Essas feridas não parecem curar, essa dor é real demais
Há muitas coisas que o tempo não pode apagarMy Immortal - Evanescence
Respiro fundo. Uma, duas, três vezes.
Não sei por onde começar, mas a expressão apreensiva de Daniel demonstra que eu preciso descobrir logo.
Bato a mão ao meu lado na cama, e Daniel se senta no lugar indicado. Não conseguiria olhar nos olhos dele.
Meu lábio treme quando puxo o ar, e as lágrimas caem em meu colo quando me afundo um pouco mais na cabeceira da cama e puxo os joelhos de encontro ao meu peito, abraçando-os. Fecho os olhos, recordando, sentindo toda a dor que tentei curar durante todo esse tempo rasgando o meu peito, parecendo tão recente e real como nunca.- Convivi com o meu pai por pouco tempo, mais exatamente até quando a minha mãe engravidou da Isabela. Ele foi embora de casa e eu nunca mais o vi depois disso. Quando eu tinha 19 anos a minha mãe faleceu e a minha avó morreu nos meses sequintes, de modo que eu me tornei a mãe da Isabela, que ainda era muito pequena. Até aquele momento, nunca havia sentido uma dor tão grande. - sinto minha voz mais fraca do que eu gostaria, mas o simples esforço para falar arranha minha garganta - Eu tinha 19 anos. Apenas 19. Não foi fácil para mim receber uma responsabilidade tão grande como cuidar de Isabela, e eu precisava de uma vida estável para oferecer o conforto de que ela precisava. Tive que me recuperar rápido, trabalhar e estudar ao mesmo tempo para não largar a faculdade de publicidade. Passei por poucas e boas para conseguir dar uma vida razoável para Isabela e pagar alguém para cuidar dela enquanto eu estava fora. - minha voz treme ao me lembrar do quanto sofri para terminar de criar Isabela, mas me orgulho de cada gota de suor derramada em meu antigo emprego como garçonete e no trajeto dos três ônibus lotados que eu tinha que pegar para chegar à faculdade depois do trabalho - Eu me formei, e cresci rápido. Comecei a trabalhar na revista, incansavelmente, sendo promovida diversas vezes até chegar ao meu emprego dos sonhos: diretora de redação. Comecei a ganhar bem e a consegui dar para Isabela a vida que sempre quis dar a ela, e esse é meu maior orgulho hoje em dia. Eu consegui, mesmo ainda sofrendo pelas duas perdas que tinha tido. - murmuro, parando um pouco para respirar.
- A maioria das pessoas em seu lugar teria desistido fácil, Luna. Você é uma guerreira. - ouço a voz de Daniel, e não posso conter os soluços que me escapam juntos com as palavras.
Fecho meus olhos com força, colocando minhas mãos sobre eles.
- Mas essa não foi nem metade da minha dor. Se eu soubesse o que me aguardava, todo o sofrimento, não sei se teria tido forças para seguir em frente...
Paro novamente, chorando compulsivamente.
Vejo de relance Daniel estender as mãos várias vezes para me tocar, mas parando no meio do caminho, em dúvida. Agradeço mentalmente à ele, porque ainda tenho muito para dizer e o toque dele me desestabilizaria ainda mais.Afasto as mãos dos olhos, as sentindo tremer, mas não tento fazê-las pararem quietas novamente. Já percebi que é inútil tentar.
As lágrimas ainda rolam quando tomo forças para continuar, com a voz ainda mais fraca do que antes.
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Ainda Temos Uma Segunda Chance - LIVRO 1 - Duologia Em Busca Da Felicidade
Chick-LitLuna Dawson foi mais uma vítima do destino. Ela viu o sonho de ser mãe ser arrancado de suas mãos da forma mais cruel possível. Sufocada entre suas dores e perdas, agora Luna acredita que sua vida se resume a sua irmã mais nova, Isabela, e seu traba...