escrito em Algum Lugar - Larry Stylinson [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora