Se essa juventude tivesse um nome
gostaria que não fosse o mesmo que o meu,
pois as letras fluiriam no sal das lágrimas.
A juventude é livre e é poligâmica
E eu nunca soube livrar-me dos grilhões,
mesmo que nunca estivesse preso de fato.
Sem dúvidas nasci na juventude errada
e dividi o cordão com os jovens errados
e os jovens são livres! De forma equívoca:
A liberdade é o maior dos seus grilhões.
Possibilidade tentadora é andar
em encruzilhadas cinzas, e em cinzas,
das ruas tortas e fétidas de São Paulo.
A liberdade de ser pobre desgraçado
pichou os muros feios da Arte mais feia.
- Viva aos incríveis pobres e desgraçados!
A pureza do fruto podre de Brasília.
Nada está mais preso ao que lhe foi imposto.
Os pobres, os negros, os homossexuais
querem livrar-se do mundo, e tanto quanto
o coração livrou-se do amor obsoleto.
Só que esse mundo ainda é esse mundo,
e o amor que existe, jamais envelheceu.
Por isso os jovens, e os demais libertos,
estão mais tristes do que nunca estiveram.
Porque quando o Homem pensa ele chora.
Pensa quando deixa de sentir coração.
Quando bate em vão, quando não se apaixona;
se não há o que sentir, há o que raciocinar.
Boa deve ser a vida de quem não pensa!
Porque aquele que pensa, sempre enlouquece.
Essa juventude não é somente livre,
poligâmica e pobre e desgraçada,
jovens são completamente loucos e tristes.
Essa loucura e a profunda tristeza
e o coração idiota e solitário
já se tornaram, sem dúvidas, mal do século.
Temos pesadelos sobre estarmos sozinhos;
e se solitário ninguém vive jamais
nessa juventude cinza e em cinzas:
'não amar é sofrer; amar é sofrer mais.'
E se engana quem pensa amar a si próprio
na correnteza e na fluidez moderna.
Mas cuida-te e preserva-te assim mesmo.
Mas não deixa de sentir, não deixa de amar,
não deixa de sorrir com o outro, Amor;
não deixe de autoamar em outro lugar.
O mundo tem se tornado escuro, soturno.
Muito graças ao Deus das pessoas – "Amém!"
Os meus amigos todos já se suicidaram
e chamam meu nome nos meus melhores sonhos.
Disseram-me que lá não existem pecados,
que a grama ainda é verde e o céu é azul,
que corações são vermelhos ainda vivos
e mesmo mortos eles ainda me chamam.
Disseram-me que lá Deus ainda existe.
O amor existe, as pessoas amam.
E eu sei que agora eles estão livres.
E eu nunca soube livrar-me dos grilhões,
mesmo que nunca estivesse preso de fato.
Ainda vivo limitado ao corpo fraco
e sujeito à falta de amor que é viver:
Eu denominaria de inferno na Terra,
(e depois atiraria contra o meu crânio)
Mas eles chamam isso de modernidade...
Viver e ser jovem num mundo envelhecido
é o paradoxo dessa maturidade
que nos trouxe riquezas, trouxe o dinheiro,
trouxe festas, drogas, diversas outras coisas...
e levou embora toda a humanidade.
E eu sequer pedi antes nascer assim
e ser um jovem frustrado e descartável.
Se tivesse coragem de ir, ai de mim!
Seria mais amado, eu seria amável.
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O Mundo dos Suicidas
Puisi"O Mundo dos Suicidas" é uma obra poética que tem como principal objetivo a reflexão acerca do tema 'contemporaneidade', de pontos de vista sociais, políticos, religiosos e filosóficos. Dividido em 10 partes independentes entre si, a obra pode ser l...