OITO

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Harry não me respondeu. Não imediatamente, nem no mesmo dia,  nem nos três meses que se passaram entre o nosso beijo e a semana do show.

Depois do meu término com Sam,  eu  vivi  uma série  de  primeiros  encontros  que  nunca  passaram disso. Uns beijos, sexo casual e sumiço. Não estou tentando  bancar  a  vítima  porque,  em  alguns  casos, era  eu  quem  sumia.  Mas,  ainda  assim,  depois de tantas  tentativas  frustradas  de  me  relacionar  com alguém, teoricamente eu já deveria estar acostumado, certo?

Teoricamente.

Mas com Harry foi diferente. Eu senti que a gente  realmente  se  conectou.  Eu  nunca  me  abri daquele jeito com nenhum outro cara. Aquele beijo não  foi  apenas  um  beijo.  Foi  quase  que  uma promessa.  Mas  se  eu  na  verdade  estivesse  me iludindo  e  criando  expectativas  em  cima  de qualquer  coisa,  esta  não  teria  sido  a  primeira  vez.

Me iludir e criar expectativas eram basicamente as minhas especialidades na vida.

E ainda tinha o casaco dele. Aquela jaqueta verde  que  me  assombrava  dia  e  noite pendurada no meu guarda-roupa. E o pior é que eu nem pude passar noites em claro me afundando em angústia  enquanto  cheirava o casaco de Harry porque, eventualmente, minha mãe pegou a peça de roupa  no  meu  quarto  e  botou  pra  lavar.  O  cheiro dele havia ido embora.

Zayn e Liam ouviram minha história sobre a  noite  da  fila  um  milhão  de  vezes,  com  toda  a paciência  do  mundo.  Enquanto Zayn me encorajava a seguir em frente e esquecer o cara que não  teve  a  mínima  decência  de  responder  à  minha mensagem, Liam preferia  acreditar  que  aquilo tudo  era  o  destino  dizendo  que  eu  precisava  me esforçar mais um pouco para reencontrar o amor da minha vida.

É  meio  idiota  pensar  em Harry como  o amor  da  minha  vida  e,  por  mais  que  o  meu  lado racional  soubesse  que  não  preciso  de  ninguém  pra me sentir completo, eu meio que queria alguém. Eu queria  que  fosse  ele.  Todo  o  meu  discurso  de empoderamento  do  jovem  gay  solteiro  caía  por terra quando eu pensava em Harry e, numa noite solitária,  eu  criei  uma  playlist  chamada  “Doze músicas  para  lembrar de você”  e  escutei  minhas doze faixas favoritas do TS em um looping infinito até cair no sono. No dia seguinte, decidi seguir em frente  e  evitei  procurar  qualquer  coisa  sobre  a banda porque aquilo, de certa forma, me fazia meio mal.

Bem,  eu  me  esforcei  bastante.  Meu  histórico de  navegação  na  internet  ficava  cada  dia  mais humilhante  e  desesperado.  Procurei  pelo  nome  de Harry em  todos  os  fóruns  e  grupos  de  The Sound que eu conhecia. Busquei pela sua fanfic inacabada em  todas  as  plataformas  mas,  assim  como  antes, seus  textos  continuavam  desaparecidos  de  toda  a internet.  Descobri  que  existem  mais Harrys no fandom de TS do que eu imaginava. Atingi o fundo do  poço  quando  descobri  um  fã irlandês que também  se  chamava Harry e vendia  almofadas em  tamanho  real  dos  três  membros  da  banda.
Considerei  comprar  uma,  mas  o  frete  ficava  caro demais.

Quando  o  dia  do  show  finalmente  chega,  eu estou  empolgado  e  frustrado  ao  mesmo  tempo,  o que é basicamente como tenho me sentido todos os dias desde a noite da fila. Eu cogitei vender o meu ingresso  e  deixar  essa  ideia  de  show  pra  lá,  mas meus amigos me lembraram constantemente que eu já  deixei  de  ver  o  The Sound ao  vivo  uma  vez  por causa  de  homem.  Não  podia  deixar  isso  acontecer de novo.

Logo  depois  do  almoço  eu  me  arrumo  com uma  roupa  confortável  para  aguentar  o  dia.  Uma bermuda  jeans,  o  meu  “tênis  de  academia”  que  eu só  usei  por  dois  meses  até,  bem,  desistir  da academia,  e  uma  camiseta  escrito  “TEAM SHIALL” que mandei fazer na época do primeiro show e nunca tive a oportunidade de usar. Encaro o moletom verde de Harry pendurado  em  um cabide  no  meu  quarto  e,  num  ato  de  esperança  e desespero, pego o casaco e amarro na cintura.

Escrito em Algum Lugar - Larry Stylinson [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora