Queria entorpecer-me de qualquer droga
e fingir pra mim que a droga é o amor,
mas fadado a viver um amor viciante...
Nenhuma droga te socorre dela própria.
Se o amor fosse um cigarro alucinógeno
- finja por um momento que ele não é -
que apodrecesse por dentro dos pulmões
como escarnece dos corações sensíveis
os sentimentos mais sinceros e bonitos,
morreria lenta e tresloucadamente
com um apaixonado câncer pulmonar
e algum defeito grave dentro do cérebro.
-e finja que já não sofremos disso tudo-
Eu usaria todas as drogas do mundo
pra saber como é sentir amor sincero
pois não acredito no que tenho vivido.
Sequer tenho acreditado no amor de Cristo.
Nenhum de nós - e digo isso com certeza -
provamos uma vez nessa vida sequer
um amor que não seja muito parecido
com uma doença ou alucinação
ou então algo incógnito, ou morto:
O primeiro amor sincero que vivemos
nós na verdade nem escolhemos viver,
é como sofrer uma doença genética
herdada pelo pecado dos nossos pais;
O segundo, sequer sincero ele é.
Ele vem e vai diversas vezes na vida
e sempre que vem nos obriga desvairar,
e sempre que vai sentimos a abstinência;
E o terceiro somente vive nos livros:
sentimos apenas na imaginação
e nunca presenciamos ele na vida.
Nós só acreditamos, na vã esperança
que um dia o amor se torne real
e assim não viva eternamente morto
só na memória daqueles que já se foram.
Quero conhecer o remédio de amar,
pois acho que nunca conheci o amor.
Minhas paixões têm sido uma mortal droga.
E por isso tenho preferido então
todos outros alucinógenos do mundo.
As pessoas querem se anestesiar
dessa insana crueldade dessa vida,
da liquidez estúpida do sentimento
e da simetria ridícula do Homem.
Nessa extensa e pedregosa jornada
alguns vivem, alguns morrem e alguns sonham.
E enquanto nós aqui estamos sonhando
com aquilo que afirmo não existir,
diante tanto tempo perdido em vão,
as pessoas incríveis que vivem lá fora
tão simétricas e bonitas quanto prédios,
e tão cinzas, sujas, desejadas, vazias;
elas comemoram e bebem e exaltam
todos os sentimentos bons e amorosos
quais elas foram sempre privilegiadas.
Enquanto meus amigos, os desajustados,
sofrem, choram, sangram e morrem e se matam
e exaltam numa comemoração fúnebre
tudo o que nunca existiu para nós.
E que estrelas; que Deus; que Deusa é isso!
Esse mundo completamente putrefato
transbordado de belezas inigualáveis.
Como eu queria conhecer este amor!
Queria eu ser um verdadeiro amante.
Porque o mundo todo diz ser abundante
e enquanto no meu, tão somente há dor.
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O Mundo dos Suicidas
Poesia"O Mundo dos Suicidas" é uma obra poética que tem como principal objetivo a reflexão acerca do tema 'contemporaneidade', de pontos de vista sociais, políticos, religiosos e filosóficos. Dividido em 10 partes independentes entre si, a obra pode ser l...